Winning is not enough

O Grande Mario
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Barão, eterno
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Uma análise sobre os 3 maiores nomes da Fórmula 1 atual.

Uma das frases mais famosas dentre as que são atribuídas a Ayrton Senna diz algo mais ou menos assim: “Todo ano alguém vence o campeonato. É preciso fazer algo além disso”. Por sua vez, a biografia de Sir Jackie Stewart recebe o título desta coluna, que numa tradução livre significa “Vencer não é o bastante”. Mas, afinal, o que pode estar além da vitória, entre os objetivos de um esportista? O que seria este “algo a mais” de que nos falam Senna e Stewart, que parece se revelar apenas aos olhos de quem, num dado momento da vida, percebe ter alcançado todos os objetivos que um dia o levaram a dar o primeiro passo?

A reflexão é oportuna, e logo veremos por quê.

De imediato, creio existir uma diferença fundamental entre os estímulos encontrados por Ayrton Senna e Jackie Stewart quando ambos atingiram o topo e, de repente, tiveram que buscar novos objetivos a serem atingidos. De um lado, Stewart claramente assume uma postura mais filosófica em relação à vida, valorizando questões contextuais que extrapolam as conquistas, e dão enorme peso à maneira como estas são obtidas. Podemos capturar aí valores como cavalheirismo e honra, além de um interesse crescente por causas nobres, como a busca por segurança no esporte.

Já Ayrton Senna, competidor obcecado que sempre foi, naturalmente buscou novas motivações através de um enfoque mais esportivo, entendendo que a verdadeira grandeza histórica de um atleta não se expressa meramente em estatísticas, mas sobretudo no brilhantismo com que estas são preenchidas. E passou a buscar vitórias espetaculares e a se entregar a lutas que dificilmente poderia vencer, construindo sua aura legendária a partir de uma crescente intimidade com o impossível.

De um jeito ou de outro, o que Senna e Stewart nos mostram é que chega um momento na carreira do piloto vencedor no qual a simples busca por novos números deixa de justificar os riscos assumidos. Claro que vai aí um enorme abismo entre o contexto dos anos 70 e a realidade atual, tanto no que toca os riscos envolvidos quanto na amplitude dos recordes a serem batidos. Mas, ainda assim, alguns dos pilotos que alinham no grid atualmente com certeza começam a se deparar com essas questões, num cenário de forças invisíveis de bastidores que podem, dentro de alguns anos, reeditar contextos que levaram torcedores ao delírio nos anos 80.

E então, às vésperas de uma nova temporada, nos deparamos com a pergunta inevitável: afinal de contas, o que falta à carreira de Vettel? O que falta a Alonso? O que falta a Hamilton? O que falta a Räikk… Não, esqueçam. Kimi não está nem aí para seu papel histórico. Mais alguém? Schumacher se foi, Kubica (ainda?) não tem condições de voltar… Button… Não, Button está na melhor condição que poderia aspirar, liderando a McLaren, e há anos vem tirando tudo que seu talento (mais humilde que os dos demais citados) permite. É, fiquemos com Vettel, Alonso e Hamilton por enquanto. Afinal, o que falta a cada um deles?

Sugiro começarmos por Lewis, pois foi dele a principal mudança do ano. Vamos lá, por que Lewis se mudou para a Mercedes?

Podemos apontar aí diversos fatores, e prefiro começar pelo dinheiro, simplesmente para nos livrarmos logo dele. O salário, garantem várias fontes próximas, não foi o ponto principal, porque a McLaren igualou a oferta. Os alemães, no entanto, deram ao piloto liberdade publicitária muito maior, o que acaba fazendo enorme diferença no fim das contas. Sim, em termos financeiros, a mudança acabou sendo vantajosa.

