Da Matta, Massa e nossas diferenças…

A RIDÍCULA “TEORIA DO BOICOTE”
31/07/2002
FOFOCAS, FOFOCAS, FOFOCAS
07/08/2002

Ok, Panda

Você quer brigar, então vamos brigar. Mas antes queria expressaraqui meus sinceros votos de boa sorte a Cristiano da Matta, que já teria assinado um pré-contrato para correr pela Toyota na próxima temporada, e a Felipe Massa, que estaria passando por maus momentos na discussão da renovação de seu contrato com a Sauber, correndo inclusive o risco de perder o lugar para Heinz-Harald Frentzen já na Hungria.

As notícias estão fervendo e nem dá para comentá-las, tal o tiroteio. Nas próximas horas, não vou tirar os olhos – e acho que você e os leitores farão o mesmo – do www.grandepremio.com.br, à espera das novidades.

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Passemos à briga propriamente dita.

Acho que o ponto central da nossa divergência em torno do Rubinho ter quebrado ou não a barreira da vitória é de espírito. Eu tenho procurado ser sempre otimista – ainda que não inocente – em relação ao nosso bom garoto enquanto você tem sido predominantemente pessimista em relação ao amadurecimento dele como homem e piloto.

É aquela história que tantas vezes vemos no Brasil: o copo está meio vazio ou meio cheio? Avançamos aqui, recuamos lá, crescemos aqui, encolhemos lá. Sempre há o que contestar, sempre há o que reclamar. Mas sempre há o que se elogiar também, desde que você tenha uma posição moderadamente construtiva e otimista. Estou falando de economia e desenvolvimento social brasileiro ou do Rubinho? Não importa. Serve para os dois.

Basta ver esta temporada. Rubinho já fez grandes bobagens, talvez as maiores a gente nem tenha tomado conhecimento, ficando abafadas nos boxes da Ferrari (você não acha muito estranho que até hoje a equipe não tenha explicado tecnicamente os problemas do carro na França?).

Mas nosso garoto já fez Schumacher morder o pó nos treinos três vezes em doze corridas, fato inédito na carreira do alemão. Além disse, Barrichello já deu pelo menos dois chocolates no seu companheiro de equipe – Áustria e Europa. É pouco? Para nós é pouquíssimo, acostumados a esmagadora superioridade técnica de Emerson, Piquet e Senna associada a bronca natural que todos temos o direito de ter do Schumacher. Mas, me diga: quem é que fez mais do que isso até hoje?

Agora que o Rubinho ainda não amadureceu plenamente e por isso faz coisas como a que nossos colegas do www.grandepremio.com.brcontaram e você transcreveu em sua coluna passada, até os guard-rails de Interlagos sabem. Só que eu acho, por ser otimista, que ele está melhorando. Aos poucos e, aqui entre nós, tardiamente mas, que diabo, que está melhorando, ele está. Me desminta se for capaz.

Tudo bem. Reconheço que estou brincando com fogo ao apostar que Rubinho quebrou ou está prestes a quebrar a barreira da vitória e se tornar um dos favoritos ao título de 2003 – o auge do risco foi aquela chamada na home page “Eu acredito em Rubinho” – mas acho que este é o papel do comentarista: conhecer bem o assunto do qual fala, intuir tendência e bancá-las, combinando fatos e impressões.

Misture isto ao meu otimismo e verá porque tenho dito o que disse do Rubinho.

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Sobre a minha bronca com Schumacher depois do Affair Áustria, reafirmo tranqüilamente a minha opinião.

O alemão é o prefeito, o juiz e o delegado da Ferrari. Ele pode tudo dentro da equipe, mais até que Luca di Montezemolo. Jean Todt? Não passa de um mordomo de luxo de Schumacher, que está lá para atender aos seus mínimos desejos e cercá-lo de mimos (Eddie Irvine reclamava que o carro pessoal de Schumacher, pago pela Ferrari, tinha direito ao cartão que lhe franqueava pedágio automaticamente enquanto ele, Irvine, tinha de entrar na fila como todo mundo).

Você acha que com esta bola toda do alemão (merecida, aqui entre nós), Todt ou mesmo Montezemolo (que, não duvido, tenha sido consultado) poderia deixar Rubinho voar para a vitória, deixando o alemão em 2o? Só se quisessem perder o emprego no dia seguinte, demitidos pelo presidente da Fiat, da GM ou pelo primeiro ministro italiano.

Não, Panda. Schumacher é o verdadeiro dono da Ferrari. Se ele quiser, manda pintar de loiro a crina do cavalinho e os italianos vão perguntar se ele tem preferência pelo tom. Na saia justíssima da Áustria, Todt e Ross Brown apenas fizeram seu trabalho, da mesma forma que os mecânicos poliram os carros pela manhã e apertaram bem as porcas das rodas.

O mesmo raciocínio vale para Rubinho. O que poderia fazer ele, com seu contratinho molhado de tinta no bolso, com suas limitações, inseguranças e temores, contra o todo poderoso alemão, o super homem que discute com Fangio, Clark e Senna o crachá de maior de todos os tempos de todos os universos conhecidos?

E o que Rubinho ganharia com uma eventual rebelião? Um pouco de alto estima? Neste ponto, até posso concordar com você mas, e depois? Teria bala para peitar o alemão e os italianos? Acho que não preciso responder. Rubinho não é Reutmann, que peitou Frank Williams – e se deu mal – em 81, nem Piquet, que trombou feio com parte da Williams e comeu o pão que o diabo amassou para ganhar o título de 87, muito menos Prost, que bateu a porta na cara de Senna e Ron Dennis em 89.

É pedir demais do Rubinho…

A única pessoa na face da Terra que poderia dizer “deixa o garoto ganhar” naquela tarde de domingo era Schumacher. Aliás, ele não precisava dizer nada: bastava não ultrapassar. Ninguém iria reclamar com ele. De quebra, teria amealhado mais admiradores que não deixariam de louvar a esportividade do alemão. Sei que a Fórmula 1 assim como todo o esporte profissional nunca foi lugar de cavalheiros e escoteiros mas bem que podemos imaginar que seja. Sendo um pouco otimista…

Bom final de semana

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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