Top Ten 2011

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Lucas Giavoni se despede de 2011 elencando os 10 melhores participantes do último mundial de F1.

 

Assim como já escrevi em oportunidades anteriores, listas são um tremendo estopim para discussões. Afinal de contas, por mais que sejam armadas até os dentes com argumentos consistentes, jamais deixarão de ser subjetivas, dada a particularidade com que cada indivíduo percebe o mundo à sua volta.

Por mais que listas não mudem coisa alguma no que já aconteceu, gosto de fazê-las porque estas tentam, de um modo bastante peculiar, fazer justiça que por vezes a frieza da tabela de classificação não consegue. Listas de dez melhores estão longe de ser uma ideia original, beiram a clichê. Mas não deixam de ser divertidas, tanto para quem escreve (e faz um exercício opinativo básico de jornalismo), quanto para quem lê (e vai concordando ou discordando a cada parágrafo).

Adianto que a colocação dos três primeiros nomes foi bastante tranquila, enquanto que o restante da lista exigiu um pouco mais de reflexão, o que me levou até mesmo a colocar um nome que nem ao menos pilotou. Portanto, para encerrar minhas colunas de 2011, minha lista dos 10 melhores da temporada da Formula 1:

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1 – Sebastian Vettel

Algumas vezes campeões não vão para o topo de listas como esta. Mas este ano, nem com o mais rasgado acesso de insanidade Vettel ficaria de fora da “pole-position” deste texto. E por falar em poles, sua estrela brilhou tanto nas corridas quanto nas qualificações. Ele ainda bate recordes de juventude quando afirmamos que tornou-se o mais jovem bicampeão, aos 24 anos e 98 dias. Mas é possível afirmar também que o alemão já partiu para recordes que não tem mais ligação com sua precocidade em ser vencedor. Prova disso são as 15 poles em uma só temporada, destronando a supostamente inalcançável marca de Mansell em 1992.

Sebastian Vettel não é Ayrton Senna. Mas possui a mesma filosofia de pilotagem do tricampeão. Muito rápido nos treinos, lança-se com determinação na caçada pela pole e, dada a largada, parte em ritmo insano para manter a liderança. Seb fez isso por diversas vezes durante o ano, principalmente por conta das características de sua Red Bull, muito rápida em curvas, mas facilmente superável em retas. Com o famigerado DRS, era necessário abrir distância para que Ferraris e McLarens ficassem fora da zona de ataque. E então era só seguir a cartilha dos pilotos descendentes, “chegando na frente com a menor velocidade possível”, como diria Fangio. Diante disso, as desconfianças de que Sebastian será tri em 2012 são fortíssimas.

2 – Jenson Button

Sou um daqueles defensores de que 2011 foi o melhor ano da carreira de Jenson Button no aspecto de pilotagem, superior ao 2009 em que lhe garantiu o título pela Brawn GP. Repetindo a lógica aplicada a Vettel, Jenson Button não é Alain Prost. Mas possui a mesma filosofia de pilotagem do tetracampeão. Mesmo que não tenha a rapidez visceral do companheiro Hamilton, Jenson usou e abusou do direito de ser o piloto mais cerebral da atual F1. E melhor: é ótimo piloto em chuva e o melhor em condições de transição seco-molhado, atributo que seu antecessor francês certamente não tinha.

Cuidadoso com a tocada e com o carro, Button erra muito pouco e foi o melhor em conservar a efêmera borracha dos estreantes pneus Pirelli. Em diversas situações, se viu mais forte que os rivais nos fins de corrida e suas vitórias no Japão, na Hungria, e principalmente na espetacular conquista do Canadá, provam essa característica.

3 – Fernando Alonso

Poucos se deram conta, mas Alonso, apesar de ter vencido apenas uma, pontuou mais que em 2010, quando amargou um vice por apertados 4 pontos. Com um equipamento nitidamente inferior às duplas de Red Bull e McLaren, arrancou uma vitória notável em Silverstone e foi presença constante no pódio e nas pontuações – tanto que só abandonou uma prova, a agitada de Montreal, quando se enroscou com Button em um toque de corrida.

Fora do cockpit, Alonso assumiu um papel de comando tão intenso quanto de seu antecessor Schumacher junto à Ferrari. É disparado o maior caso de piloto-líder dentro de uma equipe, em uma relação de confiança total entre as partes. Isso quer dizer que, se os engenheiros de Maranello acertarem no desenho nos próximos anos, o asturiano certamente fará a sua parte.

