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Muitas corridas, muita emoção?
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Movido pela raiva
23/03/2016

Quais são os indícios que Melbourne apresenta para a temporada de 2016?

Apesar de todas as ressalvas que devem ser feitas a informações colhidas numa pista que foge aos padrões médios do campeonato, Melbourne deu diversos indícios sobre o que se pode esperar da Fórmula 1 neste início de 2016.

De imediato, fica a impressão de que os carros estão mais rápidos e mais agrupados – o que é algo a ser comemorado. A Mercedes continua com a cabeça acima da concorrência, sobretudo em qualificações, mas Vettel conseguiu igualar a disputa durante a corrida, e teria boas chances de vitória não fosse pela escolha equivocada de pneus após uma bandeira vermelha que – para a Ferrari – aconteceu num momento bastante inoportuno. Se nas próximas etapas Räikkönen conservar a motivação e continuar se infiltrando entre as flechas prateadas, poderemos ver sim algumas vitórias ferraristas em condições normais de disputa.

Muito positivo também ver o bom desempenho entregue por Toro Rosso, Red Bull (linda!) e Force India, além da expressiva melhora da Manor, agora efetivamente uma equipe de F1, e da vibrante estreia da Haas, acrescentando uma muito necessária diversidade ao grid da categoria.

As melhores indicações do fim de semana, contudo, vieram da pluralidade de estratégias tornadas possíveis pela utilização de três compostos diferentes de pneus (agora só falta revogar a obrigatoriedade da própria troca, para elevar essas opções a um outro e saudoso patamar), e do anúncio de que o formato dos treinos classificatórios retornará à fórmula anterior a partir do Bahrein, após o fiasco de mais uma tentativa de “gerar emoções” do jeito errado.

A impressão que fica, em resumo, é de que a Fórmula 1 mudou menos do que precisava, mas ainda assim melhorou sensivelmente em relação a 2015 – o que não quer dizer muito. O tempo irá confirmar ou derrubar essas palavras, mas parece que a categoria passou por um bem-vindo upgrade.

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httpv://www.youtube.com/watch?v=VkUkjRMpCDc

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A corrida em poucas palavras.

Pelo segundo ano consecutivo o russo Kvyat não conseguiu largar na Austrália, levando a direção a realizar uma segunda volta de apresentação que certamente deu aos times um pouco mais de folga na administração do consumo de combustível, e gerou certo constrangimento dada a lerdeza com que o bólido foi retirado da pista. Além disso, fiquei com a impressão de que as luzes vermelhas demoraram além do normal para que fossem apagadas, e gostaria de saber se isso teve alguma relação com os arranques problemáticos de alguns carros – entre os quais as duas Mercedes.

Com muita decisão e fazendo bom uso da famosa embreagem da Ferrari, Vettel meteu-se no meio das flechas prateadas e, a despeito da vigorosa fritada de pneus de Nico Rosberg, sustentou a ponta na curva 1. No mesmo lugar, por sinal, Rosberg e Hamilton voltaram a se tocar, com força o bastante para que uma pequena aleta fosse arrancada do spoiler do inglês, que caiu para sexto, atrás de Massa e de Verstappen. Kimi aproveitou o toque entre os companheiros de equipe para assumir a segunda posição, desenhando um panorama bastante favorável para a Ferrari brigar pela vitória.

Foram necessárias quatro voltas e a liberação do DRS para que Hamilton finalmente superasse a Williams de Massa, atrasada pela retardatária Renault de Magnussen, numa zona de tração. Até então ele vinha perdendo cerca de dois segundos por volta, e a partir daí passou a girar em ritmo parecido ao do líder, até ficar novamente limitado, desta vez por Max Verstappen. Sem conseguir superar o piloto da Toro Rosso, Hamilton continuou perdendo um segundo para Vettel a cada giro, até a primeira rodada de pit stops.

Rosberg a esta altura chegou a marcar a melhor volta da corrida, mas não parecia ter condições de superar Räikkönen na pista. Chamava a atenção também a forma como Pascal Wehrlein, ao volante da Manor, mantinha-se consistentemente à frente de Ericsson, Bottas e Nasr, enquanto a outra Toro Rosso, de Carlos Sainz, inaugurou as trocas de pneus na volta nove para deixar de perder tempo atrás da Wiliams de Massa. Já sem desempenho, o brasileiro logo foi superado pela Red Bull de Ricciardo, que a esta altura partia à caça de Hamilton.

Rosberg fez sua troca na volta 13, e teve que forçar muito na curva 1 para poder ter pista livre. No giro seguinte foi a vez de Vettel ir aos boxes defender sua posição, e em seu retorno só não foi superado pelo filho de Keke porque é mais piloto do que ele. Calçado com super macios, Vettel iniciou uma série de voltas de qualificação, que incluíram uma decidida ultrapassagem sobre Hamilton, ainda com pneus velhos. De forma curiosa o inglês ofereceu muito mais resistência ao avanço de seus companheiro de equipe, novamente posicionando Vettel muito bem em relação à concorrência.

Ninguém, no entanto, podia prever o seríssimo – e, felizmente, inofensivo – acidente de Alonso na volta 17, após colher a traseira da Haas de Gutierrez na frenagem para a curva 3. A prova foi interrompida por vinte minutos, e toda a vantagem que Vettel vinha construindo foi-lhe tirada.

