(Só um pouquinho de) Drama Mexicano

4x Lewis Hamilton
27/10/2017
One
31/10/2017

Pronto. História escrita. Mais um campeão, numa confirmação de título que era meramente uma formalidade matemática. Lewis Hamilton entra para o rol dos tetracampeões, em uma corrida na qual os protagonistas do título tiveram que remar desde o fundo do pelotão, uma fuga e tanto do script.

Já que se trata de México, era necessário colocar um pouquinho de drama no destino dos protagonistas, tal como nas novelas da tarde do SBT…

Foram necessários apenas 30s de corrida pra sabermos quem ia ganhar. Assim que Sebastian Vettel danificou sua asa dianteira no pneu traseiro de Hamilton (de maneira não proposital, é bom que se afirme), era cristalino como água que Max Verstappen ia sobrar.

Quem eram seus perseguidores? Valtteri Bottas, que há pelo menos umas quatro ou cinco corridas ligou o “Modo Patrese”, longe de qualquer lampejo de combatividade. Tomou quase 20s do vencedor. Outro na mesma linha, Kimi Räikkönen, que fechou o pódio, se atrasou um pouco na largada, e teve algum trabalho para se livrar das Force India, novamente com bom desempenho.

Vettel fez o que pôde para minimizar o prejuízo da largada, e não se pode dizer que ele não tenha tentado escalar o pelotão. O mesmo para Hamilton. Faz-se necessário destacar o belo e olímpico gesto de Vettel de pagar tributos ao rival ainda na volta de desaceleração, o que continuou nas entrevistas: “Lewis é um campeão merecido”.

Com o bom 6º lugar no México, Lance Stroll ultrapassou Felipe Massa na pontuação: 40 a 36. Acho que não preciso tecer comentários a respeito.

Nico Hülkenberg foi uma das vítimas do motor Renault, que em sua última atualização está tão potente quando frágil – sorte de Verstappen sua unidade ter agüentado até o fim.

Hulk chegou a andar em quarto, com alguma possibilidade concreta de bom resultado, andando no ritmo das Force India. Mas é azarado demais pra ficar entre os primeiros. O alemão continua a engrossar seu recorde: é o piloto com mais largadas a nunca ter subido ao pódio. Pra piorar, vê o recém-chegado Carlos Sainz a desafiá-lo como o mais veloz do time.

Ano passado a crônica do GP do México também foi minha. E repito: “Podem me chamar de saudosista, ridículo, xarope, ranheta, rabugento, inadequado. Mas Hermanos Rodríguez sem Curva Peraltada e sem ondulações quebra-costela definitivamente não é a mesma coisa. O trecho do Estádio é legal pra caramba, mas trocaria pela velha curva inclinada todas as vezes que me perguntassem”.

Capisce?

Hamilton declarou nesta segunda-feira que este seu quarto título foi “o mais difícil”. Este ano, ele teve um Riccardo Patrese II como companheiro, e só disparou nos pontos porque a Ferrari auto-implodiu.

Será que são os outros que precisam lembrá-lo o perrengue que foi 2008, ganhando nos últimos 30s da última corrida? Ou que em seus dois títulos anteriores ele teve um companheiro forte para disputar a taça, o mesmo que o derrotaria na temporada anterior?

Essa demagogia se combina com aquela frasezinha manjada para o público mexicano, chamando-os de best fans. Onde são os best fans, Lewis? Quando você está em Silverstone, são os ingleses; quando em Interlagos, são os Brasileiros. O que você ganha fazendo isso, cara?

Você é tetracampeão, Lewis. Pense antes de falar.

A ânsia, por parte da mídia, em querer determinar o papel de Lewis Hamilton na história da F1 me incomoda pra caramba, a ponto de me irritar. Sim, o cara já tem números incríveis, mas pra quê tanta pressa? Ele tem ainda lenha pra queimar, pode tanto aumentar esses números como pode só fazer bobagem daqui em diante. Deixa o cara encerrar a carreira pra gente poder fazer uma análise mais profunda, combinado?

Esta temporada em muito está lembrando a 1985. A Lewis, claro, cabe o papel de Alain Prost, aquele que foi amargamente derrotado pelo companheiro de equipe no ano anterior e que teve na maior parte do ano o melhor carro, fazendo bom uso dele, a coletar pontos e vitórias para se construir um título mundial. Vettel fez o papel do saudoso Michele Alboreto, que chegou a liderar aquele campeonato para a Ferrari, mas que sucumbiu justamente no fim do campeonato, com uma sequência absolutamente vexatória de abandonos.

A campanha de Max Verstappen cada vez mais se assemelha à de Ayrton Senna em seu primeiro ano de Lotus, alternando pilotagens supremas com abandonos na maior parte do tempo causada pelo equipamento, tudo temperado a vários episódios de pilotagem inflexível, e de um talento transbordante de quem se tem certeza de um futuro título mundial com o carro certo. Faltou uma exibição de gala na chuva, mas esta o jovem holandês já realizou ano passado em Interlagos, com direito a uma salvada na entrada dos boxes que quase desafia as leis da física.

https://youtu.be/XZBomEsUtWM

Daniel Ricciardo é um misto de Elio de Angelis com Keke Rosberg. Tem sido um grande pontuador, com a consistência que seu companheiro de equipe não conseguiu ter – o que era um ponto forte deste outro saudoso italiano – ao mesmo tempo que tem se saído muito bem em circuitos de rua, uma das maiores especialidades do pai do Nico.

