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Mais que seu número de vitórias, Lewis Hamilton merece o título porque foi o piloto que errou menos ao longo da temporada.

Sempre que analiso um campeonato de “pontos corridos”, entendo que o campeão deve ser aquele que cometa menos erros. Por exemplo: o Cruzeiro deve ser campeão brasileiro de futebol neste ano não apenas porque obteve mais vitórias, mas sim porque, mesmo perdendo em vários confrontos diretos, é a equipe que menos oscilou contra os times da parte de baixo da tabela e o que mais soube buscar resultados que pareciam improváveis – no último domingo, perdia de 1 a 0 e via o São Paulo ficar apenas dois pontos atrás, mas conseguiu a virada na metade final do segundo tempo.

Pensando da mesma forma, no Mundial de F1 2014 o campeão deve ser Lewis Hamilton.

Na frieza dos números, temos um tremendo equilíbrio entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton: após o GP do Brasil, Rosberg soma mais poles (10 a 7) e Hamilton tem vantagem nas voltas mais rápidas (7 a 5); o alemão está na frente em voltas na liderança (482 a 455) e há um empate em pódios (15 cada). Bem, Lewis chegou 10 vezes em primeiro e Nico Rosberg tem 10 segundos lugares.

No entanto, muito mais que a grande diferença de vitórias, Hamilton foi mais eficiente. O britânico errou menos. Vacilou menos. Se Rosberg ficar mesmo com o vice-campeonato, não será porque Hamilton venceu mais corridas, mas sim porque ele, Nico, perdeu oportunidades claras, errando em momentos decisivos.

Vários leitores e colegas lembraram das corridas finais de 2007 e 2008, nas quais Hamilton, tendo vantagem semelhante à atual, cometeu erros decisivos: numa delas, deixou o título escapar; na outra, acabou se consagrando campeão. Para muitos, aqueles dois episódios (ambos em Interlagos) ainda pairam como uma sombra sobre Lewis e fazem com que o favoritismo do britânico seja colocado em cheque.

Minha aposta: Hamilton não perderá o título por algum erro que cometa; se vier a acontecer – não creio que isso ocorra –, será por algum azar. E vejo três motivos principais para isso.

Amadurecimento

Muita coisa mudou, desde 2008: de lá pra cá, Hamilton encarou várias temporadas sem o melhor carro (2009 a 2013), na primeira delas, inclusive, tendo um equipamento muito abaixo dos concorrentes BrawnGP e Red Bull. Em algumas corridas, a McLaren ficava atrás de Toyota e Ferrari, inclusive. E ele venceu dois GPs.

Nesse tempo todo, Hamilton amadureceu muito como pessoa e como piloto.

A temporada de 2011 pode ser considerada uma espécie de turning point na carreira do inglês: o rompimento comercial com o pai, as idas e vindas do namoro, as amizades com popstars e a rivalidade interna com Button (inclusive atingindo Ron Dennis, de quem Lewis sempre foi pupilo e lá aparentava pender para Jenson) o colocaram a pensar seu futuro.

Guardadas as devidas proporções, o GP do Canadá de 2011 está para Hamilton como Mônaco 1988 está para Senna.

httpv://youtu.be/hPn34CKM-RY

O circuito de Abu Dhabi

Hamilton anda MUITO bem nos Emirados Árabes.

Lá, ele marcou a pole-position no GP inaugural, em 2009, e dominava a corrida quando abandonou com problemas nos freios. Isso, como já foi dito, numa temporada em que não dispunha nem do segundo melhor carro.

Em 2010, foi o segundo colocado numa prova em que Vettel e a Red Bull estavam em outro planeta. Em 2011, finalmente venceu, herdando a ponta de Vettel (pneu furado) logo na primeira curva.

Em 2012 – quando ainda se mantinha na briga pelo título –, cenário idêntico ao de três anos antes: pole, liderou a maior parte da prova, dessa vez sendo traído por um motor quebrado. Ano passado, uma performance fraca (largou em quarto, terminou em sétimo), mas num contexto bastante diferente.

