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Tudo sobre o GP da Hungria de 2013 e as perspectivas para o futuro do automobilismo brasileiro dentro e fora das pistas.

Existem diversos assuntos a serem abordados em relação a este GP da Hungria de 2013. A começar pela difusão. Em nossa página no Facebook, fizemos uma enquete informal entre os leitores, perguntando quantos tiveram acesso fácil à corrida, e o que acharam da transmissão. O post continua aberto, e quanto mais opiniões forem divididas, mais rico o painel para nossa análise.

Baseado no grande número de comentários imediatos, podemos concluir que a maior parte dos fãs de automobilismo já possui acesso direto ou indireto a canais de tevê por assinatura. Claro que é considerável o número de pessoas que deixaram de ver a corrida por não disporem deste tipo de serviço, e claro que a opção por um canal da tevê fechada torna o mais elitista dos esportes – no pior dos sentidos –, algo ainda mais restritivo. Ainda assim, é importante considerar que o número de brasileiros com acesso a canais pagos cresce a cada dia, e que este quadro está longe de estagnar.

Continuo com minha opinião em aberto em relação a este assunto. Para mim, tudo depende da forma como uma eventual transição venha a ser feita. Se, a exemplo da MotoGP, a transmissão em tevê fechada significar uma cobertura mais ampla e informativa, então sou a favor a partir do momento em que mais brasileiros tenham acesso a ela. Se, por outro lado, ela significar a perda de informações, então não, não posso concordar.

Em relação à qualidade da transmissão, apenas um comentário rápido e pessoal: gostei muito do trabalho do Max Wilson, especialmente no início da prova. Informativo, direto, solto. Não me surpreendeu por completo, porque nas várias vezes que o entrevistei sempre obtive respostas técnicas, precisas e bem articuladas. Em minha opinião, funcionou muito bem.

Em meio a tantas interferências esportivas, desde a mudança na estrutura dos pneus até a realização de testes secretos e irregulares, passando por “compensações” punitivas, a vitória de Lewis Hamilton na Hungria não deixou de representar um triunfo do esporte. Sua atuação soberba fez valer a vontade, o talento, o oportunismo e a afinidade entre piloto e pista, vencendo uma maré de manipulações que, noutras condições, teriam esvaziado o real significado da prova.

A começar pela qualificação. Quando o conjunto Vettel-Red Bull parecia numa classe à parte, e ainda dispunha da vantagem de dois jogos de pneus macios na Q3, Hamilton sacou uma volta perfeita e conquistou uma pole tão improvável, que nem mesmo ele parecia acreditar num primeiro momento. O carro da Mercedes, no entanto, sempre brilhou mais em treinos. Manter-se na liderança num calor de 40º, mesmo em uma pista travada como o Hungaroring, parecia um prognóstico muito mais improvável.

Veio a largada e Lewis foi mais uma vez competente. Enquanto Vettel era obrigado a defender sua 2ª colocação de forma até truculenta, o inglês tinha folga suficiente para contar a primeira curva sem maiores ameaças. Metros atrás muitas coisa estava acontecendo, mas deixemos isso para daqui a pouco. Em relação aos líderes, Vettel ainda ensaiou um forte ataque inicial, mostrando a força do ritmo que seria capaz de imprimir com pista livre. Hamilton, no entanto, tinha a situação sob controle, e após algumas voltas começou a aumentar o ritmo, contrariando as expectativas de quem esperava ver um longo trem de carros limitados pela Mercedes durante todo o 1º stint.

Por dez vezes os líderes cruzaram a reta de chegada, antes que Lewis se encaminhasse para a 1ª troca de pneus. A esta altura seu ritmo já não era melhor do que o dos pilotos que haviam largado com pneus duros, e a Mercedes apostava que o campeão de 2008 pudesse voltar à pista logo à frente da McLaren de Button, e com pista livre pela frente. Isso, no entanto, não aconteceu.