Durante o intervalo a Ferrari optou por manter Sebastian com pneus super macios, ao passo que Rosberg e Hamilton optaram pelos médios numa tentativa de levar o carro até o fim. Seria possível dizer que o resultado da corrida definiu-se nessa escolha, mas isso seria injusto com o bom ritmo que Rosberg conseguiu imprimir com os compostos médios, evitando a fuga de Vettel que o permitiria trocar e recuperar a ponta.

No fim, Nico ainda iria enfrentar problemas de superaquecimento no freio em seu freio dianteiro direito, bloqueado por detritos, bem como um desgaste excessivo do pneu traseiro esquerdo. Em nenhum dos casos, graças às novas restrições de utilização do rádio, a equipe teve como passar as informações ao piloto. Nada disso, contudo, o impediu de anotar sua quarta vitória consecutiva. Hamilton, oito segundos atrás, teve de segurar o ataque final de Vettel para completar a dobradinha prateada.

Também merecem destaque as boas corridas de Ricciardo (4º) e Grosjean (6º). O piloto da Haas teve a sorte de fazer sua única troca de pneus sob bandeira vermelha, mas fez jus ao resultado ao segurar, por mais de meia corrida, os ataques de Hülkenberg e Bottas. Entre os dois terminou Felipe Massa, curiosamente após trocar de capacete durante a interrupção, num resultado que não refletiu a discrição de seu desempenho. A rigor, a menos que o novo bico traga melhoras significativas ao desempenho da Williams, não se deve esperar pontuações tão abundantes por parte do brasileiro neste início de temporada.

Por fim, impossível não dedicar algumas palavras a Max Verstappen, numa atuação que sublinhou tanto seu brilhantismo quanto sua imaturidade. Suas declarações ao rádio, praticamente exigindo uma inversão de posições com o companheiro de equipe, meses depois de ter sido tão enfático ao rejeitar ordem semelhante, foram patéticas, para dizer o mínimo.

Por melhor piloto que seja – e é – Max ainda deve levar alguns anos para perceber, com todo o respeito, que Fórmula 1 é coisa para homens (ou mulheres), não para meninos. Esperemos que em menos tempo os responsáveis pela categoria possam chegar à mesma conclusão.

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Na certeza de que a abertura da MotoGP será bem abordada pelo colega Lucas Carioli, desejo uma ótima temporada a todos.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

4 Comments

  1. Mauro Santana disse:

    Senhores

    Gostei da corrida, foi bastante movimentada e agitada.

    Agora vejam só um ponto interessante:

    Quando as Ferraris pularam na ponta, teria sido um GP super interessante caso não existisse essa obrigação de trocas de pneus e asa móvel.

    Isso que me incomoda na F1 faz tempo, pois eu sabia(e nao estava sozinho) no momento em que a Ferrari pulou na ponta, que era uma liderança provisória.

    Já passou da hora desta regra besta de obrigarem os pilotos a pararem nos box, seja pra trocar pneus, ou, seja pra reabastecer.

    Excelente semana a todos.

    Abraço!

    Mauro Santana
    Curitiba-Pr

  2. Rafael Carvalho disse:

    Pessoal, no momento do choque entre Alonso x Gutierrez o mexicano estava em qual posição? O que pude perceber é que Grosjean irá descer o sarrafo no Gutierrez! Quanto a Williams não vou esperar muita coisa, tiverem um 2014 ótimo e um 2015 decepcionante! Acho que esse ano não será muito diferente no time do tio Frank!

  3. Mário Salustiano disse:

    amigos

    me chamou a atenção a forma mais madura e segura que Hamilton adotou a partir do momento em que ele caiu para sexto, diferente do cara precipitado, afobado e partindo para cima que o caracteriza nesse tipo de situação, dessa vez ele teve uma visão mais abrangente da prova como um todo e pareceu preferir minimizar o prejuízo quando viu que não dava para ir buscar uma disputa com Rosberg, até me pareceu que a falta de combatividade a Vettel foi uma tática para deixar a vitória cair no colo do ferrarista em detrimento do companheiro, também foi interessante ele adotar uma postura pacifica ao final indo abraçar, olha sei não, mas se ele for mais cerebral esse ano deve levar novamente o título, talvez até mais fácil
    Aguardemos mais GPs para avaliar
    abraços
    Mário

  4. Fernando Marques disse:

    Amigos,

    assistir estas corridas de madrugada não dá mais para mim …o sono não deixa ver nada … o jeito é esperar o dia raiar e ver o VT na internet …
    O pouco que vi no VT deu para ver que foi uma corrida movimentada … o que faz a corrida merecer uma boa nota.
    O acidente do Alonso foi feio mas nota 1000 para a tecnologia da Formula 1 no quesito segurança e célula de sobrevivência. Ver o Alonso saindo sozinho do carro era algo mais que inesperado naquele momento.
    A corrida salvou o triste espetáculo visto no Q3.
    Eu penso que se a Ferrari der um carro para Raikkonen rigorosamente igual ao do Vettel veremos com certeza belos duelos na pista entre eles e a dupla da Mercedes.

    Fernando Marques
    Niterói RJ

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