Além disso, nós temos visto ao longo do tempo um Lewis Hamilton visivelmente dedicado a romper com a imagem do garoto brilhante que foi adotado ainda jovem pela McLaren, buscando um tratamento, digamos, mais adulto. Primeiro, ele rompeu com o pai, buscando administradores que o tratassem como cliente, e não como filho. E agora, após manifestar diversas vezes seu descontentamento com a forma como a McLaren tantas vezes o ignorava na hora de buscar o acerto fino de seus carros, e depois de viver debates públicos a respeito de questões como amadurecimento, relacionamentos íntimos e reduções salariais, Lewis talvez tenha entendido que, em Woking, jamais seria realmente tratado como adulto.

Mas, creio que podemos ir ainda mais fundo. Acostumado a vencer por onde passou, e tendo chegado ao topo da Fórmula 1 em apenas duas temporadas, Lewis viu crescer sobre si a incômoda sombra de Sebastian Vettel, rival dos tempos da F-3, quando ele, Hamilton, vencia tudo. Ora, não é preciso adentrar muito os terrenos da suposição para acreditar que, em seu íntimo, Lewis acredita ser capaz de bater Vettel em carros iguais. Crença esta que, de forma inevitável, irá se manifestar num crescente descontentamento com o papel de coadjuvante de luxo, levando-o a buscar mudanças. A ida para a Mercedes pode ter sido apenas a primeira delas, a depender do sucesso obtido pelo conjunto.

Vamos lá: ninguém espera que a Mercedes brigue pelo campeonato, após as atuações dos últimos três anos. Daí, se a equipe acerta a mão como em 2009 e Hamilton vence constantemente ou é campeão, naturalmente será apontado como o fator decisivo para o triunfo. Um título mundial sob estes aspectos sempre agrega enorme valor histórico, representando uma espécie de atalho rumo ao posto de preferido da crítica e da opinião pública. Vencer pela Mercedes, portanto, valeria mais prestígio do que vencer pela McLaren. Perder, por sua vez, representaria estrago muito menor à sua imagem.

Por outro lado, uma longa permanência sem vitórias far-lhe-ia estrago semelhante ao que vimos à imagem de Valentino Rossi em sua passagem pela Ducati. E nós sabemos qual foi o passo seguinte adotado pelo Doutor… Não, Hamilton não irá se conformar com um longo período sem vitórias, e não me admiraria se ele, após uma longa estiagem de vitórias e com os bolsos cheios, viesse a oferecer seus serviços a um baixo preço, para correr ao lado de Vettel ou Alonso num ano de tudo ou nada.

Mudando nosso foco para o momento vivido por Alonso, encontramos uma realidade um tanto diversa. Completando 32 anos em julho, o asturiano há muito deixou para trás o menino prodígio que arrebatou dois títulos mundiais em meados da década passada, roubando, no processo, o recorde de juventude que por mais de 30 anos pertenceu a Emerson Fittipaldi. Hoje, às vésperas de iniciar sua 12ª temporada como piloto oficial, Alonso é um piloto que conseguiu desvencilhar um pouco sua reputação da frieza dos números, da mesma forma como Nelson Piquet (sua encarnação anterior nas pistas) fez antes dele. Todavia, começando seu quarto ano pela Ferrari, Fernando sabe que lhe falta um título pela Escuderia. Como sempre me diz o Barão Fittipaldi, “não basta jogar bonito. O povo quer bola na rede”.

Para Alonso, portanto, uma saída da Ferrari seria prejudicial por si só, assumindo ares ou de fracasso ou de covardia. Existe entre os analistas a percepção de que a um piloto não basta guiar com habilidade e coração, mas também lhe é pedido que lidere a equipe através de motivação e feedback, ajudando a construir e lapidar um carro capaz de derrotar a concorrência. Por sua vez, sabemos que o repetido suporte público que ele vem oferecendo a Felipe Massa tem suas origens lá em 2007, na experiência nada agradável de ter corrido ao lado de outro pitbull. Assim, Alonso não teria qualquer motivo para aceitar, ao menos num primeiro momento, dividir novamente uma equipe com outro campeão mundial.

