Panda
Antonio Carlos Dias, amigo e leitor assíduo, cobra mais explicações sobre a inclusão do italiano Tazio Nuvolari na lista dos meus cinco melhores pilotos de todos os tempos, junto com Fangio, Clark, Senna e Schumacher, em minha carta de 16/10. “Ajoelhou tem que rezar… Ma que catso a fatto Nuvolari?”, pergunta Antonio Carlos.
Há uma lei no automobilismo, meu amigo: quem arrisca, entusiasma (exemplo: Gilles Villeneuve); quem conserva, vence (exemplo: Alain Prost).
Só uns poucos como Tazio entusiasmou e venceu. Ele ganhou corridas, muitas corridas, pilotando carros apenas mais ou menos diante de gigantes da Mercedes-Benz e Auto Union. Ganhou corridas fazendo milagres para manter seu carro em movimento – ficou famosa uma foto em que ele chega aos boxes segurando diretamente no eixo do volante, que simplesmente havia se soltado em plena corria. Ganhou corridas julgadas impossíveis, como o Grande Prêmio da Alemanha de 1935, quando
derrotou Mercedes e Auto Union no quintal delas correndo com um Alfa Romeu que custou o equivalente às rodas dos adversários. Tazio ganhou também a corrida pela vida, sobrevivendo a incontáveis acidentes graves, que lhe deram a fama de ter sete vidas.
Tazio correu sua última prova em 1950, sete anos antes de eu nascer. Estreou em 1920, aos 28 anos, com motos. Até 1930, corria simultaneamente com motos e carros. Não acumulou títulos porque, naquela época, não se organizavam campeonatos. Eram corridas individuais, umas mais, outras menos famosas. Tazio sempre se destacou: em 124 corridas de moto, venceu 39 chegando em 2º 17 vezes e fazendo 40 vezes a volta mais veloz da prova. Com carros, disputou 229 provas – a última delas quando contava 58 anos, é bom frisar – vencendo 66 e chegando 45 vezes em 2º ou 3º.
A partir de 1934 até 1939, Tazio esteve totalmente envolvido com o que se pode considerar o embrião da Fórmula 1, as corridas de carros de Grand Prix, que reuniram Mercedes-Benz, Auto Union, Alfa Romeo e equipe Ferrari em pistas que permanecem até hoje, como Monaco, Spa-Francorchamps, Monza, Donington e Nurburgring. Outras pistas ficaram pelo caminho: Reims, Tripoli, Tunis, Rio de Janeiro, Bern.
Tazio correu 55 provas neste período na categoria e ganhou 11,5 – sim, era possível dividir o carro naquela época e Tazio ganhou uma corrida revezando-se ao volante com Carlo Pintacuda. O alemão Rudolf Caracciola, primeiro piloto da Mercedes, correu 52 corrida e ganhou 15 enquanto Bernd Rosemeyer correu 33 e ganhou 10. Ou seja, Tazio não é nem o maior vencedor nem aquele que tem a melhor média de largada/vitória. E mesmo assim é um dos cinco maiores? Mas como?
É que ele fazia a diferença. No braço, na coragem, na valentia, na sacada inesperada, superava a limitação do carro e vencia. E entusiasmava a torcida, despertava paixão, atraia público. Foi com Tazio que a equipe Ferrari começou a construir a sua lenda. Juntos, Tazio e Enzo Ferrari transformaram a Itália no coração do automobilismo.
Não posso negar, por fim, que aponto e sustento Tazio entre os cinco maiores de todos os tempos porque respeito profundamente os pilotos do passado. Era mais difícil e muito mais arriscado correr nos anos 30. Tazio correu, venceu e entusiasmou.
+++
Panda
Vasculhando a internet atrás de fotos de Tazio Nuvolari, acabei encontrando um filme disponível para download sobre o acidente de Lorenzo Bandini, sobre o qual você falou em sua última carta. São cenas fortes. O endereço é www.formula1news.it/dati/video.htm. A página conta com vários outros vídeos, inclusive sobre Tazio.
É isso
Eduardo Correa