Todos contra a Ferrari

WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
16/10/2002
PIQUET E ZONTA
21/10/2002

Panda

Extra: um site alemão está noticiando que Massa tornou-se piloto de testes da Ferrari. Fique de olho na confirmação da notícia (da qual já se falou algumas vezes) no www.grandepremio.com.br.

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A hora dos palhaços veio e passou. Não quer dizer que não volte – você sabe que sempre tem um palhaço por perto – mas as coisas agora podem ser discutidas num contexto mais político e menos carnavalesco.

Minha leitura do tal programa de dez pontos do Max Mosley (veja minha coluna de 11/10) é a seguinte:

– há uma pressão crescente por parte de organizadores de corridas (creio que Tony George, de Indy, à frente) e redes de TV européias por mais “show” na Fórmula 1. Por show entenda-se alguma coisa que não seja a Ferrari ganhar do jeito que ganhou no terço final do campeonato.
– Mosley e Bernie vão se convencendo de que o monopólio da competência em mãos italianas pode, de fato, prejudicar os negócios, já bastante abalados pela escalada de custos da categoria e pela retração dos patrocinadores.
– Mosley e Bernie também não gostam de ver tanto poder político nas mãos da Ferrari. Quanto mais vitórias, mais Luca di Montezemolo cresce e mais diminuem de tamanho Mosley e Bernie que, aliás, é bem baixinho.
– Bernie, ainda por cima, tem uma batata quentíssima em mãos, que é o pacote de ações da Slec, a empresa que detém os direitos comerciais da Fórmula 1, que está voando por aí, atualmente em mãos dos bancos credores daquele maluco alemão que comprou as ações por mais um bilhão de dólares e depois faliu. A cada vitória da Ferrari, estas ações valem um pouco menos. Pode ser bom para Bernie, se ele quer recomprá-las ou péssimo, se ele quiser vender a parte que ainda está nas suas mãos.
– Creio que as equipes, que terão um papel decisivo na votação das medidas, ainda não se resolveram se querem uma mudança tão radical assim. Claro que ninguém vai propor rodízio de pilotos (ainda que fosse engraçado ver como a coisa seria regulamentada) mas o fato de Patrick Head ter admitido a hipótese da distribuição de um kg de lastro para cada ponto no campeonato é, no mínimo, preocupante.
– A questão de fundo é que a Ferrari está aglutinando todos contra ela. Culpa da sua competência técnica, esportiva e política mas culpa também das bobagens que se permitiu fazer a partir da Hungria, onde decidiu o resultado da corrida antes da largada (e isso deixando barato a Áustria).

Não sei se consegui mencionar todos os pontos relevantes do cenário, que é bastante complexo. Talvez tenha esquecido de um ou outro mas acho que deixei claro que a situação está ficando madura para a Fórmula 1 mudar.

Foi assim quando perceberam que a McLaren, no final dos anos 80, não perderia mais corridas por força dos motores turbo da Honda e pela competência dos seus pilotos. Foi assim, mais tarde, quando as equipes, Ferrari à frente, perceberam que a eletrônica embarcada da Williams tinha atingido tal grau de qualidade que não poderia ser alcançada em prazo razoável.

Quando se atinge supremacia absoluta na Fórmula 1, se põe a casa abaixo e se começa a construir outra no lugar. Raras vezes os dirigentes sabem como ficará a casa nova. Algumas vezes eles nem sabem se será possível construí-la mas eles metem a marreta mesmo assim e põem tudo abaixo para depois ver o que acontece.

E tudo começa com uma palhaçada como a da semana passada.

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Autosprint volta à carga em sua edição da semana passada na questão do final do GP dos Estados Unidos.

Falei sobre isso também em minha coluna passada dizendo que teria sido um erro de avaliação de Rubinho ultrapassar Schumacher. Ele deveria apenas ter cruzado em 2o, o mais próximo possível.

Agora, Autosprint acrescentou mais detalhes em sua tese.Estudando detalhadamente os metros finais da corrida, a telemetria dos dois carros vermelhos e investigando as reações de Schumacher e seu engenheiro, a revista italiana conclui que o alemão se atrapalhou com a posição da linha de chegada. Pensou que fosse um linha branca, situada imediatamente depois do grid e que seria na verdade a linha de largada. Mas a chegada não era ali e sim num outra linha branca pintada logo depois da trilha de tijolos.

Rubinho estava atrás de Schumacher na tal linha de largada, os dois trocando olhares lânguidos (as fotos de Autosprint, que não posso reproduzir aqui, mostram claramente isso). Depois, Rubinho acelerou, passando a frente de Schumacher. Este acelerou também, chegando a 254 km/h ante 252 km/h de Rubinho mas não conseguiu retomar a ponta na linha de chegada, cruzando uns 40 centímetros atrás.

Hora dessa o alemão dá com a língua nos dentes e conta tudo. Em todo caso, no Japão, Rubinho não quis saber de emparelhar não e ficou obedientemente atrás do chefe.

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Gostei da proposta do nosso fiel leitor Victor Lagrotta (clique nas cartas da quinzena, Victor é aquele de camisa florida tomando um drink num abacaxi) em misturar Fórmula 1 e rali num campeonato.

Quem tem a oportunidade de acompanhar as transmissões do Mundial de Rali pela ESPM sabe que aquele pessoal dirige uma barbaridade. Seria legal ver Schumacher & Cia em meio a tantas variáveis e falta de controle sobre a situação, arriscando o pescoço – e o dos malucos que ficam ali colados à pista – curva após curva, em meio a terra, lama, neve, asfalto, estradas de morro, floresta.

Não é dizer que os pilotos de Fórmula 1 não seriam capazes de se sair bem num rali. Creio que Jim Clark ganhou um rali importante na Inglaterra nos anos 60 e Senna, ao testar um carro da categoria em 85, se não estou enganado, impressionou os especialistas com a rapidez com que aprender a botar o bichão de lado antes mesmo de entrar nas curvas e fazê-las usando o freio de mão.

Mas, Victor, por que limitar a coisa só ao rali? Por que não alargar este campeonato incluindo uma ou duas provas de longa duração – uma 24 horas e uma 1000 km, para saber se estes caras agüentam corridas mais longas – e umas de DTM ou Nascar, onde o contato físico entre os carros é intenso e o esforço físico é reforçado por temperatura na cabine em torno de 60 graus? Vale também uma prova em oval – não mais do que uma e o que mais? Acho que não esquecemos de nada.

O campeonato podia ficar assim:

– sete corridas de Fórmula 1 (Brasil, San Marino, Mônaco, Canadá, Spa, Monza e Japão)
– cinco ralis (Suécia, disputado sob neve intensa, Tour de Course, em asfalto, Argentina (coitados… deixa uma corridinha pra eles), Safari, em terra/lama, e Inglaterra, geralmente em terra/asfalto molhado)
– duas corridas de longa duração (Le Mans, claro, e pode escolher a outra)
– uma corrida de DTM e outra de Nascar, pra agradar todo mundo
– e uma em oval (vá lá: as 500 Milhas de Indy).

Tá aí o nosso calendário. O cabra que vencer este campeonato pode se proclamar o maior piloto do mundo. Se ganhar dois, é o maior piloto do sistema solar. E se ganhar três é melhor do que o Fangio!

Grande abraço e bom final de semana pra todos

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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