Existem, no entanto, dois fatores a serem encarados numa análise de longo prazo. O primeiro é que muita gente ficou com a impressão de que Lewis venceu o duelo nos quintais da McLaren em 2007, deixando aí alguns negócios inacabados em sua carreira. E o segundo é que, dentro de mais alguns anos, a própria Ferrari terá de começar a pensar num sucessor para o espanhol, da mesma forma como fez até mesmo com Michael Schumacher ao fim de 2006. E, nesta lista, alguns nomes são bastante óbvios.

Por fim, Vettel. Digam-me, por favor (e tenham certeza de que lerei cada comentário), o que falta à carreira desse garoto, se é que falta alguma coisa?

Nosso amigo Manuel Blanco escreveu recentemente sobre possíveis pontos fracos do jovem fenômeno, mostrando que ele ainda não é unanimidade. Pessoalmente – e digo isso desde2008 aquem me é mais próximo – ele é o piloto cuja tocada mais me encheu os olhos desde a morte de Ayrton Senna. Mas, dito isto, acho que podemos apontar ainda diversas situações pelas quais ele ainda não passou.

Para começar, Vettel ainda não sabe o que é perder.

Uma coisa é você dar tudo de si na tentativa de somar pontos ao volante de uma Toro Rosso em seu primeiro ano na categoria. Outra coisa é se perceber de volta ao pelotão intermediário, tendo se acostumado a guiar lá na frente. Talvez, inclusive, o mau momento vivido pelo alemão em meados da temporada passada se deva justamente a esta inevitável ansiedade de quem se acostumou a vencer, da mesma forma como Ayrton Senna ficou muitas vezes abaixo de seus próprios padrões ao longo de 1992. Mas, uma coisa é certa: Vettel irá perder, mais cedo ou mais tarde.

Paralelamente, conquistar agora um quarto título em sequência, correndo cercado pelas mesmas pessoas, pouco iria acrescentar à sua biografia. Todos nós sabemos do que Vettel é capaz, quando em sua zona de conforto. Agora, se ele quiser cruzar a fronteira que nem os números de Michael Schumacher puderam superar, então ele sabe que terá de correr ao lado de Alonso ou Hamilton. E vencê-los.

Além disso, Vettel sabe que mais cedo ou mais tarde terá de procurar vaga em outra equipe. Por mais que o senhor Dietrich seja um apaixonado pelas pistas, é sempre bom lembrar que sua empresa tem como finalidade vender bebidas energéticas, e o envolvimento com corridas sempre teve grande peso publicitário. Um ou dois carros mal nascidos, uma ou duas cabeças que deixem a equipe e pronto, todo o castelo de cartas pode desmoronar, como tantas vezes já foi visto no passado. O nível de comprometimento, se é que podemos colocar dessa forma, tem que ser diferente do de equipes como Ferrari, McLaren ou Williams, com suas muitas décadas de tradição nas pistas, e suas missões inteiramente ligadas à construção de carros de corrida ou de passeio.

No fim, a realidade é bastante simples: quer vencer a longo prazo? Então assine com Ferrari ou McLaren e trate de liderar a equipe. Será que alguém duvida que isso acontecerá com Vettel em algum momento dos próximos anos?

Pois é, historicamente os grandes pilotos das mais diversas eras têm guiado os rumos de suas respectivas carreiras em meio a poderosas forças de atração e repulsão mútuas, muito similares aos diferentes pólos de um mesmo imã. De um lado, óbvio, ninguém gosta de estar em batalha constante, nem tampouco do cansaço físico e mental que este tipo de relacionamento demanda. De outro, a necessidade última de se provar contra os melhores, de matar a própria curiosidade a respeito do valor histórico que lhe cabe, além do irresistível estímulo a se aventurar nos limites do próprio talento, sempre acabam por gerar, raras vezes ao longo de uma década, alguns destes encontros que entram para a história. No linguajar da vinicultura, poderíamos dizer que tais temporadas oferecem safras vintage.

Tudo isso, é claro, sem esquecer das vezes em que tais encontros ocorrem de forma involuntária, quer seja pelo fato de existirem mais pilotos potencialmente campeões do que equipes capazes de brigar pelo título, quer seja pela segurança exagerada de uma das partes em relação às próprias chances de vitória.

