The Birdmen

O lugar de Massa
25/09/2013
Decifrando o passado para entender o futuro
30/09/2013

A grande história do piloto Tony Rolt, nos levando de volta às bases do automobilismo.

“The birdmen” é um filme de 1971 cuja ação transcorre durante a segunda guerra mundial, numa prisão situada ao sul da Alemanha. Ali, nas montanhas que dominam a pequena vila de Colditz, se ergue um velho castelo-fortaleza medieval que os nazis haviam transformado numa prisão de máxima segurança, onde eram confinados os oficiais aliados mais conflitivos ou que haviam tentado escapar de outras prisões.

Os Alemães presumiam que o castelo de Colditz era a prisão definitiva da qual nenhum prisioneiro poderia jamais escapar. Diziam que a única maneira que os prisioneiros tinham de sair dali era morto ou que lhes crescessem asas para voar.

No filme, o popular ator Doug McClure assume o papel de um oficial americano que propõe construir um planeador para duas pessoas e poder chegar voando até a fronteira Suíça, que não ficava muito longe dali. No principio, a ideia é tomada como absurda mas, finalmente, é aceita e os prisioneiros logo iniciam a sigilosa construção do aeroplano, procurando escapar da vigilância que os oficias da Gestapo exerciam sobre os prisioneiros.

httpv://youtu.be/zzV4Ja6ErSM

Anthony Peter Roylance Rolt, sempre foi um entusiasta do automobilismo, iniciando-se nas pistas desde muito jovem. Com apenas 18 anos, terminaria em 4º lugar de sua categoria nas famosas 24 horas de Spa, em 1936 e, em 1937, venceria duas das então chamadas “Coronation Trophy Races” disputadas em Donington Park.

Em 1939, Tony Rolt, como já era popularmente conhecido, também em Donington Park, venceria o prestigioso troféu das 200 milhas do Império Britânico e era considerado umas das grandes promessas do automobilismo inglês, com um futuro que parecia pressagiava muito brilhante. Porém, a invasão alemã da Polonia, em setembro de 1939, daria começo à segunda guerra mundial e Rolt se alista no exercito de sua majestade.

Em 1940, na cidade francesa de Calais, Rolt, sendo tenente e ao comando de um pequeno pelotão, se enfrenta à poderosa divisão Panzer do general Guderian em seu avanço em direção a Dunquerque. Esta brava atuação lhe seria recompensada com a imposição de uma condecoração ao valor. Mas, com a vitória germana sobre a França, Rolt é capturado como prisioneiro de guerra.

Nos meses seguintes, Rolt protagonizaria sete tentativas de evasão de cinco campos de prisioneiros diferentes (Laufen, Biberach, Posen, Warburg e Eichstätt) até que, em 1941, é finalmente enviado a Coldtiz. Porém, nem Colditz seria capaz de aplacar o jovem Rolt e, após passar meses estudando cuidadosamente o castelo, Tony apresenta ao comitê de fugas sua mais inverossímil ideia: construir um planeador para duas pessoas.

No principio, todos pareciam bastante cépticos respeito à ideia, mas o coronel Willie Tod, o oficial de maior gradação, apoia o projeto, pois ainda que apenas dois homens poderiam escapar, se tratava, principalmente, de infringir aos alemães uma derrota moral, e demonstrar-lhes a classe de irredutível inimigo com os que se enfrentavam.

Os oficias e pilotos da RAF Bill Goldfinch e Jack Best seríam os encarregados de desenhar e construir o aparelho, enquanto que o próprio Rolt foi quem sugeriu o lugar para a construçao e lançamento do planeador, e se ocuparía de coordenar e organizar os prisioneiros na tarefa de recoletar os materiais necessários para construir o planeador.

O aparelho ficaria pronto em 1945, e Rolt sería asignado a ser um dos dois ocupantes, enquanto que, provavelmente Goldfinch o pilotaria. Mas com a tomada da região pelo exercito americano, o comandante do castelo, com bom critério, se rende, poupando assim muitas vidas, e a tentativa de fuga nunca se produziria. No entanto, Rolt ganharia outra condecoração em 1946 por promover tão ousada ideia, e o filme mencionado se inspiraria nesse incrível empreendimento.

Ao terminar seu vinculo com o exercito, Tony Rolt retoma sua carreira automobilística, sendo um dos grandes “gentleman driver” da época e seria um dos participantes do primeiro GP de formula um – O british GP de 1950 – com um pobre ERA, sem conseguir terminar a prova. O mesmo aconteceria em 1953 e 1955, nessas ocasiões com Connaght. Contudo, seria nas 24 horas de LeMans onde Tony brindaria algumas de suas melhores performances.

Assim, em 1951, Rolt terminaria num meritório sexto lugar com um modesto Nash-Healey, o que lhe serviu para receber um convite da Jaguar para ser seu piloto reserva. Em 1953, já como piloto titular e formando dupla com seu amigo Duncan Hamilton, Tony vence a prova com um C-type. Em 1954 e pilotando um D-type, os dois amigos quase repetiriam vitória, terminando, finalmente, em segundo lugar por um problema com um filtro de óleo.