Arrisco dizer que os treinos de Abu Dhabi serão quase tão imperdíveis quanto a corrida, e creio que Hamilton lutará por essa pole como em nenhuma das outras 18 etapas da temporada.

Mesmo não considerando a performance de Lewis, a superioridade da Mercedes é tanta – e a pista é tão enfadonha – que qualquer coisa que não uma dobradinha merece ser considerado zebra.

Os erros de Rosberg

Foi Rosberg e não Hamilton quem cometeu erros importantes ao longo do ano, e a maior parte deles veio já na reta final da temporada. Até o GP da Alemanha (liderava por 190 a 176 pontos), Rosberg não havia cometido nenhum erro – apesar das vaciladas no GP do Bahrein –, e teve apenas um abandono (motor quebrado), em Silverstone, quando foi pole e dominava a prova.

Na segunda metade, porém, uma sucessão de erros e baixas performances. Lembremos:

— pole na Hungria, foi batido por um Hamilton que largava em último, e ainda teve os choramingos via rádio pedindo passagem – perdeu 6 pontos (3 que marcaria, 3 que Hamilton marcou);

— na Bélgica, o já histórico choque na primeira volta jogou, além de suspeitas de dirty game, uma possível vitória no lixo com as avarias do carro – perdeu 7 pontos;

— na Itália, teorias da conspiração a parte, cometeu um erro grosseiro que o fez perder uma vitória certa – perdeu 14 pontos (7 dele, 7 do inglês);

— azarado em Singapura (o campeonato “zerou” ali) e batido no traumático GP do Japão, comete um erro capital: depois de perder a pole na Rússia, faz uma largada suicida que em uma curva lhe dá um choque de realidade – perdeu 14 pontos (7 seus, 7 de Lewis);

— a recuperação parecia vir em Austin, em mais uma excelente pole, mas um erro no controle do carro dá de lambuja a ultrapassagem a vitória para Hamilton – mais 14 pontos perdidos.

Numa análise simples, pelo menos duas das 10 vitórias de Hamilton (Itália e EUA) nasceram de erros de Rosberg. Ainda, o inglês foi mais inteligente em outras ocasiões (Hungria e Rússia), sabendo se poupar e atacar no momento certo, e numa quinta situação (Bélgica), onde foi o maior prejudicado, viu o rival colher menos pontos do que poderia.

Resta alguma dúvida de que é Hamilton quem merece levar o título?

Chega logo, Abu Dhabi!

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

9 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    A teoria do Manuel teria 100% de sentido se a equipe fosse a Ferrari … como é a Mercedes … fica apenas sendo uma especulação …

    Fernando Marques

  2. Manuel disse:

    Amigos,

    Talvez eu esteja enganado, mas me parece que, desde aquele GP da Bélgica, a situaçao do Rosberg na equipe mudou muito. Faz algum tempo eu já disse que Rosberg, com seu excelênte rendimento, estava deixando a mais de um em evidência ao mostrar que nao éra necessário trazer o inglês por um monte de dinheiro para fazer o que ele mesmo podia fazer por menos. Assim, considerando que só os dois tem possibilidades de ser campeao acho que, se realmente o interesse da equipe é que vença Hamilton, o mais seguro sería que Rosberg abandonasse a prova, de maneira que, nao importa o que aconteça com Hamilton, ele sería campeao.

  3. Robinson disse:

    Imagino que só temos duas opções:
    1 – A Mercedes de Hamilton quebra e Rosberg é campeão;
    2 – A Mercedes de Hamilton não quebra e o inglês é campeão.

    Acho mais justo o inglês ser campeão este ano mas aposto que algo acontece com seu carro na corrida.

  4. Mauro Santana disse:

    É, pelo que o Hamilton vem demonstrando nesta temporada, e principalmente por esta virada de jogo contra o Rosberg, ele só perde este título se um raio o atingir como atingiu Nigel Mansell na Austrália 1986.