Fato é que o tempo está se fechando no horizonte, e começo a sentir em ação as forças que podem, muito em breve, tornar a promissora temporada de 2013 algo como uma espécie de aperitivo para algo maior.

Provavelmente, se Kubica estivesse na pista, qualquer coisa nessa linha já estaria acontecendo.

Hoje é o dia internacional das mulheres. Recém-casado que sou, deixo aqui minha infinita gratidão à minha amada esposa Heidy, bem como à minha mãe e melhor amiga Dona Lourdes, como forma de registrar a devoção de toda a equipe a estas que são a mais perfeita das criaturas divinas.

Com o retorno da Alessandra, felizmente o belo sexo está muito bem representado aqui no Gepeto.

Abraço a todos, e uma ótima temporada.

Márcio Madeira
Márcio Madeira
Jornalista, nasceu no exato momento em que Nelson Piquet entrava pela primeira vez em um F-1. Sempre foi um apaixonado por carros e corridas.

19 Comments

  1. Arlindo Silva disse:

    Belo texto Márcio,

    Eu não descartaria num cenário muito próximo ver um rearranjo de forças com um Sebastian Vettel indo correr numa McLaren, ou um Hamilton indo correr numa Red Bull ao lado do alemão. O único que eu não vejo trocando de lugar nesse cenário é Fernando Alonso.

    Olhando o cenário de 2007 pra cá, penso que dos três pilotos citados, o que menos evoluiu em sua pilotagem foi Lewis Hamilton, que curiosamente, é o que parecia ter maior potencial. Sua mudança para a Mercedes me traz a impressão de ter sido motivada mais pela liberdade que ele terá do que pelo fator desafio. E como citado, o risco de ocorrer com ele o mesmo que ocorreu com Valentino Rossi na MotoGP é grande.

    Sebastian por sua vez terá de mudar de ares, mais dia ou menos dia. É bem provavel que ele comece a perder num futuro próximo (esse ano quem sabe) e o fator desafio passe a contar pra ele.

    Creio que os proximos anos de Alonso na Ferrari serão os melhores. Obvio, isso é apenas palpite meu, porém vejo que a Ferrari tem se estruturado tecnicamente nesse sentido. Não consigo ver um período extenso de dominação como foi nos tempos de Michael Schumacher, mas ainda assim vejo Alonso voltando a ganhar campeonatos em breve (esse ano talvez).

    • Concordo completamente contigo, Arlindo. E ainda vou ler com calma todas as opiniões postadas aqui, porque acho que foi pintado um painel interessante. Nos próximos anos, quem sabe, a gente volta para ver o que se confirmou.
      Abs!

  2. Leonardo - RS disse:

    Na minha opinião o que falta para o Alonso é saber perder, antes de ganhar é preciso saber perder. Se mostrou um mau perdedor quando gesticulou freneticamente para o Petrov quando não conseguiu a ultrapassagem, e não soube perder no ano passado quando colocaram a corrida do Vettel em cheque no GP Brasil, além disso queria ver como o espanhol reagiria se por exemplo o Massa ou qualquer companheiro de equipe andasse melhor que ele num início de temporada, lembrando que no final do ano passado Massa andou melhor nas últimas corridas. Na Maclaren o novato Hamilton andou no mínimo no mesmo nível do espanhol e ele tentou exigir preferência.
    Para o Hamilton, falta CABEÇA, não basta ser rápido, ter velocidade. Já colocou até título fora por falta dela.
    E cabeça parece ser cada vez mais o ponto forte do Vettel, como Horner lembrou no final do ano passado, provavelmente um outro piloto teria perdido a concentração e ter errado em algum momento da corrida no Brasil, os erros infantis parece que ficaram no passado, o que falta para Vettel é ser menos afoito e saber esperar o melhor momento para ultrapassar, visto que foi punido várias vezes por ultrapassagens mau feitas.
    Vettel não sabe perder? ele começou o ano perdendo e todos sabem como terminou.

