Top Five para o Red Five I

Talvez sim, talvez não
11/08/2011
Top Five para o Red Five II
15/08/2011

por Lucas Giavoni

Nigel Ernest James Mansell fez aniversário neste último dia 8. Já são 58 “temporadas” de vida. Às vezes gênio, às vezes bruto, o britânico conquistou 31 vitórias e é o 4º maior vencedor da F1, à frente de blockbusters como Stewart, Clark e Fangio. Dotado de uma velocidade incontestável e reconhecido por usar o número 5 vermelho por tantos anos, falhava sob pressão e jamais soube acertar carro. Vice de Prost, Piquet e Senna (juntos, formam o quarteto de heróis da minha infância), só conseguiu um título em 1992 – sua 13ª temporada. Mas o fez de modo impecável, na Williams-Renault no ápice da era eletrônica, fazendo quase o dobro de pontos de seu vice, o companheiro Patrese, e batendo o recorde de poles numa só temporada: 14 em 16 corridas.

 

Depois disso, já aos 40 anos, ainda teve fôlego para vencer na Indy/Cart em sua temporada de estreia, pela equipe Newman-Haas, derrotando Fittipaldi, Tracy, Rahal, Boesel, Unser Jr. e Andretti pai (hoje, avô). Tal proeza fez com que ele fosse o único da História – ainda que por apenas poucos dias – a ser campeão da F1 e da Indy ao mesmo tempo.

 

Separei duas seções de Top Five para homenageá-lo. A primeira, a seguir, contém os desempenhos espetaculares.

 

 

 

Top Five I – O Leão ruge alto

 

5: GP da Grã-Bretanha de 1992

 

httpv://www.youtube.com/watch?v=Pc4Orp78EFk

 

Em uma temporada em que tinha nas mãos um carro tão superior, não era de se esperar um desempenho digno de nota. Mas em Silverstone, ele provou que não apenas tinha o melhor carro, mas que estava mais Leão que de costume. A pole veio com vantagem indecorosa de 1,8s. Na largada, manteve-se à frente de Patrese e começou a abrir vantagem como um foguete, com 5,9s já no primeiro giro. Com uma sequência de voltas mais rápidas, já tinha 20s em apenas 10 voltas.

 

Administrando o restante da corrida, mas sem deixar de marcar a melhor volta quando a Williams de outro planeta estava leve, recebeu a bandeirada com quase 40s de vantagem, para alegria dos fãs britânicos. Foi o quarto e último Grand Slam da carreira, junto com as exibições perfeitas na mesma Grã-Bretanha em 1991, África do Sul e Espanha 1992.

 

4: GP da Grã-Bretanha de 1987

 

httpv://www.youtube.com/watch?v=wSU1IXrICso

 

Perder a pole em casa para Piquet foi um duro golpe. Não conseguir passá-lo durante a prova também. Sem alternativas, arriscou uma troca de pneus. Com borracha nova e faca nos dentes, começou uma caçada que descontava algo em torno de 1,5s por volta e resultou em aproximação fatal a três voltas do fim.

 

Edu, minhas francas desculpas ao discordar de sua coluna Em Busca da Ultrapassagem Perfeita: o drible executado por Mansell, sim, foi lindíssimo, nem que seja para destacar a ginga que envolveu a manobra, uma vez que foi um jeito bastante inteligente de conseguir cavar a ultrapassagem por dentro da curva. Também foi belíssima a festa que os britânicos fizeram ao cercarem o carro que – finalmente – ficara sem gasolina (Piquet pensou que, naquele ritmo insano, acabaria antes da quadriculada).

 

3: GP do Brasil de 1989

 

httpv://www.youtube.com/watch?v=MnMBrlHEGPI

 

Estreia da F1 com novos motores aspirados 3,5L, que encerrou a Era Turbo. Estreia de Mansell pela Ferrari, após quatro anos de Williams. E estreia do então revolucionário câmbio semi-automático. Em meio a tanta novidade, eis que o Leão, 6º do grid, faz uma exibição notável. Fez dois pits (um deles para trocar o volante, o que Murray Walker chamou de “primeiro pit em que vi trocarem cinco rodas”) e quatro ultrapassagens no fim do retão para tomar a ponta – duas em Patrese, que teve o motor Renault da Williams quebrado, e em Alain Prost, na favorita McLaren.