Deu-se, então, o momento central da corrida. Com pneus novos e a obrigação de andar mais rápido que Vettel com pista livre, restava a Hamilton superar rapidamente o antigo companheiro de equipe, a esta altura com pneus médios ainda bastante razoáveis. Tudo indicava que Lewis tinha acabado de abandonar a briga pela vitória, a tal ponto que a Red Bull optou por permanecer na pista uma volta a mais, apostando no tempo que o rival direto iria perder atrás de Button.

Dois eventos, no entanto, mudaram completamente o rumo da corrida. De um lado, Lewis foi muito eficiente ao conseguir a ultrapassagem ainda na volta de retorno, conservando seu melhor posicionamento estratégico. Ao mesmo tempo, Vettel começava a ter dificuldades para arrancar tempos bons de seus desgastados pneus macios, e corria o risco de, também ele, voltar atrás de Jenson. Na volta 12 o tricampeão rumou aos boxes, apenas para retornar à pista logo atrás da McLaren. Button, a essa altura, adota uma postura mais defensiva, e se aproveita da menor velocidade final da Red Bull para segurar Vettel e um longo pelotão por muitas voltas. O campeão de 2009 acaba sendo assim o grande divisor de posicionamentos ao longo da corrida, garantindo a Hamilton a oportunidade de construir uma vantagem que iria conservar até o fim.

Vitória maiúscula, no braço e na raça, para ser lembrada entre as maiores atuações de um grande campeão mundial.

Com a segunda colocação que ampliou se recorde de pontuações consecutivas, Kimi Räikkönen superou mais uma vez a Ferrari de Fernando Alonso na tabela de pontos. E sobre a equipe italiana, poderíamos dizer que as férias de verão tiveram o efeito de um gongo que soa às vésperas de um nocaute.

A despeito dos acordos contrários ao desenvolvimento dos carros neste período sem corridas, Maranello sabe que precisa de um pacote urgente que seja capaz de devolver Fernando Alonso à briga por vitórias, sob pena de perder mais uma campeonato e, quiçá, seu bicampeão mundial.

Ao longo do fim de semana houve contatos entre o staff do asturiano e representantes da Red Bull, emoldurados por declarações bastante curiosas de ambas as partes. Tudo, é claro, pode não passar de mais uma jogada oportunista, de um lado buscando reduzir a força de negociação de Kimi Räikkönen junto à equipe campeã do mundo, e de outro colocando uma pressão saudável sobre a Ferrari em relação ao tratamento dispensado ao seu 1º piloto. Ainda assim, é certo que existe uma força de atração entre a melhor equipe e um piloto como Alonso, de tal modo que a hipótese não deva ser completamente descartada.

Na Hungria, mais uma vez, Fernando, não teve ritmo para brigar pela vitória. E, para piorar, ainda deu declarações a respeito de sua insatisfação, que terminaram por render uma bronca pública no site da equipe.

Em relação a Felipe Massa, sua corrida talvez possa ser resumida numa expressão bem brasileira: “economia porca”.

Em sua disputa com Nico Rosberg na volta inicial, Felipe novamente confundiu força com inflexibilidade, traindo a própria falta de confiança em relação ao ritmo que é capaz de desenvolver, e das possibilidades que tem de ganhar posições através da estratégia. Seus resultados dependem cada vez mais do posicionamento obtido nos metros iniciais, e esse tipo de postura obviamente expõe a acidentes. O toque com Rosberg acabou rendendo uma posição imediata, mas obviamente custou desempenho no restante da corrida. Por sua vez, a Ferrari adotou a mesma postura ao economizar um par de segundos na troca de pneus, quando optou por não substituir o spoiler dianteiro. O prejuízo, novamente, acabou sendo muito maior que o benefício.

No momento do ano em que os telefonemas são feitos, Felipe tem sua posição extremamente fragilizada junto ao time e à categoria como um todo. Com a dança de cadeiras que se desenha a partir da vaga aberta por Mark Webber, ninguém deve se surpreender se houver mudanças em sua situação ao fim do ano.

