O FABULOSO PIERRE
Imagine que você é multimilionário. Que adora carros e que more numa propriedade enorme, com uma área equivalente à de uma pequena fazenda. Um dia você começa a colecionar carros, e cada vez mais entusiasmado, constrói dependências adequadas para guardar e manter uns 30 carros.
Isso ocorre na Europa, e você conhece e freqüenta as figuras mais manjadas. Como curte muito carros e corridas, e morando na França, sempre dá uma mãozinha a seus amigos que correm em Le Mans e outros circuitos importantes. Você freqüenta o ambiente e é bem-vindo. Sua coleção aumenta e nessa altura, você já tem mecânico, funileiro, pintor trabalhando full-time. Seus carros estão impecáveis e prontos para você usa-los.
O único problema é que nessa região em que você mora não há nenhuma pista e não fica nada bem, logo você, sair pelas estradas da região com seus Aston Martin, Jaguar, Alfa etc.
Bem, como espaço e grana não faltam, você chega à conclusão óbvia de que precisa de um autódromo e o constrói, simplesmente. Fica tão bem feito que logo é apelidado de Brands Hatch francês. Quando seu amigo Jim Clark, o então bi-campeão de F1 vem correr na França, ele se hospeda na sua propriedade e vocês tiram uns rachas. No final de 1967, um de seus melhores amigos, o Conde Filipinetti, dono da escuderia de mesmo nome, resolve te dar uma lembrancinha. Um belo dia ele te manda a Ferrari P4 usada naquela temporada. A máquina tá meio malhada mas para você com seus mecânicos, não há problema e depois de um tempo o belíssimo protótipo está totalmente restaurado, concours condition como dizem os bestas. Só que você foi atacado pela doença.
Gostou tanto do Ferrari P4 que agora resolveu que só vai querer ter Ferraris na sua coleção. E assim começa a vender todos os outros Aston, Jaguar etc. (e a maioria modelos esporte de babar).
Pouco a pouco você vai comprando, restaurando alguns; outros nem precisam, estão jóia, e até que você nem gasta tanto. Naquele tempo, Ferraris usados nem valiam a fortuna que começaram a valer a partir dos anos 80.
Aí você resolve que não te interessa qualquer Ferrari. Quer os que tenham pedigree, os vencedores de corridas famosas. Depois de algum tempo, você conseguiu quatro que venceram Le Mans: A 375 Plus de 1954, a TR de 1958, a 330 TRI/LM de 1962, a 275 P de 1964 e mais uns outros 20 Ferraris daqueles (335 S da Mille Miglia de 57, um GT Tour de France de 61, uma 512M de 70, um F1 312 de 69 e, de quebra duas, eu disse duas berlinettas 250 GTO, uma 63 e outra 64, uma das três construídas naquele ano).
Com o andar das coisas, você aumentou e melhorou e muito a garagem, digo as dependências onde seus carros ficam guardados. São 3 andares, com temperatura controlada, todos eles embrulhados em capas de plástico transparente. Tem uma salãozinho onde você colocou uma porção de motores, câmbios, enfim peças de Ferrari que parecem uma exposição de arte. E há também sua coleção de miniaturas Ferrari, todas feitas por encomenda, dos seus carros e de outros que você também gosta. Todos carros são vermelhos, acho que você tem uns 25 mas tem um Ferrari que é azul marinho, de fábrica, um GT de 1955, original.
Você não esqueceu de nenhum detalhe e mandou fazer um brasão redondo da tua coleção e colocou em cada carro, nos pára-lamas, ao lado do escudo Ferrari – ficam bem ali, não acha?
Voltando ao teu autódromo, como ele ficou muito bom mesmo, técnico, seguro e tal, diversas fábricas o usam regularmente para alguns testes e também muitos pilotos, amigos seus, aparecem para umas voltinhas…
A coisa foi ficando tão conhecida que começaram a vir excursões de tarados por carros visitar sua coleção. Os americanos vinham de Concorde, afinal a França é longe. Acontece que a turma queria usar a pista e você não ia emprestar nenhum de seus carros e então você comprou uns carros de fórmula e fez um curso de pilotagem pra teus visitantes e a coisa vai indo muito bem, obrigado. Há ocasiões especiais, como por exemplo, encontros de Clubes Ferrari, e ai chegam na tua casa montes de outros Ferrari e seus donos, para umas voltinhas pela tua pista particular.
Se você que leu isto, acha que é um sonho, delírio ou coisa assim, está enganado. Tudo isso existe, e é obra do fabuloso Pierre Bardinon, dono da propriedade e da coleção de carros, que se chama MAS DU CLOS. O melhor de tudo é que se você tem bala, pode ir lá conhecer a coleção e fazer o curso de pilotagem. Tem até um brasileiro piloto trabalhando como instrutor, o Thomas Erdos.
Acesse o site Mas du Clos, veja se sua grana dá, e boa viagem.
Alexandre Zamikhowsky Filho