    Esta é minha opinião e podem discordar a vontade.

    • Lucas disse:

      Não sei se concordo quanto ao Alonso. Não precisamos ficar no “e se” para saber o que aconteceria com ele se tivesse um companheiro forte (aparentemente tem gente que acha que ele ia desmoronar) porque isso já aconteceu, em 2007. E, na verdade, o que aconteceu foi que na última corrida quem desmoronou foi o próprio Hamilton, enquanto Alonso manteve a calma e, se não ganhou, foi porque aquela corrida foi uma das que a Ferrari andava bem melhor que a McLaren. E fico com uma pulga atrás da orelha quando se fala que Hamilton andou “pelo menos tão bem” quanto o Alonso. Sim, se igualaram em pontos e Hamilton levou no critério de desempate, mas das 15 corridas que ambos terminaram, Alonso ficou à frente em 9 delas – e isso apesar do fato de que a equipe passou a apoiar o Hamilton – por motivos compreensíveis, é bom que se diga. E já são três temporadas seguidas em que o Hamilton termina atrás do Alonso mesmo tendo um carro melhor que o dele (numa delas ficou também atrás do companheiro de equipe, por uma diferença significativa). Por isso, faz sentido a mudança de ares, e assino embaixo de tudo o que o artigo diz sobre ele.

      Vettel nunca foi batido por um companheiro de equipe, mas não custa lembrar que foi Webber que manteve-se à frente ao longo de boa parte da temporada de 2010 – e que Vettel não seria campeão aquele ano se o australiano não tivesse sido usado como isca para a Ferrari na última corrida.

      Alonso, assim como Vettel, não parece ser muito afetado pela pressão da decisão tardia – em nenhuma das vezes em que levou o campeonato até a última corrida (2006, 2007, 2010 e 2012) cometeu qualquer erro grave – quando perdeu foi só porque não dava mesmo (ano passado ele também não tinha carro para ganhar a corrida, em que a McLaren estava muito melhor e só não deu dobradinha porque o Hamilton abandonou). Vettel passou por essa situação duas vezes e também não cometeu erros em nenhuma das duas – e se as coisas foram relativamente tranquilas em 2010 graças à já comentada bem-sucedida estratégia da Red Bull (ou pela estupidez de Domenicalli, dependendo do ponto de vista), o mesmo não se pode dizer sobre 2012, quando foi pro fundo por um acidente em que não teve culpa e fez uma corrida de recuperação impecável.

      A nível de comparação, vale lembrar que para o Schumacher, por exemplo, cometer erros graves ou gravíssimos quando a decisão do campeonato ia pro último momento era a regra e não a exceção: errou sozinho, bateu no muro e voltou pra acertar o Hill em 94, jogou o carro em cima do Villeneuve em 97, deixou o carro morrer em 98, saiu dando totó em todo mundo, escapando da pista, e dando prejuízo pra equipe dele e pra dos outros em 2003, e assim teve como a única decisão “limpa” a de 2006 (até hoje tem gente que acha que ele furou o pneu por ter batido no Fisichella, mas quando a Bridgestone analisou os pneus descobriu que na verdade o motivo foi ele ter passado sobre os destroços do acidente do Rosberg, desenvolvendo o chamado “slow puncture”). Logo, tanto Alonso quanto Vettel merecem o máximo de respeito quanto a esse ponto, pois ainda estão sem manchas quanto as suas decisões tardias de campeonato, uma das “provas de fogo” para testar o quanto um piloto resiste à pressão e que, como se vê, mesmo entre os maiores nomes do esporte há quem não seja bem sucedidos no teste.

      Por outro lado, dá mesmo a impressão de que, quando o carro não está no topo, Vettel se incomoda mais do que devia. Se Alonso merece críticas por ter gesticulado contra o Petrov, o que dizer do Vettel gritando “façam alguma coisa” pra sua equipe pelo rádio quando não estava conseguindo passar Button na Hungria, ter chamado Hamilton de estúpido na Alemanha, ou chamar o Karthikeyan de “idiota” após a colisão na Malásia? Esse tipo de coisa só colabora pra aumentar essa má impressão de “menino mimado”.

