Edu,
O tema de hoje surgiu de estalo, durante uma conversa por telefone com nosso amigo Tales Torraga, do nosso parceiro Grande Prêmio (www.grandepremio.com.br). Falávamos sobre a corrida do próximo domingo em Mônaco, conjecturando (entre outras coisas) o que a Ferrari vai aprontar desta vez e a perspectiva de Michael Schumacher igualar o recorde de seis vitórias em Mônaco – marca que pertence a Ayrton Senna.
Caso Schumacher vença a corrida do próximo domingo, ele se tornará o terceiro piloto a merecer títulos como “Rei de Mônaco” ou “Mister Mônaco”. O primeiro foi Graham Hill, que nos anos 60 venceu essa corrida cinco vezes (1963, 1964, 1965, 1968 e 1969). Depois, Senna superou o inglês vencendo seis vezes (1987, 1989, 1990, 1991, 1992 e 1993). E agora Schumacher tem a perspectiva de se igualar ao brasileiro (já venceu em 1994, 1995, 1997, 1999 e 2001). O que poucos lembram, porém, é que esses três grandes pilotos também viveram em Mônaco alguns dos momentos mais embaraçosos de suas carreira.
Hill, um dos maiores de sua geração, estendeu sua carreira até o ponto em que ele só parou de correr quando viu que não dava mais. Morreu em um acidente com seu próprio avião (se não me engano, um Piper Aztec) em dezembro de 1975, mas até 1989 foi o piloto com maior número de GPs disputados na história. Não era à toa: ele estreou na F 1 em 1958 e disputou seu último GP em 1975! Ou seja, 17 temporadas… Detalhe: em 1969, um acidente no GP dos Estados Unidos provocou fraturas nas duas pernas de Hill. Muitos deram sua carreira como encerrada, mas ele voltou a correr – com um andar bastante característico, já que suas pernas ficaram tortas por causa do acidente.
A última corrida de Hill foi o GP do Brasil de 1975 (terminou em 12º lugar). Mas por alguma razão Hill resolveu que sua última corrida teria de acontecer em Mônaco, o circuito onde ele vencera tantas vezes. E, sendo dono de sua própria equipe na época, ele não teve dúvidas em se inscrever para mais uma corrida, que deveria ser sua última.
Deveria, mas não foi. Naquele ano, o GP de Mônaco teve seu grid limitado a 18 carros (de 1976 até 1986, seriam 20; depois, voltou ao 26 habitual dos grids da época). E Hill fez apenas o 21º tempo entre 26 carros inscritos, ficando entre os pilotos que não se classificaram para a largada. Foi uma comoção, mas o respeito pelo velho campeão se fez presente. Depois dos treinos, andando a pé pela pista, Hill ia sendo aplaudido por onde passava. Uma despedida melancólica em termos de resultado, mas consagradora por parte do público. No GP da Inglaterra, para evitar novo vexame, ele se limitou a dar algumas voltas de saudação a bordo de seu Hill-Ford.
Corta para 1988. Época de McLaren-Honda eclipsando todas as outras equipes e tendo ao volante de um de seus carros um Ayrton Senna louco para passar por cima de Alain Prost. O brasileiro fez a pole com 1s4 de vantagem sobre o francês. Na corrida, Senna pulou na frente e Prost largou mal, sendo ultrapassado por Gerhard Berger (Ferrari). O francês demorou mais de 50 voltas para passar o austríaco e, com isso, Senna simplesmente sumiu dos adversários.
A corrida tinha 78 voltas e, ao completar a 66ª, Senna tinha quase um minuto de vantagem sobre Prost. “Já ganhou!”- era impossível pensar algo diferente. Mas, de repente… Bum! A TV mostra o McLaren batido no guard-rail da curva Portier (a que fica imediatamente antes do túnel). Senna saiu do carro, foi para seu apartamento a poucos metros dali, entrou sem ser notado pela empregada e foi para o quarto dormir. Havia perdido a corrida mais ganha de sua vida, simplesmente por ter perdido a concentração ao diminuir ligeiramente seu ritmo.
Oito anos depois, em 1996, Michael Schumacher conquistou em Mônaco sua segunda pole position pela Ferrari. A Williams dominava a temporada e Schumacher ainda não havia vencido nenhuma corrida em sua nova equipe. Vislumbrou enormes chances de consegui-lo nas ruas de Monte Carlo. No dia da corrida, a chuva parecia ser mais um fator a jogar a sorte para seu lado.
Largada. Schumacher saiu mal, mas isso não seria nada perto doque se veria logo depois. Ao chegar à pequena curva sem nome que fica entre a Loews e a
Portier, o alemão bateu, sem qualquer motivo aparente que não o de ter cometido um erro. Acabava ali, na primeira volta e em uma das curvas mais lentas e fáceis do circuito de Mônaco, a expectativa da Ferrari. Na volta aos boxes, cara fechada, Schumacher só conseguia dizer uma frase a quem se aproximava para perguntar o que acontecera: “Não admito errar desse jeito”.
Todos os grandes campeões têm histórias parecidas, de momentos baixos ou de grandes oportunidades perdidas por causa dos erros mais grosseiros.
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Já que estamos falando de sucessos e fracassos: dois ex-pilotos de F 1 tiveram emoções bastante diferentes neste final de semana. Em Donington, na Inglaterra, Jean Alesi venceu sua primeira corrida no DTM, o supercompetitivo campeonato alemão de turismo. Em Indianapolis, Johnny Herbert passou pelo constrangimento de não conseguir classificação para a largada na 500 Milhas de Indianapolis.
Abraços e até domingo (espero que sem polêmicas desta vez…),
Panda