4 – Lewis Hamilton

Hamilton fez muita asneira em 2011, como jamais havia feito em sua carreira iniciada em 2007. O ‘primor’ do inglês certamente foi a pilotagem suicida em Montreal, e vale menção para os ridículos encontros de pista que protagonizou com Felipe Massa – piloto que ficou longe de habitar essa lista, uma vez que seu maior mérito em todo o ano foi largar bem em determinadas corridas.

O bom é que nem só de besteira viveu Hamilton em 2011. Dentro de seus momentos de bright side, as três vitórias, sobretudo a do GP da China, em que topou o desafio de um pit a mais, acelerou como só ele sabe acelerar, e derrotou o então ‘inderrotável’ Vettel, que foi totalmente surpreendido. É possível que depois do esporro de seu mentor Dennis, ele reconsidere suas prioridades e faça um melhor campeonato próximo ano.

5 – Jaime Alguersuari

Com um começo de temporada fraco, poucos pontos e algumas eliminações na Q1 dos treinos, Alguersuari viu sua chapa esquentar no primeiro terço do ano, quando até cogitaram sua substituição por Daniel Ricciardo, outro piloto do banco de talentos da Red Bull. Entretanto, a partir do GP do Canadá, em que foi 8º, Jaime fez um comeback notável, para ser o piloto que mais evoluiu durante o ano, superando frequentemente Buemi no duelo interno da Toro Rosso.

Ao levarmos em consideração que Alguersuari estava na equipe que possuía apenas o 8º melhor carro do grid (atrás, na ordem, de Red Bull, McLaren, Ferrari, Mercedes, Force India, Renault e Sauber) e que quebras na F1 se tornaram exceção, o jovem espanhol fez pontos até demais, ao terminar entre os dez primeiros em sete das 13 provas seguintes. Se continuar evoluindo dessa maneira, já sabemos quem será o substituto de Webber na equipe principal quando o australiano se aposentar.

6 – Sergio Pérez

O nome de Perez está presente nesta lista porque, diante de tantas estratégias manjadas de pneus, o mexicano foi quem mais arriscou fazer diferente. A bordo de uma Sauber que tratava bem a borracha italiana, o novato colheu os frutos de sua ousadia em algumas corridas, pontuando por cinco vezes durante o ano.

Menção positiva também pela sua rápida recuperação após a forte cacetada sofrida em Mônaco no trecho após o túnel. Jovem, com uma enorme retaguarda financeira e com contatos diretos na Ferrari, Pérez tem todas as condições para continuar progredindo. Pode até chegar a vestir o macacão vermelho nos próximos anos.

7 – Paul di Resta

Outra boa surpresa entre os novatos, o campeão 2010 do DTM aproveitou bem a arrancada da Force India, time que mais ganhou desempenho durante o ano. Paul pontuou logo em suas duas primeiras corridas na F1 e, depois de um período pouco produtivo, tornou a chegar entre os dez constantemente no fim do ano, com destaque para o 6º lugar em Cingapura.

OK, o companheiro Adrian Sutil, com cinco temporadas nas costas, fez mais pontos e uma corrida excelente em Interlagos, em que superou Rosberg em luta direta. Mas parece ter menos perspectivas de futuro do que seu colega britânico, que ainda tem muito tempo para se aprimorar ainda mais.

8 – Mark Webber

Totalmente eclipsado pelo companheiro de equipe, algo que não aconteceu na temporada anterior, Mark só se garante nesta lista por ter sido consistente – ele também pontuou mais que na temporada passada. A bordo de um carro vencedor, mas sem a mesma velocidade em treinos de seu colega de box para largar nas melhores posições, se viu muitas vezes preso atrás de carros piores, porém mais velozes em reta. Em situações como essa, são comuns o desgaste excessivo de pneus e bicos quebrados. Mas o australiano soube controlar-se para chegar intacto em todas as provas, exceto em Monza, onde bateu na Parabolica e abandonou.

Mark segue em 2012 para sua última chance na F1, com a renovação de seu contrato. Talvez isso lhe dê motivação extra para tentar superar Vettel algumas vezes. Ao que parece, a chave para essa meta é classificar-se melhor, e largar tão bem quanto, outro ponto em que o australiano ficou devendo.

9 – Heikki Kovalainen

Ele jamais passou da 13ª colocação nas corridas este ano. Mas entre as nanicas, ninguém foi melhor que Kovalainen. É por isso que o piloto pode dizer, com algum conforto, que 2011 foi, de fato, seu melhor ano na F1. Mesmo que no passado tenha pilotado para Renault e McLaren, aqueles foram anos constrangedores para o finlandês. Se os pontos pela Lotus Malásia – agora Catherham – ainda não são realidade, ao menos ele foi o único a desafiar pilotos em apuros de Toro Rosso e principalmente Williams, equipe que fez a pior campanha de sua história tão vencedora.