Fernando Alonso muito bem pode ser o Nelson Piquet de 85, um grande campeão que agora se via com um equipamento inferiorizado – um pelo pneu Pirelli, que era bem inferior ao Goodyear; e outro, óbvio, pelo motorzeco da Honda, um problema ainda pior. Mas ambos mostraram a velha classe de campeão, em momentos de brilho e versatilidade.

Os finlandeses Valtteri Bottas e Kimi Räikkönen… bem, escolha qualquer pilotinho burocrático da época, a pilotagem de ambos está absolutamente sem viço. Ambos empolgam tanto quanto um Patrick Tambay ou Martin Brundle da vida.

Daí, claro, a gente torce: se este ano foi um pouco parecido com 1985, bem que ano que vem poderia ser parecido com 1986, que já descrevi anos atrás como a melhor temporada de todos os tempos.

O jeito Liberty Media de administrar a Fórmula 1 tem me agradado no sentido de engrandecer os elementos de entretenimento das corridas, como na apresentação dos pilotos pelo ring anouncer Michael Buffer em Austin, que foi incrível.

Levar figuras midiáticas como Usain Bolt para o esporte também é inteligente, mas o que mais me agrada é amplo uso da internet e das redes sociais – algo que o Tio Bernie jamais entendeu em sua plenitude.

Agora os fãs têm, sobretudo via Youtube e Facebook, cenas exclusivas, onboards, entrevistas, conversas por rádio, e o cada vez mais saudável compacto da corrida.

Mas o que mais me surpreendeu foi o vídeo dos 20 anos do título de Jacques Villeneuve em 1997, seu único e último da Williams. Ele conta detalhes da eletrizante final em Jerez, e o duelo no qual derrotou ninguém menos que Michael Schumacher.

O clima de “a temporada já acabou” certamente não deve fazer parte dos nossos pensamentos. Isso porque os desempenhos de Mercedes, Ferrari, e agora Red Bull, estão mais parelhos do que nunca. A batalha que acabou não acontecendo no México pode muito bem acontecer em Interlagos, daqui duas semanas.

Com esse texto, encerro minhas participações neste ano nas crônicas de corrida do GPTo. Mas continuo nas próximas oportunidades com a saga das Wing Wars. Paramos na metade de 1979, ainda há muito o que explicar até o fim de 1982…

Abração!

Lucas Giavoni

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

2 Comments

  1. Fernando Eduardo Macedo Marques disse:

    Lucas,

    o campeonato acabou no México e Hamilton faturou o tetra … mais um ano de domínio da Mercerdes mesmo com os rivais Ferrari e RBR diminuindo a diferença que havia entre eles nos anos anteriores …
    Só que penso que a Ferrari, apesar do berro de seus carros na parte final do campeonato, fez um grande trabalho, e se não fosse as burradas do Vettel, com certeza estaria levando a decisão do campeonato para Abu Dabi. A Ferrari voltou a ser protagonista pena que Vettel não esteve no mesmo nível.
    Esta temporada pro Massa deve estar sendo terrível. Ele começou a temporada como o número 1 da Willians e termina como o número 2. É melhor se aposentar de vez e se divertir na Formula E como parece ser o seu intuito. Ter ou não ter um brasileiro desta forma na Formula 1 para torcer dá na mesma coisa, ou seja em nada.
    Quanto ao Bottas, acho que ele fez bem o seu trabalho na Mercedes. A prova dos nove é no ano que vem. Será a melhor oportunidade na sua carreira para tentar conquistar seu primeiro título na Formula 1 e possivelmente o ultimo.
    O Max Verstapen vem se destacando nesta reta final de campeonato, mas de longe ele chega perto da temporada que D. Ricciardo fez na RBR nesta temporada.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. MarcioD disse:

    Bela vitória de Max com corrida de recuperação de Vettel, mas que não foi suficiente para impedir o tetra de Lewis.
    Hamilton agindo de forma bem diferente de Rosberg ano passado partiu para cima de Max e Vettel na 1a volta com a faca nos dentes em busca da vitória, atitude de um verdadeiro campeão. Infelizmente o toque impediu a luta dos 3 pela vitória facilitando a vida de Max.
    Já está passando da hora de se diminuir o difusor traseiro possibilitando por tabela a diminuição deste limpa trilhos horroroso e gigantesco que há na frente dos carros que quebra e fura pneus à toa atrapalhando muito as disputas por posição.
    Foi um excelente campeonato de Lewis com direito a uma virada a partir da 14a etapa. Pelas provas iniciais via se um certo favoritismo de Vettel, tendo até mesmo o colunista Márcio Madeira publicado um artigo com o título “Penta de campeão”. Algumas vezes comentei aqui que num campeonato tão parelho tudo seria decidido através de acidentes e ou quebras, o que acabou de fato ocorrendo.
    Com 4 títulos, quebra de recorde de poles de Schumacher, inclusive alcançado com um número menor de provas e com respeitáveis 30% de vitórias na carreira Hamilton escreve definitivamente seu nome seu nome entre os grandes. Das 18 provas disputadas até o momento fez a pole em 11 contra 4 de Vettel e venceu 9 contra 4 ou seja um teve um grande domínio.
    Além do mais em termos de Marketing para a categoria é bem mais interessante termos um confronto em 2018 de 2 tetracampeões, o que nunca ocorreu antes.
    Acho que estava sendo preparada uma festa para comemorar os 70 anos da Ferrari com um título e Lewis acabou estragando tudo.

    E por falar em Ferrari muito interessantes as recentes declarações de Bernie, que perdendo o comando da categoria e chegando aos 87, decidiu revelar a sua “torcida” e a de Mosley pela Ferrari.

    Marcio

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