Olhando para o futuro, os prognósticos para o Brasil também não parecem muito animadores. Na GP2 Felipe Nasr é o único nome, e a despeito de ser o vice-líder do campeonato e ter reduzido a desvantagem em relação a Stefano Coletti de 27 para 6 pontos na rodada da Hungria, continua sem vitórias na categoria. Possui resultados (e patrocínios) bons o bastante para garantir uma vaga na F1, sem dúvida. Mas, ainda assim, sua passagem pela GP2 tem sido menos vistosa do que os desempenhos apresentados pelo próprio Nasr em temporadas anteriores.

Na World Series, por sua vez, Pietro Fantin, André Negrão, Yann Cunha e Lucas Foresti têm alternado momentos de maior competitividade com uma rotina de acidentes, azares e aprendizados que até o momento não os credenciam a saltos maiores nas respectivas carreiras. O momento, com certeza, é de alarme.

Com perspectivas frágeis para o futuro próximo, pistas ameaçadas e categorias de monopostos à beira da extinção, o automobilismo brasileiro começa a colher os maus frutos que vem plantando há vários anos. Resta agora saber se o público verdadeiramente interessado no esporte, e nos belos espetáculos produzidos por uma das gerações mais fortes de todos os tempos, é suficiente para sustentar as audiências mínimas necessárias, ou se, de fato, teremos que nos acostumar com a ideia de ver a Fórmula 1 pela tevê fechada.

Abraços, e uma ótima semana a todos.

 

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

2 Comments

  1. Fernando Marques disse:

    Com a impossibilidade de poder torcer pelo Massa, pelo momento que passa o Felipe Nasr na GP 2 e pela realidade vista no automobilismo brasileiro me sinto muito preocupado com relação ao futuro do Brasil no automobilismo mundial …
    Concordo plenamente com tudo que o Marcio escreveu.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  2. Mauro Santana disse:

    Bela coluna amigo Marcio!

    A respeito da corrida, só quero deixar dois comentários ambos envolvendo o maluco Groja:

    No primeiro, locutor e comentaristas da Sportv falaram que Button jogou sujo com Groja.

    Pombas, será que os caras não assistem a mesma corrida que nós?!

    É só rever a câmera que mostra os dois carros de frente vindo em direção a chicane, e é nítido que Groja vem com seu Lotus para cima do Mclaren do Button, que já no limite da pista nada podia fazer, ou será que estes comentaristas queriam que o inglês colocasse duas rodas na grama!?

    O segundo é a punição que o maluco Groja tomou por colocar duas rodas para fora da pista ao ultrapassar o Massa.

    Vejam, quando alguém faz uma manobra bonita e arrojada, sofre punição.

    O que estes comissários querem!?

    Que a corrida seja uma chatice monótona!?

    Realmente lamentável.

    Agora, o futuro do nosso país realmente é preocupante, pois as gerações que puderam acompanhar nossos campeões mundiais, a cada ano que passa só tende a diminuir, pois o tempo passa e é implacável, e infelizmente, como é que a garotada de hoje vai se amarrar em curtir a F1 sem um grande ídolo brasileiro vencedor para poder torcer!?

    Mesmo com as feras atuais nas pistas, acredito que muitos aqui das antigas torciam para o Fittipaldi, Piquet e Senna, e não se permitiam em querer ver um Stewart, Regazzoni, Lauda, Prost, Mansell, Schumacher, e algumas outras feras vencendo seus ídolos, pois havia respeito por nossos rivais, mas o bom mesmo era ver os nossos campeões vencendo corridas e ganhando campeonatos.

    Do jeito que anda, com que moral nós brasileiros ficamos!?

    Mesma coisa na seleção brasileira de futebol.

    Agora que parece que reencontramos o caminho, mas a nossa amarelinha, até o jogo contra a Espanha, já fazia um bom tempo que não assustava mais ninguém.

    Mas, é tudo uma questão de, Respeito, Planejamento, e Amor pelos esportes que tanto amamos, e infelizmente, os que estão no comando, não pensam assim.

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

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