Entre os feitos de Heikki com seu limitado equipamento estão a visita à Q2 na Espanha, em que classificou-se à frente da dupla da Force India, e a excelente corrida na Coreia do Sul, em que chegou em 14º, à frente da dupla da Sauber.

10 – Robert Kubica

Kubica? Mas ora, cara pálida, ele nem pilotou! E o nome dele está aqui por isso mesmo. Nick Heidfeld, Vitaly Petrov e Bruno Senna ficaram muito aquém das pilotagens milagrosas de Kubica em 2010. Prova disso é que nenhum dos três será titular na próxima temporada, com dupla fechada pelos ressuscitados Räikkönen e Grosjean. O polonês fez uma falta tremenda para a Renault, time que mais decaiu na temporada, contrastando com a Force India, a que mais cresceu.

É um bastante perturbador não ter notícias concretas sobre o real estado físico de Kubica. Ficar um ano inteiro de molho, e não pegar o começo da próxima temporada não pode ser encarado como uma perspectiva otimista. Mas a torcida para seu retorno permanece. Sinto muito, Grosjean, mas prefiro ver você no banco de reservas.

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Caso minha metodologia permitisse não-pilotos, Adrian Newey roubaria vaga de alguém nesta lista, por ser uma pessoa que consegue imprimir um toque próprio em suas criações. Historicamente, o círculo de projetistas que, de fato, são individualmente importantes a ponto de se tornarem essenciais para a conquista de vitórias e campeonatos, é bastante restrito. E Newey certamente faz parte deste círculo, junto a nomes como Chapman, Uhlenhaut, Forghieri e Murray.

Eu pensaria em incluir Jean Todt na lista, pois em seu comando na FIA temos estabilidade de regulamentos, que voltou a possibilitar aos pilotos uma preferência de estilos de pilotagem – ascendente ou descendente. Entretanto, eu teria que deixar o pequeno francês de fora apenas porque não sou a favor das asas móveis. Continuo a considerá-las um atentado à isonomia esportiva, pelos motivos óbvios de que quem ultrapassa conta com uma arma que o ultrapassado não conta. E por falar em injustiças, voltamos ao assunto do começo do texto… Então… Um viva às listas!

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A todos da Família GPTotal um feliz Natal e um excelente 2012!

Lucas Giavoni

Lucas Giavoni
Lucas Giavoni
Mestre em Comunicação e Cultura, é jornalista e pesquisador acadêmico do esporte a motor. É entusiasta da Era Turbo da F1, da Indy 500 e de Le Mans.

4 Comments

  1. bruno wenson disse:

    Discordo sobre Button ser “ótimo piloto em chuva”. lembro bem que ele foi um dos que penaram trechos inteiros de corridas em chuva, em principal em 2010, atrás de Schumacher, que ainda estava reaprendendo a andar de F1.

  2. Allan disse:

    Discordo da presença do Webber na lista. Ok, devemos considerar que o conjunto mecanico provavelmente favorecia muito mais Vettel, mas não vencer UMA corrida sequer até a ultima etapa foi bisonho…
    Kubica também não deveria estar NESTA lista. Afinal, não pilotou. Elevaria os nomes de Sutil e Barrichello/Maldonado na 10ª posição, empatados.

  3. Fernando Marques disse:

    Nada a acrescentar … só discordaria se o Felipe Massa estivesse nesta lista … aliás penso que o mais sensato seria esta lista ser apenas com 3 nomes e nesta ordem … Vettel, Button e Alonso … o por que disso? … nomes como do Alguersuari, Sergio Pérez, Paul di Resta estão longes a meu ver de se tornarem um top driver num futuro próximo …

    Fernando Marques
    Niterói RJ

  4. Lucas Giavoni disse:

    Caríssimos,

    Aproveito para convocar os amigos leitores a também mandarem seus Top Ten. Nem precisa ficar se justificando, é só jogar a lista aí!

    E já trago a notícia que meu nº 5, Alguersuari, acabou de ser dispensado da Toro Rosso, que também fritou Buemi. Essa injustiça com os dois abre espaço para Daniel Ricciardo e Jean-Eric Vergne, na filosofia da equipe em abrir espaço para os mais novos do banco de talentos.

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