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Um mês após a morte de Jules Bianchi, vamos relembrar outras duas trajetórias muito semelhantes à do jovem francês, primeiro piloto a morrer na F1 desde Ayrton Senna.

Na história da Fórmula 1 muitas foram as mortes. Destaco aqui cinco grupos de pilotos cujas passagens ainda trazem acalorados debates sobre o que poderiam ter feito caso a fatalidade não os acometesse durante suas carreiras:

1) Aqueles que de fato foram mitos completos e só podemos lamentar não os termos apreciado mais (Alberto Ascari, Jim Clark e Ayrton Senna);

2) Aqueles que deram grandes mostras de habilidade — uns mais, outros menos — mas ficamos sem saber exatamente quão longe poderiam ter chegado e o que teriam conquistado (Jochen Rindt, Gilles Villeneuve);

3) Aqueles que nos encantaram em diversos momentos, que tinham enorme potencial — uns mais, outros menos –, mas que algo faltou para chegar no topo (Ronnie Peterson, Bruce McLaren, Patick Depailler);

4) Aqueles que tiveram poucas oportunidades, demonstraram o suficiente para criar enormes expectativas, mas não puderam explorar todo seu potencial (Stefan Bellof, Fançois Cevert).

5) Aqueles que nunca puderam demonstrar nada em virtude do contexto em que surgiram, mas de cujo potencial ninguém duvidava (Ricardo Rodriguez, Tony Brise, Jules Bianchi).

Em virtude do primeiro mês da morte de Bianchi, completado na última segunda, 17, me dedico a falar dos nomes deste último grupo.

Em comum nestes três pilotos, além da precocidade de suas mortes, o fato de terem feito relativo sucesso em outras categorias do esporte a motor pré-F1, estarem associados direta ou indiretamente a equipes/personalidades importantes, e fazerem parte de famílias com alguma tradição no automobilismo.

Ricardo Rodríguez — 20 anos

Irmão de Pedro Rodríguez, Ricardo Rodríguez de la Vega começou a competir nas motos, sendo campeão nacional mexicano com apenas 14 anos. Aos 18, foi vice-campeão em Le Mans – correu ao lado do belga André Pilette. Posteriormente, junto ao irmão, conseguiu pódios importantes nas 12 Horas de Sebring (3º), nos 1000 Km de Nürburgring (2º) e de Paris (1º).

Em várias dessas provas, Ricardo correu pela North American Racing Team, equipe que promovia a marca da Ferrari nos EUA. Isso levou a um convite de Enzo Ferrari: Ricardo disputaria o GP da Itália de 1961 pela Scuderia.

E o mexicano se tornaria o mais jovem da história a largar na primeira fila! Na prova, Ricardo não teve a mesma sorte, abandonando logo na 13ª volta (andava em terceiro) com problema na bomba de gasolina.

No ano seguinte, o mexicano seguiria na equipe, tendo bons desempenhos (quarto na Bélgica e sexto na Alemanha). Na reta final do certame, porém, a Ferrari optou por não competir, e o mexicano precisou buscar outra equipe.

Conseguiu um assento num Lotus particular, e foi disputar o primeiro GP do México da história — uma prova extra-campeonato.

Nos treinos, tentando superar a marca de John Surtees, Ricardo Rodríguez rodou e bateu a 300 km/h na lendária curva Peraltada.

httpv://youtu.be/GYLDnCmcZz0

Tony Brise — 23 anos

Filho de John Brise, corredor que obteve algum sucesso na Fórmula 3 nos anos 50, Anthony William Brise iniciou no kart aos 8 anos.

Aos 18, participou do britânico de Fórmula Ford 1600, sendo vice-campeão da temporada 1971. No ano seguinte, começou a correr na Fórmula 3, sem muito destaque. Mas em 1973 vence dois dos três campeonatos que disputa.

Seu projeto para 1974 era competir na Fórmula 2, mas foi atrapalhado por dificuldades financeiras. Participou, então, da Fórmula Atlantic, com algum destaque. Acabaria despertando o interesse de Frank Williams, que lhe oferece uma vaga (substituindo Jacques Laffite) para o GP da Espanha de 1975.

Apesar de a prova ter sido interrompida pelo terrível acidente de Rolf Stomellen, o desempenho de Brise chama a atenção de Graham Hill, agora chefe de equipe (Embassy Hill). Brise corre pelo time do lendário piloto até o fim da temporada, com alguns bons desempenhos – pontuou no GP da Holanda, sexto lugar.

A expectativa para 1976 era enorme, mas um acidente aéreo vitima Brise, Graham Hill além de outros membros importantes da equipe.

httpv://youtu.be/0YDNvy41io0

Jules Bianchi — 25 anos

Neto de Mauro Bianchi (piloto de turismo nos anos 60) e sobrinho-neto de Lucien Bianchi, vencedor de Le Mans 1968 e com 19 GPs de F1 no currículo, Jules iniciou sua carreira no kart antes de completar 4 anos, aproveitando a pista que era propriedade de seu pai.

Começou nos monopostos aos 17, e de cara venceu a Fórmula Renault francesa em 2007. Um ano depois, competiu na EuroSeries, terminando o campeonato na terceira posição. No ano seguinte, ganhou o título da categoria competindo com nomes como Valtteri Bottas e Estebán Gutierrez.

Em 2010 e 2011, compete pela GP2, obtendo algumas vitórias e poles, mas sem o título. Neste segundo ano, assina com a Ferrari para ser test driver da Scuderia. Aos poucos passa a ser nome (re)conhecido no paddock.

Para 2012, assume a vaga de piloto de testes na Force India e ao mesmo tempo compete na  F-Renault 3.5, conseguindo algumas vitórias e o vice-campeonato.

O grande sonho se consuma em 2013, quando Bianchi se torna titular da Marussia. Com um carro de fundo de pelotão, luta muito para conseguir pontuar. No GP de Mônaco de 2014, conquista os primeiros – e únicos – pontos da história da equipe, um feito e tanto.

Encontra o destino numa prova chuvosa  em Suzuka, num acidente que teve tudo de bizarro. Vale ler o que disse Gary Heinstein, ex-médico da FIA.

httpv://youtu.be/frug0ZgUt88

São três histórias de jovens que tinham talento, mas que não tiveram tempo de encontrar o contexto ideal para demonstrá-lo. No entanto, tudo leva a crer que essa hora cedo ou tarde iria chegar.

Cada um deles poderia e deveria ter oportunidades futuras em grandes carros (Ferrari e Williams) e, quem sabe, conquistar títulos.

Talvez pudessem seguir a trajetória de um David Coulthard ou de um Rubens Barrichello, grandes vencedores nas fórmulas menores, com portas abertas nas maiores marcas da F1, mas sem conhecer a glória máxima.

Ou, ainda, poderiam acabar sucumbindo à pressão e não correspondendo às expectativas criadas em torno de si.

É claro que é sempre melhor acreditar na primeira hipótese.

Depois de quatro longas semanas, a Fórmula 1 volta no próximo fim de semana.

Abraços a todos!

Marcel Pilatti
Marcel Pilatti
Chegou a cursar jornalismo, mas é formado em Letras. Sua primeira lembrança na F1 é o GP do Japão de 1990.

6 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Belo texto, amigo Marcel!

    Nos resta apenas especular e imaginar o que teria acontecido caso o destino destas feras tivesse sido diferente.

    E no belíssimo vídeo em homenagem ao piloto mexicano, a música é a mesma que toca no final do filme La Bamba.

    Muito legal!

    E que venha o GP da Bélgica neste domingo.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

  2. Marcio disse:

    Bianchi e Brise eram muito bons , mas sempre considerei o mexicano um dos maiores fenômenos que já apareceram na F1.Um cara que aos 18 chega em 2º em le mans e que ao entrar pela 1ª vez num F1 aos 19 crava um 2º lugar no Grid à frente de Phil Hill ( que seria campeão naquele ano e com o mesmo carro) , Graham Hill (futuro campeão em 62 e 68), Clark (idem em 63 e 65), Brabham ( campeão em 59/60 e futuro 66), além de feras como Moss, Gurney, Mclaren, Bandini etc. e etc. , todos mais velhos e mais experientes do que ele só pode ser rotulado de fenômeno, mesmo levando-se em consideração que dirigia o carro dominante naquele ano (Ferrari 156).

  3. Fernando Marques disse:

    Marcel,

    cada um tem o seu destino … esta é uma grande verdade
    E assim como o Manuel me atrevo a colocar o Ronnie Peterson no item 2 … por sua grande mostra de habilidade …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

    • Marcel Pilatti disse:

      Fernando,

      Peterson certamente foi um dos grandes nomes e ídolos da historia da F1. Escrevi sobre ele uma coluna aqui no GPTo, em 2013.
      Porém, classifiquei-o no “terceiro grupo” por entender que ele teve uma carreira, inda que curta, com tempo suficiente para entendermos que ele não chegaria “lá”… Foi batido por companheiros de semelhante quilate — Emerson, Andretti. Também teve ao dispor grandes carros.
      Alem disso, ele disputou o dobro de GPs de Gilles e Rindt.

      Abraço!

  4. Manuel disse:

    Muito bem Marcel !

    Me atrevo a incluir nessa lista de pilotos a Roger Williamson.

    abs.

    • Marcel Pilatti disse:

      Manuel,

      O nome de Williamson foi um dos quais pensei, assim como Helmut Koenigg e alguns da virada 50/60.

      Abraços!

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