    Esse GP promete.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  5. Ronaldo disse:

    Apenas para comentar a respeito do amadurecimento, vimos um Hamilton instável que não soube lidar com a concorência interna quando, em 2010 e 2012, queria a posição de nº 1 da equipe, posição inversa à qual respondeu muito bem em 2007, apesar de ter perdido o campeonato. Naqueles anos não houve um domínio claro da Red Bull, que teve uma disputa interna muito apertada, e tanto Button quanto Alonso souberam capitalizar muito bem os erros dos adversários. Piloto visceral, descendente na maior parte das vezes, ele cometeu erros absurdos logo no início de vários GP’s e, tirando o azar em outros tantos, poderia claramente ter sido campeão pelo menos em uma das duas ocasiões. Especialmente na equilibradíssima temporada de 2012 quando, após vencer no Canadá e se ver líder do campeonato, somar cinco abandonos e outros tantos resultados ruins a três vitórias, provando, especialmente em Valência, que era claramente um dos mais rápidos do grid, mas incopetente em administrar os momentos de decisão.
    Rosberg, por outro lado, nunca teve que lidar com a posição de lutar por títulos, e essa nova situação, mesmo tendo batido Hamilton e Schumacher em temporadas anteriores, trouxe à tona os mesmas desequilíbrios que seu rival já parece ter aprendido a superar.
    O panorama que temos para a última prova é esse, dois pilotos rápidos com vocações distintas atrás do volante, que tiveram suas cotas de erros no passado recente e deram demonstrações que os ímpetos da juventude não foram exatamente sepultados ainda. A refugada do inglês em Interlagos é uma boa amostra disso, bem como a bobeada do alemão em Austin. Pista chata, grid magro e uma equipe dominante. Teremos uma prova enfadonha? Não apostaria.

  6. Fernando Marques disse:

    O L. Hamilton só perde o campeonato se o carro dele quebrar … os carros da Mercedes são de um outro planeta … em Abu Dhabi vai dar dobradinha 1-2 no pódium … não existe 3º lugar para a equipe …
    Eu sempre admirei o Hamilton por seu estilo de pilotagem … ele sempre arrisca, erra muito e diverte qualquer corrida … este ano ele está pilotando o fino … e não me lembro dele ter cometido um erro assim tão grave … tirando as quebras, ele sempre esteve preciso nas pistas … mais que seus resultados, a sua pilotagem demonstra estar melhor que a do Nico …
    Fora isso, não vi o Rosberg ultrapassando o Hamilton, e sim ao contrário. Não vi o Rosberg largar atras do Hamilton e vencer a corrida … e sim ao contrário …
    Por isso penso que o Hamilton mereça mais o titulo … é mais piloto …
    Agora mesmo o Rosberg cometendo erros ao longo da temporada, creio que ele teve bons momentos, mostrou poder força e conseguiu colocar pressão em cima do ingles. Não resta duvida que ele faz a sua melhor temporada na Formula 1. Merece ser campeão? … sim, por que não? … só que não mais que Hamilton … mas se não for o inglês … que seja o Nico que também fez por onde merecer o título …

    Fernando marques
    Niterói RJ

  7. Lucas dos Santos disse:

    Essa corrida promete.

    Que venha Abu Double… ops, Abu Dhabi!

  8. admin disse:

    Exato, Fabiano. Dos males, o menor.
    Abs!

  9. Fabiano Bastos disse:

    Torci bastante por Rosberg este ano por que acho que ele tem seu valor menosprezado enquanto penso que Hamilton é supervalorizado. E até a metade deste campeonato as coisas estavam indicando que Rosberg seria campeão mesmo. Porém, aquela batida na Bélgica lhe custou muito caro. Por conta dela Rosberg perdeu o apoio que vinha tendo da equipe (Hamilton soube capitalizar bem o episódio) e se desestabilizou.
    Penso que será terrível para a F1 se Hamilton não for o campeão este ano, mas podia ser pior. Já pensaram se Rosberg quebra no brasil e Hamilton abre 49 pontos de vantagem e a situação se inverte na prova final, com quebra de Hamilton e vitória de na corrida e campeonato para Rosberg. Esta seria a tragédia completa!

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