Novamente com um D-type, os dois participariam na edição de 1955, mas abandonariam com problemas na caixa de câmbio, quando disputavam a volta 186. Durante a prova, na volta 34, tería lugar o fatal acidente do francês Pierre Lavegh, cujos restos do carro se precipitariam sobre as arquibancadas causando 82 vitimas mortais entre o público.

Após a prova e ao saber das terríveis consequências do acidente, Rolt decide abandonar a competição. Longe das pistas e já como engenheiro e junto a seu amigo Freddie Dixon, funda a Dixon-Rolt Developments, empresa dedicada a desenvolver sistemas de freios anti-bloqueio e de tração nas quatro rodas.

Em 1961 e com ajuda financeira do magnate Harry Ferguson, a empresa passa a ser Ferguson Developments e, para promover as bondades da tração integral, constroem um bólido que, nas mãos de Stiling Moss, venceria a prestigiosa “Gold Cup” disputada em Oulton Park, sendo esta a única vitória de um carro com tração nas quatro rodas da história da formula um.

Rolt e sua companhia continuariam seu sucesso construindo também diferenciais e caixas de câmbio para a competição, tanto de pista quanto de rally (a equipe McLarem estava entre seus clientes), proporcionando a Rolt uma respeitável fortuna. O intrépido Tony Rolt, faleceria em 2008, quando contava 89 anos de idade, havendo sido o último sobrevivente daquela primeira corrida de formula um.

Bom fim-de-semana a todos.

P.S. No ano 2000, com motivo de um documentário da TV britânica titulado “Scape from Coldtiz” e seguindo os planos originais de Goldfich e Best, foi construida uma réplica daquele planeador para comprovar se teria voado e… voou! Desde então, o aparelho se exibe no “Imperial War Museum” em Londres.

Manuel Blanco
Manuel Blanco
Desenhista/Projetista, acompanha a formula 1 desde os tempos de Fittipaldi É um saudoso da categoria em seus anos 70 e 80. Atualmente mora em Valência (ESP)

6 Comments

  1. Fabiano Bastos das Neves disse:

    Mudando um pouco de assunto, depois da punição ao Webber pelo “táxi” do alonso encontrei este vídeo no youtube intitulado “O Busão do Piquet”. Da para rir um bocado da situação.
    http://www.youtube.com/watch?v=fzstBMGhEjE

  2. Fernando Marques disse:

    A 2ª guerra mundial foi com certeza a pior coisa que já aconteceu na história da humanidade … eu gosto de ver documentários sobre o assunto e o canal Discovery volta meia coloca no ar histórias da guerra e do Hitler … o Canal Brasil também sempre reprisa um documentário sobre a atuação da nossa Força Aerea na 2ª guerra com relatos interessantes e emocionantes dos nossos pilotos heróis do famoso “Senta a Puá” … por isso este texto do Manuel é espetacular … conheço a historia do filme … o que comprova que nem todos os herois precisavam morrer para serem heróis …

    Parabens Manuel,

    o amigo sabe que sou fã dos seus textos

    Fernando Marques
    Niterói- RJ

    • Mário Salustiano disse:

      perfeito Fernando

      e uma outra coisa, nem sempre precisamos ouvir ou ler histórias sobre vitórias e campeonatos conquistados,para ter ao nosso alcance histórias que enchem nossos olhos e nossas emoções, pela luta, superação e espirito inovador e desbravador

      abraços e boa semana

      Mário

  3. Mário Salustiano disse:

    Manuel

    Parabéns pelo resgate de tão emocionante história, detalhes ricos que nos remetem a pensar como antigamente havia mais espirito de pioneirismo e persistência na idealização e realização de sonhos.
    Meu pai gostava muito de ler sobre a história da segunda guerra mundial e uma vez ele me perguntou se eu sabia qual o impacto a guerra trouxe para alguns pilotos e suas carreiras ,que deviam estar no auge entre os anos 30 e 40, na época eu era adolescente e havia muito pouco material a meu dispor para pesquisar, fiquei sem resposta mas não sem curiosidade ,hoje eu entendo que essa era sua forma de me instigar a pesquisar e tentar entender as coisas da vida pela ótica do automobilismo e isso me ajudou muito em muitas searas, acabei lembrando dessa minha fase de vida lendo teu texto, se vivo fosse meu pai, hoje eu levaria teu texto para enriquecer nossa conversa.

    abraços
    Mário

  4. Mauro Santana disse:

    Texto Fantástico Manuel!!

    E que história maravilhosa, e já tenho um filme para assistir neste final de semana.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  5. Mais um texto maravilhoso para sua coleção, meu amigo. E todos nós, novamente, ficamos um pouco mais ricos.
    Abraço, e saudades.

Deixe um comentário para Mário Salustiano Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *