Edu,
Espero que seus prognósticos sobre a próxima temporada se confirmem. Estou sentindo falta de campeonatos disputados e corridas interessantes. E elas devem ser interessantes para qualquer pessoa e não apenas para minorias como a que nós integramos, com olhos clínicos capazes de encontrar interesse em estratégias, recordes de pista, evoluções tecnológicas, estilos de pilotagem ou estréias de pilotos vindos da República Tcheca ou da Malásia.
Fato: aqui no Brasil, a F 1 só interessa à grande massa se houver um brasileiro ganhando – e ganhando sempre. Isso está longe de voltar a acontecer, infelizmente. Nada indica que Barrichello fará no ano que vem (provavelmente seu último em uma equipe competitiva) muito mais do que fez em suas duas primeiras temporadas na Ferrari. Sem brasileiro na jogada, algum interesse pode ser despertado por disputas eletrizantes, capazes de empolgar a galera. Como você sabe, não é exatamente isso que estamos assistindo…
É por isso que será muito bom se em 2002 acontecer uma disputa acirrada entre Ferrari (leia-se Michael Schumacher) e Williams – especialmente se o piloto mais forte desta última for Juan Pablo Montoya. Se a disputa for exclusivamente entre Michael e Ralf, eles terão que fazer chover, nevar, relampejar e surgir eclipses em todas as corridas para despertar a atenção de quem não for germanófilo ou viciado em automobilismo. Uma final de US Open entre as irmãs Venus e Serena Williams é muito interessante, mas ninguém agüentaria ver uma temporada inteira de tênis em que somente as duas tivessem chances de ganhar alguma coisa.
Tendo a apostar em Montoya para ser o principal piloto da Williams em 2002. Ele é jovem, atrevido e agressivo. E, principalmente, não se intimida com Michael – ao contrário, parece dar um pouco mais de si quando o alemão é seu adversário direto. É exatamente o que falta a Ralf, que – como você bem observou – ainda se inibe em jogar pesado com o irmão mais velho. A Williams certamente já percebeu essa fraqueza e sabe que, se ela não for corrigida, Ralf não conseguirá se tornar o melhor piloto da família…
Não é muito difícil imaginar o que está passando pela cabeça de Ralf. De um lado, ele precisa se impor na Williams, sendo mais rápido do que seu companheiro – coisa que nem sempre vem acontecendo. Para piorar ainda mais sua situação, Montoya parece ser muito respeitado dentro da equipe. Aquela bronca que ele levou do Frank Williams no final do primeiro semestre serviu para colocar o colombiano nos eixos e ele passou a errar muito menos nas corridas seguintes.
Mais um fator para embaralhar as cartas: a notória inabilidade da Williams em resolver conflitos entre seus pilotos. É notório que Ralf e Montoya simplesmente não se falam desde o momento em que o colombiano pôs os pés na equipe. Pelos antecedentes da Williams (os contenciosos Jones-Reutemann e Piquet-Mansell), uma disputa interna não resultará em bons resultados a nenhum dos dois.
Se eu tivesse 100 fichas, apostaria 48 em Montoya e 46 em Michael. Das seis fichas restantes, reservaria três para Ralf, daria uma para Barrichello e uma para cada piloto da McLaren, apenas para diminuir o risco de ficar sem dinheiro algum quando a roleta parar de girar.
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Volta e meia alguém me pergunta sobre os jovens brasileiros que estão chegando à F 1 ou que estão nas categorias de acesso: “E o Pizzonia, é bom mesmo? E o Bernoldi?”.
Infelizmente, não tenho motivos para ser otimista quanto ao futuro do Brasil na F 1, embora possamos ter surpresas (quantas pessoas sabiam da existência do Kimi Raikkonen há um ano?). Barrichello, como já escrevi aí em cima, parece caminhar para seu último ano em uma equipe competitiva. Dos outros quatro brasileiros que correram este ano na F 1 (Bernoldi, Burti, Tarso e Zonta), nenhum está garantido para o ano que vem.
Na F 3000 internacional, temos Antônio Pizzonia e Ricardo Sperafico, que pertencem à equipe patrocinada pela Petrobras e já testaram um Williams. Ambos devem continuar na F 3000 por mais um ano, simplesmente por não haver perspectivas ataentes na F 1. Felipe Massa, campeão da F 3000 européia, já testou uma Sauber. Estão fazendo muita festa em cima dele, há quem diga que o rapaz é excepcionalmente bom e já falaram até que ele poderia ser piloto de testes da Ferrari. Torço para que dê certo, mas prefiro esperar para ver. Muitos jovens foram chamados de gênios nas categorias inferiores mas não mostraram serviço na F 1.
Lembra do David Walker? O australiano barbarizou na F 3 mas em 1972, quando correu na Lotus, não marcou um mísero ponto no campeonato – e seu companheiro de equipe era Emerson Fittipaldi, que naquele mesmo ano conquistou o título mundial. Mais recentemente, o dinamarquês Jan Magnussen bateu o recorde de vitórias na F 3 inglesa (superou ninguém menos que Ayrton Senna), mas teve uma carreira vergonhosa na F 1, sendo demitido pela Stewart na metade da temporada de 1998.
Antigamente, a F 1 era uma continuação natural da F 3 e da F 2, por exemplo. Hoje, a F 1 tem um regulamento muito específico e equipamentos eletrônicos que a tornam muito diferente de qualquer outra categoria existente na face da Terra. Isso torna dificílimo prever como se sairá na F 1 um bom piloto de qualquer outra categoria. A participação de Alessandro Zanardi na Williams, em 1999, é uma boa amostra disso.
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Domingo tem GP nos Estados Unidos. Já li que Hakkinen pode não correr (a McLaren teria deixado Alexander Wurz de prontidão para a eventualidade de assumir o cockpit) e que Schumacher pode encerrar sua temporada ali mesmo, em Indianapolis, pulando a etapa do Japão. Vamos ver…
Grande abraço,
Panda
PS – A carta já estava pronta quando li no www.warmup.com.br o veredito do Mario Andretti (para mim, um dos melhores pilotos de todos os tempos) a respeito de Juan Pablo Montoya: “Estou dizendo, ninguém pode subestimar o talento deste rapaz. Ele tem as qualidades de um verdadeiro campeão: é corajoso, esperto e bastante rápido. Montoya sabe que é tão bom quanto os irmãos Schumacher. Agora que ele ganhou uma corrida, pode se tornar imbatível”.