 

Ao fim do dia, vitória com 7s de vantagem para um Prost quase sem embreagem, que segurou um excelente Gugelmin, a apenas 2s na famosa March de 1988. Foi a última corrida em Jacarepaguá, autódromo que, de tanto ser maltratado, morreu definitivamente em 3 de julho, após a etapa da Stock Car.

 

2: GP da Hungria de 1989

 

httpv://www.youtube.com/watch?v=AALoxy6Y8l4

 

O 12º lugar nos treinos seria um mau presságio para a corrida. Ainda mais em Hungaroring, circuito tão chato para ultrapassar e que não trazia qualquer boa lembrança para Nigel nos três anos anteriores em que o circo atravessou a então existente Cortina de Ferro. Sem esmorecer, protagonizou uma caçada incrível até colar no líder Senna, que havia herdado a ponta na volta 56, quando o pole Patrese abandonou com a Williams superaquecida.

 

O lance que decidiu a corrida aconteceu a 20 voltas do fim. Senna sai de uma curva e dá de cara com a Onix-Ford de Stefan Johansson, em ritmo de lesma. Nigel percebe o momento e ultrapassa os dois carros ao mesmo tempo, provando estar com os reflexos mais do que em dia, e provando que a vitória, naquele dia, estava nas mãos certas.

 

1: Super Car Control

 

httpv://www.youtube.com/watch?v=zm0AElwE-dM

 

Creio que a maior contribuição de Mansell para o esporte não tenha sido uma vitória isolada, mas sim sua espantosa capacidade de controlar um carro em estado errático. Não foram poucas as demonstrações de que ele podia, como poucos, corrigir um bólido prestes a rodar, seja pelo transpassar o limite da aderência, seja por alguma avaria.

 

Destaco alguns exemplos bastante famosos. O primeiro aconteceu justamente quando perdeu o título mundial de 1986, na fantástica decisão em Adelaide. Assim que o pneu traseiro da Williams-Honda explode em pleno retão, Nigel está a pelo menos 280 km/h. O carro dá guinadas violentas, que prontamente são corrigidas. Mesmo com apenas duas rodas a tocar constantemente o chão, ele consegue levar o carro até a área de escape, quando corta o motor e se dá conta de que acabara de perder o título.

 

Na Hungria em 1988, ele colocou uma roda na grama e forçou um 360º, sem perder a tomada da próxima curva, o que faria também em San Marino 1990 quando perseguia Berger – que depois tomaria um passão por fora na Peraltada de Hermanos Rodríguez. Também nos causa arrepios o depoimento do vencedor Emerson Fittipaldi sobre a edição 1993 da Indy 500. Nigel foi um adversário fortíssimo e era o único que cometia a insanidade de contra-esterçar nas curvas, andando de lado como se fosse oval de terra, em carro que simplesmente não era projetado para aquilo!

 

Qualquer um que tivesse 1% menos Car Control que o Leão naquelas circunstâncias simplesmente assinaria o muro.

///

O segundo Top Five vem na próxima coluna. Dos desempenhos incríveis para… as inesquecíveis trapalhadas que ele protagonizou. Espero que Nige não fique bravo, pois também guardamos com muito carinho todos os seus, digamos, infortúnios.

Aquele abraço!

Lucas Giavoni

 

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

3 Comments

  1. Eduardo Correa disse:

    Olá amigos

    gostaria de parabenizar o leitor Firmo Neto pelo seu comentário em 22/6. Nós brasileiros ainda estamos aprimorando nosso sistema político. Nem todas as pessoas estão preparadas para conviver e aceitar os que pensam diferente. Quando não concordam com alguém, tratam de desqualificá-la, com comentários raivosos e, às vezes, até desumanos.

    O texto que você enviou é uma bela manifestação em defesa da liberdade de expressão, do respeito e da dignidade. Todos estes elementos são princípios básicos para a boa e salutar convivência entre todos nós.

    Falando de F1, gostaria de dizer algo polêmico. Pelo menos é assim quando falo para meus amigos próximos. Considero que Barrichello e Massa são excelentes pilotos. Digo isso porque já fizeram provas dignas de campeões e também de pilotos excelentes que não foram campeões (neste espaço temos histórias de vários pilotos assim, Gilles, Watson, Arnoux, Laffite etc).