  3. Lucas disse:

    É realmente uma pena que, para a maior parte das pessoas, só o que valha mesmo seja a tal “bola na rede”. Mas ainda tenho esperança que um dia se olhe pra trás e se dê o devido valor ao que o Alonso vem fazendo na Ferrari. Aqui vão alguns números pra dar um pouco de otimismo quanto a isso: muitos consideram espetacular o que Schumacher fez pela Ferrari antes de 2000 (ainda que ela tenha sido campeã de construtores já em 99), batendo na trave em 97 e 98, mas vale a pena lembrar que nesse período, em 42 corridas que Irvine terminou (e em inúmeras vezes ele deixou de terminar por barbeiragem), ele foi ao pódio 23 vezes – isto é, ele provou do champagne em *mais da metade* das corridas em que foi até o fim.

    Massa terminou mais corridas (53) pela Ferrari desde que Alonso chegou lá, mas fez muito menos pódios (só 7). E, convenhamos, acho que pouca gente discordaria de que Massa, mesmo com suas limitações e possíveis sequelas do acidente (sequelas que, aliás, foram negadas tanto pelos médicos quanto pela telemetria), não é um piloto pior que Eddie Irvine. E ainda assim Alonso disputou o título até a última corrida em duas de três temporadas – nessa última mesmo apesar de ter começado o ano com um carro pavoroso, e que mesmo tendo melhorado ao longo do ano ainda ficava quase sempre atrás da Red Bull e/ou da McLaren.

    • Salve Lucas!
      O caso de Alonso é mais relativo, pois como eu disse ele conseguiu se desvencilhar um pouco da frieza dos números. Quero dizer, ele não venceu ano passado, mas foi apontado por muita gente (a maioria?) como o piloto do ano. Todos, enfim, o apontam não apenas como um dos melhores do grid, mas certamente como um grande de todos os tempos. E o fazem com justiça.
      O que eu quis dizer, parafraseando o Barão, é que se ele continua a correr, é porque continua a ter ambições. E, se de todo ele abandonar a carreira sem um título na Ferrari, ou sem bater um dos outros dois nomes citados usando o mesmo equipamento, então sempre haverá quem o questione.
      Óbvio que os tempos mudaram, e que o papel do piloto hoje é muito menor do que em tempos de treinos liberados. Esperar que um piloto desenvolva um carro com a mesma liderança de 30 ou 10 anos atrás seria uma tremenda injustiça. Mas, ainda assim, a conquista ou não-conquista deste título será algo a pesar sobre o tamanho histórico do asturiano ao término de sua passagem na F1.
      Abraço!

  4. ronaldo disse:

    O cara ganhou uma corrida com um carro médio em 2008, correu pelo campeonato em 2009 e desde então não teve concorrência. Para o Vettel acho que só falta que o tempo passe e o consagre como o herói que já provou ser.
    As pessoas lembram de Regazzoni, Peterson, Reutman e outros como grandes pilotos, campeões sem título, e concordo com isso. Mas as indulgências que só o tempo é capaz de conceder foram muito gentis com muitos atletas do nosso esporte favorito.
    Ou ainda a morte, que tirou tantos da vida para jogar na história, como Bandini, Cevert, Villeneuve, Bellof…

  5. Rodrigo Felix disse:

    Esclareceu muita coisa Márcio Madeira da Cunha. Essa análise põe um olhar mais correto à questão: ter o melhor carro e vencer sempre/vencer superando obstáculos e tendo menor número de conquistas.
    Digo isso, lembrando do olhar de Alonso para a festa de Vettel ao final do gp brasil do ano passado, quando Vettel foi tri e o superou em número de conquistas. A forma aguda com que Alonso olhava a festa parecia querer dizer que ali havia um misto de fúria e indignação com resignação e juramento de vingança…

    Também concordo com o fato de que Hamilton está se auto-afirmando, e tentará provar que é um bom piloto longe das asas de Ron Dennis.

