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Tudo sobre o ótimo GP da Alemanha de 2014, uma corrida marcada pela superioridade dos alemães - mais uma vez.

Hockenheim, mais que Spa-Francorchamps, era minha pista favorita. Sempre achei formidável ver os carros passando na floresta, e a imprevisibilidade das chuvas localizadas me fascinava. Os GPs de 1993 e 2000 estão entre meus prediletos de todos os tempos, provavelmente impulsionados pelos grandes desempenhos de recuperação de Senna e Barrichello.

Quando, em 2002, um amigo me apresentou o guia da temporada e vimos o novo mapa do circuito, foi simplesmente inacreditável. Aquele “atalho” no meio da pista destruiu o espírito de Hockenheim e fez daquela que era uma das melhores corridas todos os anos uma das mais sonolentas.

Desde então, foram oito edições, uma mais chata que a outra. Dessa vez foi diferente: se não foi a melhor corrida da temporada, foi a melhor prova disputada no “Novo” Hockenheim.

Antes de comentar a prova, gostaria de falar sobre a limitação treinos ao vivo na tv aberta.

Já vínhamos antecipando anteriormente (aqui e aqui) como a opção pela audiência é primordial em qualquer tipo de programação. O espaço muito reduzido e pouco aproveitado na cobertura jornalística já dá uma ideia de como a Fórmula 1 NÃO É PRIORIDADE para a emissora oficial.

No entanto, quando isso acontecia com jogos da seleção brasileira, liga mundial de vôlei ou mesmo campeonato brasileiro, a gente até podia entender: vivemos numa “monocultura esportiva”, e esportes são bons se (e somente se) brasileiros vencem. Porém, quando vemos uma troca entre os tradicionais treinos de classificação e a TV Globinho, a situação começa a ficar alarmante.

As perspectivas do futuro de Felipe Massa só indicam que teremos cada vez menos acesso à F1 no Brasil.

E foi justamente nos treinos que a prova começou a ser decidida: o acidente de Hamilton aconteceu no Q1 (não transmitido ao vivo, e depois reprisado à exaustão), eliminando as chances de disputa pela pole. Nas sessões livres, eles dividiram a ponta: no P1 e no P3 deu Nico, na P2, Hamilton.

Nico foi bastante realista ao comentar a batida de Hamilton: “ele virá forte, usará uma estratégia bastante agressiva, e certamente chegará à ponta“. Lewis fez uma corrida sensacional, de fato, buscando ultrapassagens arriscadas que poderiam ter levado a um abandono, mas foi exatamente o que todo mundo queria ver.

Agora, Rosberg volta a ter boa vantagem diante de Hamilton (são 14 pontos), e já não pode mais ser visto como aquele piloto que só seria campeão se fosse beneficiado pelo regulamento: foi a quarta vitória do alemão (Hamilton tem 5), somada a 5 segundos lugares.

Citar Galvão Bueno  positivamente é raro, mas dessa vez necessário: “Hamilton é superdotado em talento, mas superdotado em impaciência“. Rosberg tem vencido a disputa porque é mais frio, e sabe aproveitar os erros do adversário, muito mais passional.

Qualquer semelhança com a final Alemanha X Argentina não é mera coincidência.

Rosberg venceu de ponta a ponta, não sendo ameaçado em nenhum momento. Atrás dele, a história foi bem diferente.

Quando vi a largada, com a tomada aérea, meu primeiro pensamento foi o de que a culpa do choque era de Kevin Magnussen. Ao ver o acidente por todos os ângulos, porém, ficou claro ser uma batida normal, “de corrida”. Como disse Barrichello na transmissão, tanto Massa quanto Magnussen tiveram seus campos de visão prejudicados por Bottas, mais bem posicionado que ambos.

