“Sonhar não custa nada 2.0” – parte 1

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Como diz a frase popular e continuando com a idéia de minha coluna anterior (confira aqui) sobre o pouco que custa sonhar, voltei a sonhar uma vez mais e a deixar a imaginação voar sem constrangimentos.

Recentemente, a FIA confirmou que o sistema de segurança conhecido como HALO será implantado já para a temporada de 2018. Os acidentes de Henry Surtees, durante uma prova de Fórmula 2, atingido na cabeça por uma roda solta de outro participante e de Felipe Massa, apenas uma semana depois nos treinamentos para o GP da Hungria, onde uma mola desprendida do Braun de Barrichello que lhe precedia, lhe causou graves feridas na cabeça, despertaram a preocupação respeito à segurança nesses casos de acidente. Porem, foi o fatal acidente de Jules Bianchi que, definitivamente, urgiu a FIA a implantar quanto antes algum tipo de proteção.

Segundo a FIA, depois de 5 anos de investigações tendentes a melhorar a proteção frontal da cabeça do piloto, este HALO é o sistema que ofereceu os melhores resultados. Contudo, o tal sistema nao está isento de polêmica e há até quem diga que sua implantação se deve mais ao desejo da FIA de se proteger a si mesma de possíveis implicações legais, no caso de que algum outro acidente grave possa ocorrer. Com a implantação do tal HALO, sempre poderiam dizer que ” fizemos tudo o possível!“.

Pouco se divulgou sobre os testes levados a cabo e tudo o que sabemos é o que a FIA diz. Por exemplo, diz que, em testes feitos em instalaçoes da RAF em 2015, onde se lanzavam pneus de 20kg a mais de 200 km/h contra o HALO, este resitiu bem. Tambem se diz que, nas tres areas testadas – carro contra carro, carro contra entorno e objetos atingindo carro – o sistema foi capaz de reduzir significativamente o perigo nos dois primeiros casos, em base a acidentes previos usados como referencia. Tambem nos dizem que, após intensivas provas onde se lançavam diferentes objetos contra o carro, puderam comprovar que o HALO havia sido efetivo em proteger o piloto num 17% dos casos.

Porém, usar acidentes pasados como base de trabalho, nao exclui a possibilidade de acidentes em condições nao estudadas e/ou até nao previstas. Tampouco nos dizem o que aconteceu com o restante 83% dos casos em que o sistema nao foi efetivo em proteger o piloto contra o impacto de objetos. Não é difícil imaginar que a presença do tal HALO, pode desviar algum objeto, cuja trajetória seja inócua, em direção do peito ou os braços do piloto, causando, assim, o que se pretendia evitar.

De fato, quando se anunciou a decisão de implantar o HALO para a temporada de 2018, Charlie Whiting disse que : ” O HALO, principalmente, tende a evitar que os pilotos sejam golpeados por rodas soltas “. Sendo assim, parece que as palavras de Niki Lauda tem bastante sentido: “O HALO destrói o ADN de um carro de formula 1. Alem do mais, o perigo de rodas soltas voando foi amplamente eliminado e as rodas sao cada vez mais firmemente fixadas. Os riscos para o piloto já sao mínimos!” . Se a FIA acha que ainda existe algum risco neste sentido ou em outro similar (eg. um bico ou aerofólio solto voando) é só exigir fixações mais resistentes de toda aquela parte que possa sair voando!

Um dos acidentes citados como exemplo da soposta efetividade do HALO foi o da colisao antre Romain Grosjean e Fernando Alonso em Spa em 2012. Contudo nao é nada dificil imaginar que, se o bico do Renault de Grosjean penetrasse pelo espaço entre o cockpit e a barra horizontal do HALO, este teria, irremisivelmente, sido dirigido em direçao à cabeça de Alonso, pois nao teria outro possivel lugar para onde ir. No caso do acidente de Massa, a tal mola tambem poderia ter passado sem problemas por tal espaço atingindo o brasileiro igualmente. Inclusive no acidente de Bianchi a presença do HALO nao teria feito nenhuma diferença, e o mesmo se pode dizer até do caso de Maria de Villota.

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Além da busca de segurança, há outros aspectos que promoveram dúvidas sobre o HALO. Estes tem a ver com o próprio espírito em si da categoria e a estética do carro, a visibilidade e a possível dificuldade em resgatar o piloto de um carro acidentado. No primeiro caso a estética fica bastante comprometida, pois o tal dispositivo recorda bastante um chinelo. Porem, como em questão de gosto não se discute…

No que diz respeito à visibilidade, os pilotos que o provaram, em sua maioria, disseram que não lhes molestava mas, no que se refere a um eventual resgate, algumas vozes no paddock temem que a operação se torne mais complicada devido à presença do HALO. Curiosamente a FIA, ainda dizendo estar satisfeita com os testes levados a cabo nesse terreno, aumentou o tempo regulamentado em que o piloto deve abandonar o cockpit de 5 para 10 segundos. Se a FIA estava satisfeita, nao havia necessidade de nenhuma mudança!

Assim, com a informação à disposição e  toda a controversia em torno ao tal HALO, pus-me a pensar num sistema alternativo que cumprisse os requisitos buscados e, como sonhar nao custa nada, a idéia logo me veio à cabeça. De fato, nao tive que pensar muito pois a solução a um problema de segurança similar já nos foi dada faz varios séculos atrás pelos engenheiros militares da idade medieval. Inclusive, estes, se basearam nos fabricantes de armaduras que, também, haviam se enfrentado anos antes ao problema de proteger a cabeça dos nobres cavaleiros da época.

Com o desenvolvimento de canhões mais potentes e precisos, lá pelo século 15, as fortalezas que, até entao, se construíam com altos e grossos muros, passaram a ser vulneráveis aos disparos dos canhões. Para entao, os estes já eram capazes de lançar pesados bolas de ferro com muita potência e os muros logo acabavam sucumbindo aos certeiros impactos dos projéteis. Assim, os engenheiros militares passaram a buscar uma forma de se proteger melhor dos canhões e a solução encontrada foi a construção das fortalezas em forma de estrela.

Esta ideia, por sua vez,  se baseava nos elmos que se haviam desenvolvido anteriormente para proteger a cabeça dos cavaleiros durante os famosos torneios de justas, onde os nobres se enfrentavam em combate singular, lançando-se um contra o outro em suas montarias a todo galope, munidos de escudo e uma lança, com o objetivo de descavalgar o adversário.

Finalizaremos essa viagem no tempo na próxima quarta-feira.

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

3 Comments

  1. Emil disse:

    Gosto muito dos textos aqui do GP TOTAL, mas a quantidade de palavras mal escritas deste me fez desistir de ler até o final no terceiro parágrafo. Uma revisão no Word antes da publicação eliminaria uns 90% dos erros. #ficaadica

  2. Fernando Marques disse:

    Manel,

    a Formula 1, desde que passou a ter as devidas preocupações com a segurança, sempre procurou aprender com os acidentes e assim quais medidas de melhor tomar para evitá-los …
    Não sei te dizer o que o HALO pode ser de bom ou ruim mas creio que a melhor medida tomada para evitar acidentes como o que vitimou o Jules Bianchi foi a bandeira amarela eletrônica, onde o diretor com apenas um comando faz com que todos os carros na pistas andem na velocidade exigida pelo procedimento. Essa decisão já seria o bastante para evitar o acidente do Jules …

    mas o tema é polêmico e que venha a parte 2

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  3. Mauro Santana disse:

    Grande Manuel, sempre nos brindando com um mesclado do passado junto com o presente.

    Já na expectativa para a conclusão deste tema tão polêmico.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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