    Button leva esse ano.

  6. Fabiano Bastos das Neves disse:

    Marcio,
    Você já descreveu muito bem o que falta para cada quase todos os principais pilotos, mas faltou falar do Massa.
    Sei que o brasileiro corre por fora (muito por fora) nessa briga, mas penso que ele deve encarar este anocomo a melhor oportunidade da vida dele.
    Ele teve um ótimo final de temporada no ano passado e, caso vença o fenomenal Alonso, na Ferrari, em uma situação onde sua posição de 2º piloto é mais clara do que a de qualquer outro no grid, Massa poderá garantir seu lugar na história da categoria, além de garantir vários anos de permanência na categoria. Mas para que isto possa acontecer, o brasileiro terá que guiar “o fino”, aproveitando todas as oportunidades, rápido como em 2007, mas sem cometer nenhum erro.
    Duvido, mas continuo torcendo, afinal “sonhar não custa nada!”

    • Salve Fabiano!
      Pois é, eu me concentrei mais na possibilidade de haver no futuro um novo encontro entre estes três pilotos dentro de uma mesma equipe – algo que, sinto, pode não demorar a acontecer.
      Mas você tem toda razão ao analisar o momento do Massa, até porque o desempenho dele pode ser fundamental para essa chance surgir ou não surgir dentro da Ferrari. Além do mais, ele é o brasileiro que resta, e como você bem lembrou vive um momento decisivo.
      Abraço e escreva sempre.

    • Fernando Marques disse:

      Eu acho dificil poder torcer por um sucesso de Massa na Ferrari do jeito que as coisas são por lá … se ele estivesse em outra equipe … talvez sim … mas na Ferrari, mesmo ele dando o seu melhor, vai ter que estar sempre atras do Alonso.

      Fernando Marques
      Niterói RJ

      • Mauro Santana disse:

        Só se acontecer com o Alonso este ano o mesmo que aconteceu com Schumacher em 1999, e mesmo assim, olhe lá…

    • Lucas disse:

      Acho que é preciso ter os pés no chão – Massa é um bom piloto, mas não acho que o motivo de não conseguir muita coisa seja só porque “é segundo piloto”. O que acontece é que Massa não é um piloto que é capaz de ir além da capacidade do carro. Todas as suas vitórias se concentram no período de 2006 a 2008, em que corria com carros excepcionais (e em todas elas quando largou na primeira vila). Foi só a Ferrari cair de produção em 2009 que os resultados deixaram de vir, e quando estava na Sauber também não era nenhuma maravilha.

      Posso estar soando crítico demais, mas na minha opinião o Massa é daqueles pilotos que certamente têm valor numa equipe quando ela está muito bem (vide 2006-2008), mas que acrescenta muito pouco quando não é o caso. Acho que, se tem um piloto que falta na lista, é Kimi Räikkönen (terminar em terceiro, de Lotus, depois de dois anos fora do esporte não é pra qualquer um), mas a ausência dele é plenamente justificada pelo Márcio – Kimi não está nem aí. Mas não custa lembrar que em 2003 teve chances de título até a última corrida sem estar nas duas melhores equipes, algo que não acontecia desde os anos 80. Tem seus defeitos, alguns graves, mas merece muito crédito.