No final da reta antecedendo a curva, o dinamarquês parece estar um pouco à frente de Felipe, que tangencia melhor e toma-lhe a ponta, e aí vem a batida. Em resumo, “No further action“.

httpv://youtu.be/Ob8V0cDjZS8

Se por um lado não se pode apontar erros de Massa na largada, por outro liga-se o sinal amarelo para o brasileiro: com a segunda posição de Bottas, a diferença de pontos agora é de 61 tentos a favor do finlandês, e também nos treinos já é o nórdico quem toma a frente: 6 a 4.

A diferença de idade seguramente favorece o companheiro de equipe para a sequência das próximas temporadas. Mais que isso, o finlandês é mais consistente em ritmo de prova – desde sempre – e em termos de velocidade, também.

O mais prejudicado acabou sendo Daniel Ricciardo, que largava em quinto e caiu para décimo-segundo ao evitar envolver-se no imbróglio Massa/Magnussen.

Uma pena, pois Ricciardo vem fazendo uma grande temporada, superando o companheiro tetracampeão consistentemente: os treinos do GP alemão viram o australiano superar Vettel pela sétima vez em 10 classificações!

Ricciardo ainda conseguiu uma sexta colocação, apenas duas atrás de Vettel, mantendo boa distância na tabela de pontos e a terceira colocação no mundial.

Até aqui, Daniel é o piloto do ano na minha opinião.

Sensacional a briga de Ricciardo com Alonso nos momentos finais da prova. Os 0″082 de diferença fizeram justiça à disputa.

Antes da prova, Alonso antecipou que quando a temperatura está mais baixa é onde a Ferrari rende melhor. O espanhol afirmou que não é possível brigar com as Mercedes nem as Williams, mas que a Red Bull são “batíveis”. É o que se viu.

Pra vocês, o que acontece com Vettel? Falta de motivação por, depois de 4 anos e meio com o melhor carro, dispor do terceiro melhor equipamento? Ricciardo é tão bom quanto/melhor que o alemão? Mera dificuldade de adaptação ao carro/regulamento, e o australiano casou melhor com o carro?

Uma curiosidade apontada pelo amigo Mário Salustiano: em 1954, a Alemanha levantou a Copa do Mundo pela primeira vez, e na Fórmula 1 o campeão foi Juan Manuel Fangio, pilotando uma Mercedes-Benz. Nesse ano, ganhe Hamilton ou Rosberg, o campeão mundial guia uma Mercedes. Se for Rosberg, haverá uma trinca piloto-equipe-seleção como campeões mundiais.

Na última terça-feira, causou polêmica a celebração dos jogadores alemães: eles entoaram uma canção que diz “Os gauchos andam assim (curvados para baixo, cabisbaixos); os alemães andam assim (cabeça erguida, eretos)“.

httpv://youtu.be/AZvDaW5bJus

No pódio do GP da Alemanha, só deu Mercedes-Benz. Gostemos ou não, os alemães têm muitos motivos para estarem sempre de cabeça erguida.

Boa semana a todos.

*Como um triste PS, a morte de James Garner, ator do melhor filme de automobilismo já feito. RIP!

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

10 Comments

  1. Ronaldo de Melo disse:

    O Massa pode ser lento, azarado, o que for. Mas por que pensaria em se aposentar? Não tem um cotnrato? Não ganha rios de dinheiro pra fazer o que faz? Tem certa idade? São apenas 33 anos! Se ele não foi embora ainda é porque tem algum valor.

    Não entendo esses caras que dizem gostar do esporte, mas seus comentários se resumem em detonar, primeiro a categoria, segundo o piloto brasileiro. A Nascar está cheia de acidentes e ultrapassagens e na Indy temos brasileiros vencedores. Por que não mudar o foco para o positivo? Reclamar é mais satisfatório? Gostaria de entender.

    • Fernando Marques disse:

      Ronaldo,

      eu torço muito pelo Massa, mas ao ver ele batendo de novo quase nem quis mais acompanhar a corrida, pois gosto de torcer por ele … afinal de contas ele é brasileiro … acontece que em termos de pilotagem o Felipe Massa vem deixando a desejar desde pós Hungria 2009 … adoraria ver ele ganhando corridas novamente … só que do jeito que ele vem guiando acho complicado esta hipótese acontecer …
      Com relação a Formula 1, não sei a sua idade, mas se viu ou pudesse ter visto a Formula 1 nos anos 70 e 80, certamente você pensaria como eu. Antigamente era bem melhor de se ver

      Fernando Marques
      Niterói RJ

      • Mauro Santana disse:

        Faço minhas as palavras do Fernando, e só gostaria de acrescentar uma coisa, o acidente do Massa na Hungria foi em 2009, ou seja, vão fazer 5 anos que isso aconteceu.

        E o que ele conquistou depois disso!?

        Somente alguns pódios.

        Chance igual a esta que ele esta tendo na Williams provavelmente não ira acontecer novamente, como foi com o Barrichello na Brawn.

        E por tudo o que o Massa fez na F1, não acho justo ele terminar sua carreira numa equipe pequena, ou sendo dispensado por uma Williams.

        Por isso falo dele se aposentar e sair de cabeça erguida.

        Mauro Santana
        Curitiba-PR

        • Ronaldo de Melo disse:

          Meus caros, é justamente sobre isso que estou falando. Vi a fórmula 1 a partir de 1981, e alguns conceitos professados por aqui e em outros lugares são não apenas fantasiosos, mas mentirosos. Qualquer moleque de 15 anos vai falar que “antigamente” a F1 era melhor, pois o que ele viu no Youtube prova isso. Esse é o argumento dos fracos, apoiar-se em um passado que não se pode sequer provar que realmente existiu. Falar do presente sem compará-lo com a falácia que a nostalgia cria é o desafio. Poucos passam.
          O ponto principal do meu argumento foi largamente provado por vocês: Eu não assisto F1 pelo Massa, mas pelo esporte. Gosto de torcer pelo brasileiro? Claro! E sou desprendido o suficiente para admirar sua tocada na classificação, e principalmente suas largadas espetaculares. Mas o positivo que desejo focar não é o que o piloto profissional Felipe Massa tem para oferecer; que tal comentar a performance de Hamilton? Poderia ou não ter chegado em melhores condições em Bottas? O finlandês, é realmente uma promessa ou um brilhareco?
          Se tem um cara de trinta anos que rende mais no seu trabalho que você, você vai se aposentar, sendo ainda produtivo e apaixonado pelo que faz?
          Se não tiver brasileiro na F1 sou capaz de apostar que inclusive os senhores vão deixar o esporte. Vocês são os primeiros a criticar os pachecos, mas o assunto é sempre o mesmo! Para vocês também é imperativo que haja brasileiros na F1, ganhando ou perdendo.

  2. Ronaldo de Melo disse:

    O Massa pode ser lento, azarado, o que for. Mas por que pensaria em se aposentar? Não tem um cotnrato? Não ganha rios de dinheiro pra fazer o que faz? Tem certa idade? São apenas 33 anos! Se ele não foi embora ainda é porque tem algum valor.

    Não entendo esses caras que dizem gostar do esporte, mas seus comentários se resumem em detonar, primeiro a categoria, segundo o piloto brasileiro. A Nascar está cheia de acidentes e ultrapassagens e na Indy temos brasileiros vencedores. Por que não mudar o foco para o positivo?

  3. Rafael Carvalho disse:

    Achei estranho a FIA não liberar o safety-car para a retirada da Sauber. O carro ficou em posição muito perigosa, sem contar que os fiscais estavam um pouco perdidos sem saber muito o que fazer. A FIA/Bernie Eclestone influenciaram no resultado da corrida, pois se o carro de segurança tivesse entrado o resultado seria outro. Como a corrida era na Alemanha e tinha um piloto/equipe alemã liderando a corrida, era interessante para FIA/Eclestone não interferir no resultado. Quanto ao Massa, acho que dessa vez ele não teve culpa pelo novo acidente! Talvez o Magnussen poderia ter evitado a batida! Por exemplo: Gutierrez foi punido por um acidente com o Maldonado. O acidente em si foi igualzinho a este logo na largada na Alemanha! Acho que falta critérios aos comissários! O Gp alemão foi o melhor desta nova de Hockenheim!