    Massa e Rubens não correm em grandes equipes sem terem merecido. São grandes pilotos. Agora, compara-los a Senna, Piquet e Fittipaldi acho que é um equívoco. Existem os gênios e existem os excelentes pilotos. Massa perdeu um título mundial por uma curva e alguns metros. Isso é muito representativo. Rubens fez ótimas corridas rivalizando com Schumacher. Respeitando todos os amigos leitores do site que já criticaram de forma dura estes dois pilotos, eu deixo minha opinião.

    Faço esta afirmação para amantes de F1, que acompanham o site, bons entendedores da matéria.

    Abraços a todos

    Arnaldo, Divinópolis

  2. Eduardo Correa disse:

    Caro Firmo Neto

    Já fui leitor assíduo e participante desse espaço. Lia todos os dias e acompanhava as discussões com interesse e divertimento.

    Entretanto, justamente pelos motivos apontados por você deixei de frequentar esse site. E não me empolgo muito para voltar a acompanhar. Às vezes bate uma curiosidade e dou uma passada aqui. Pena que existam pessoas dispostas a agredir o próximo gratuitamente, apenas por que esse próximo tem ideias, vontades, opiniões e hábitos diferentes ao seus. Encobrem-se sobre o véu do anonimato ou, em alguns casos, até da identidade falsa (ou virtual).

    Infelizmente creio que essa é uma tendência universal. Percebo que, ironicamente, isso decorre do aumento do fluxo de informações. Hoje o acesso à informação é muito fácil, muito rápido e grátis.

    O que deveria reverberar em benefício para a humanidade (e em algum lugar ou situação tenho a certeza absoluta que isso acontece) muitas vezes produz efeitos negativos. Acredito que isso se deva à péssima formação das pessoas. Claro que temos a impressão que isso é uma ocorrência exclusiva de nosso país. Mas se observarmos bem, veremos que é algo comum ao mundo todo. As grandes empresas queixam-se de falta de mão de obra qualificada. Países como França, Japão, EUA entre outros apontam problemas na formação, seja estudantil ou social, de seus jovens.

    Assim, o cidadão com esse déficit de formação não tem, muitas vezes, a capacidade ou competência necessária para se expressar ou compreender a manifestação alheia. E a internet, que deveria ser território livre, vai, aos poucos sendo dominada por reacionários, subversivos, xiitas, nazistas e toda sorte de truculentos desprezíveis, desprovidos de afeto e noção de amor.

    Mas ao ler teu texto me identifiquei muito com seu pensamento e inclusive na maneira de reagir a esse solapamento do respeito alheio ou da coisa alheia. E também por sua preferência ao Galvão Bueno, que para mim é o melhor por diversas razões. Assim, desejo de coração que não esmoreça jamais.

    Desejo também toda sorte de bênçãos e alegrias que o Espírito Santo do Senhor Jesus Cristo pode proporcionar para você e sua família.

    Um grande abraço

    Adalberto Salomão Mitne, São Paulo

  3. Eduardo Correa disse:

    Caros amigos

    Apelo aqui em mais esta publicação para que possamos fazer um site cada vez mais aberto e respeitoso.

    O GPTotal nos proporciona uma possibilidade bastante interessante de colocarmos nossas posições sobre os assuntos que o site se destina a debater e isso é feito de forma democrática e aberta pelos organizadores. Dessa forma, devemos preservar isso. Apelo para o que dizem os grandes estudiosos da comunicação social: se você fala para uma pessoa, você tem responsabilidade com o que fala. Se você fala para muitas pessoas, aí é que sua responsabilidade aumenta.

    Você não fala ou escreve o que pensa, principalmente quando se dirige a uma pessoa, um ser humano. Você tem que ter responsabilidade com o que fala e escreve. Podemos avaliar os pilotos em sua profissão. Dentro disso eu falo o que quero. Digo que o cara é ruim, que não anda, que é barbeiro etc. Mas não posso falar da pessoa: do Felipe Massa, do Rubens Barrichello, até por que não os conheço pessoalmente. Mesmo que conhecesse, não teria o direito de me referir a pessoa com palavras ou críticas ofensivas.

    Quero muito que todos os colegas leiam esse meu texto. Sei que a grande maioria tem total consciência do que está falando e escrevendo, mas percebam que em alguns momentos perdemos o caminho dos debates e entramos na coisa pessoal. Em muitos casos, fui criticado aqui nos meus comentários. Algumas delas foram ofensivas e não gostei, claro. Outros foram réplicas que gostei muito de receber, embora não as aceite como verdades.