  7. Fernando Marques disse:

    MArcio,

    acho que faltou a sua coluna alguma coisa na linha da tese do Nelson Piquet em relação a Formula 1 atual e que poderia ser analisada em relação ao Vettel, Alonso e Hamilton. O Piquet disse que no tempo dele um bom piloto de Formula 1 tinha que conhecer bem a mecânica do carro, por causa da baixa resistência, e assim saber levar bem o carro até o fim da corrida. E que um bom piloto nos tempos de hoje, já que os carros são bem resistentes, é aquele que consegue ser muito rápido durante toda a corrida. Ou seja tem que consistentemente rápido.
    Indo por essa linha vejo o Alonso como o mais consistente e rápido. Dos 3 é o que erra menos. O que não sabemos é se em 2013 ele terá um carro tão bom quanto as RBR’s e/ou Mclarens, que a meu ver foram superiores a sua Ferrari em 2012.
    Depois vem o Vettel, que ainda comete erros infantis. Em 2012 ele cometeu menos em relação aos anos anteriores, mas teve nas mãos o melhor carro da Formula 1.
    E por terceiro o Hamilton que sempre comete erros que já lhe custaram muitas vitorias e possivelmente titulos. Agora ainda mais na Mercedes que até o momento não parece entre as favoritas para brigar pelo titulo.

    2013 promete!!!

    Fernando Marques

  8. Mauro Santana disse:

    Belo texto amigo Marcio!

    A respeito de Vettel, como vire e mexe os comparam a Senna, o que falta a ele, na minha opinião, é passar o que Senna passou nos anos de 92 e 93, pois lembremos que o brasileiro esteve em seu auge de sucesso entre os anos de 90 e 91, tendo um queda bruta em 92(equipamento = motivação), e mostrando ao mundo em 93 que, com um equipamento que era a terceira força do grid, era sim capaz de enfrentar a todos de igual para igual, e que era um dos maiores senão o maior da história da F1.

    Pra mim, falta isso ao Vettel.

    Alonso esta passando por isso(Senna 93) desde 2010 na Ferrari, e só lhe falta o caneco com o Cavalinho Rampante para fechar a sua carreira com chave de ouro.

    Hamilton, esse tem que mostrar ao mundo agora na Mercedes que não é aquele garotinho mimado que teve tudo do bom e do melhor até chegar a F1.

    Nos resta aguardar o que 2013 irá nos mostrar.

    Ah, e tem o Button que vai correr por fora, e sabe muito bem ser discreto e atacar na hora certa.

    Abraço a todos!

    Mauro Santana
    Curitiba-PR

    • Obrigado pelo retorno, Mauro!
      Espero que os amigos ajudem a desenhar este painel do que falta a cada um dos pilotos, pois acredito que estas ambições irão guiá-los ao longo dos próximos anos e podem, quem sabe, reeditar encontros como os que vimos na segunda metade dos anos 80, ou, mais recentemente, em 2007.
      Abraço, e tenha um ótimo dia.

    • Lucas disse:

      É bom lembrar que mesmo com a deficiência de equipamento e, supostamente, “desmotivado”, Senna esteve nas cabeças em praticamente todas as corridas de 92. Não fosse a fraca confiabilidade da McLaren, é bem provável que teria separado Mansell e Patrese no mundial de pilotos (como fez com Prost e Hill no ano seguinte). Só pra relembrar: falha mecânica quando corria em terceiro no México, problema elétrico no Brasil (também passou boa parte da corrida em terceiro), outro problema elétrico quando liderava (!) no Canadá, quebra da caixa de câmbio em Silverstone (em quarto atrás das duas Williams e do Brundle), e um motor estourado ainda na volta 2 no Japão (mais uma vez atrás só das duas Williams). Não que a própria Williams fosse uma maravilha nesse aspecto (cinco abandonos por falha mecânica aquele ano, além de falhas que não resultaram em abandono mas tiraram deles vitórias certas, como o escapamento estourado nos dois carros em Spa), mas curiosamente Patrese estava atrás de Senna em duas das três corridas que abandonou por falha mecânica.

      A McLaren de 93, apesar de ainda deficiente em relação à Williams (e em boa parte das pistas, também em relação à Benetton), era mais confiável, e o resultado é aquele que todo mundo já conhece e que faz com que muitos considerem esse o melhor ano do brasileiro na F1. Não é à toa que após aquela temporada, quando Prost já tinha anunciado sua aposentadoria, o francês disse em entrevista que, do grid para 94, o único piloto que poderia ameaçar Senna seria Schumacher, e ainda assim só se tivesse uma enorme vantagem de equipamento (que acabou sendo justamente o que aconteceu).

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