  4. Fernando Marques disse:

    Concordo plenamente com Mario e ainda acrescento … 5 batidas na temporada sendo 3 logo na primeira volta … sei lá … tem alguma coisa errada aí com o Massa … isso não é normal e nem o Grosjean conseguiu bater tanto assim …


    Com relação a briga pelo titulo entre Rosberg e Hamilton continuo achando que as quebras de seus carros irão decidir pra quem vai o caneco. Neste fim de semana quem se deu bem foi o Rosberg por causa da batida do Hamilton no Q-1 … era tudo que ele queria … e na corrida Rosberg fez o dever de casa direitinho pois largando na pole, ao contrário seria vergonhoso ver seu companheiro largar em 20º lugar, e chegar na sua frente.


    Não acho que o Vettel esteja desmotivado. Aquele racha com Alonso em Silverstone é prova disso. O problema da RBR se chama Renault.


    Fernando Marques
    Niterói RJ

  5. Mauro Santana disse:

    Vamos por partes:

    GP na Alemanha e em Hockenheim de verdade, somente no circuito antigo, pois isso aí não é mais Hockenheim.

    Na boa, não estou desmerecendo o Massa, mas acho que ele deve pensar de maneira séria na sua aposentadoria:

    Primeiro – Ele já esta com uma certa idade, tem esposa e filho e sabemos que ele não irá correr mais certos riscos que um piloto jovem e solteiro normalmente corre.

    Segundo – Seu desempenho em GPs já não são mais os mesmos desde a mola da Hungria.

    Terceiro – Porque Bottas já cresceu dentro do time, e se a Williams tiver que pensar em favorecer algum piloto, sabemos quem ela ira escolher, e não adianta o Massa fazer chororo.

    E Quarto – Acho que ele não consegue se recuperar mais, espero estar errado, mas acho que a tendência é seu desempenho só ir caindo.

    Descanse em paz, Mister James Garner!!!

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • wladimir duarte sales disse:

      Já eu tenho outra opinião, Mauro. Felipe Massa devia considerar sair da F1 e trilhar o mesmo caminho de Webber: o mundial de endurance. Poderia assim abrir vaga para o Nasr, daria uma sobrevida à carreira numa categoria menos exigente em termos de concentração e constância que a F1 e talvez tenha um desempenho melhor que o Bruno Senna que, em tempo, percebeu que a F1 não era a praia dele e o fator idade não seria tão determinante. Embora ex-pilotos notáveis na categoria máxima ainda estavam no auge da competitividade beirando os 40 ou depois dos 40: John Watson(última vitória aos 37 saindo de 22º no grid), Clay Regazzoni (última vitória aos 39 dando a primeira vitória à Williams), Mario Andretti (campeão aos 38 e seguiu carreira na F-Indy até os 53) e o grande Jack Brabham (disputando o título em 1970 aos 44 e logo depois aposenta-se no auge). Todos correndo com carros que, comparados aos de 20 anos atrás, seriam considerados espartanos.

      • Mauro Santana disse:

        Com certeza mudar de categoria não seria uma má ideia pra ele, mas o problema é que tanto ele quanto o Barrichello só tem olhos para a F1, e não conseguem ver a grandeza de um mundial de endurance.

        O Barrichello foi pra indy mas parecia estar sempre com a cabeça na F1, e agora fica correndo na stock car que é uma categoria engana bobo pra ricos que nunca irá levar ninguém a lugar nenhum, pois à tempos ela não tem mais aquele charme que teve nos anos dos Opala.

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