    Qualquer comentário, tanto meu, como de qualquer outro que escreve aqui, pode ser e até deve ser replicado, contestado, questionado. Isso é uma coisa interessante. O que não se pode é entrar no âmbito pessoal, com ofensas quase sempre infundadas e palavras que qualquer pessoa que se preste a escrever para uma ou para milhares de pessoas não deveriam usar. É bom lembrar que o site é democrático mas o que se escreve aqui é de responsabilidade única de quem escreve.

    Dessa forma, solicito que os colegas – me permitam chamar de colegas – que pensem com responsabilidade no que estão escrevendo. Nunca se utilizem de palavras ofensivas com relação a outra pessoa, outro ser humano. Isso muitas vezes magoa e pode levar a consequências desagradáveis. Lembrem-se que milhares de pessoas estão lendo o que escrevem. Conheço duas pessoas que todos os dias entram no site, mas nunca escreveram nada.

    Espero que entendam o que escrevi dessa vez. Aguardo réplicas e críticas dentro desse meu comentário. Garanto que por mais duras que possam ser, vou aceitá-las de coração e tirarei para aprender. Mas não tenho por que aceitar críticas e ofensas pessoais. Escrevo essas palavras como vítima que fui. Quem acompanha há mais tempo sabe do que estou falando. Nunca me refiro a outras pessoas. Quando faço críticas a um comentário que discordo, faço mesmo e sou duro. Mas falo do assunto, nunca da pessoa. Em 99% dos casos, critico um texto ou uma coluna e não sei nem que a escreveu. Faço a crítica, (positiva ou negativa) e envio. Sou duro e procuro discordar com os argumentos que tenho. Muitas vezes eles são poucos, mas são meus argumentos. Eu não mereço ser ofendido por ter meus argumentos, mereço?

    Em uma das ocasiões, postei que o Galvão Bueno era para mim o maior e melhor narrador esportivo que já surgiu na TV brasileira, principalmente para Fórmula 1. Nossa! Quase fui devorado por conta disso. Fui humilhado e faltaram com o respeito comigo. Cheguei a me arrepender de ter escrito. Isso é inaceitável. Tenho o direito de achar o Galvão o melhor, do mesmo jeito que você tem o direito de ter votado em Fernando Collor de Melo ou em FHC, ou de considerar o Schumacher o maior da história. Não posso ter meu caráter, minha profissão, minha honra, até minha família, colocada em questão por isso. É um absurdo.

    Grande abraço a todas e todos que estão lendo nesse momento o que escrevi. Obrigado por estarem lendo. Quando escrevi tinha noção exata de que uma ou um milhão de pessoas poderiam ler. Tive responsabilidade com isso e não ofendi ninguém.

    Agora é assim? Quer dizer que as corridas de Fórmula 1 agora serão assim? Se chover um pouco mais, para a corrida! Se o piloto for um pouco mais arrojado é punido! Um pedacinho de carro fica na pista, entra o carro de serviço! Como ficarão as corridas?

    Entendo que a integridade física do piloto tem que ser preservada ao máximo, mas dessa forma estão tirando o que as corridas tinham de melhor. Em 1985, em Portugal, a chuva era torrencial e não interromperam a corrida por isso. Sei que esse negócio de interromper corrida por conta da chuva não é novo, mas acho que o carro de serviço deveria entrar, dar algumas voltas para os pilotos sentirem como está o asfalto e libera novamente para a corrida. Se está chuva for forte, andem mais devagar. E outra coisa: a grande maioria dos pilotos que tiveram acidentes fatais ou graves, foi no seco, não foi? Ou estou enganado? O problema em relação a acidentes é o seco, onde se atinge grandes velocidades.

    É apenas a minha opinião. Daqui a pouco não saberemos mais quem é bom de chuva ou quem não é. Quem é bom em situação crítica ou quem não é!

    Apenas para comentar: quando o GP do Canadá foi interrompido, a Globo mostrou algumas cenas da corrida em 1981. O Galvão (sou fã do Galvão) fez referências à narração que ele teria feito naquela corrida, mas ele não deve estar lembrado. Quem fez a narração da corrida do Canadá de 1981, acho que foi o Luciano do Vale, que era da Globo na época.

    Firmo Neto, Recife

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