Caros Pizzonia e Da Matta
Antes de mais nada, aceitem os mais sinceros e profundos votos de boa sorte da gente aqui do GPTotal. Sorte sim, a velha e boa sorte, que fez com que as portas da Lotus se abrissem para Emerson como que por um passe de mágica, a sorte que manteve Piquet à salvo das tentações até que acertasse o contrato com a Brabham e que fez com que a Lotus (de novo ela) e a Renault acertassem o carro com o qual Senna decolou rumo ao estrelato.
Vocês dois vão precisar de sorte, muita sorte, apesar de estarem entrando na Fórmula 1 com o pé direito, em equipes estruturadas, sólidas (toc,toc, toc) e honestas, que dispõem de meios e gente capaz de fazer um carro bom o bastante para levá-los senão à vitória pelos menos aos pontos desde a primeira corrida e de oferecer a cada um de vocês a oportunidade para achatar o traseiro testando, testando e testando, que é o mais importante agora.
Eu sei que vocês, cada um do seu jeito, têm boas credenciais para assumir o comando dos carros que lhe serão confiados. Você, Pizzonia, revelou-se um bom piloto de testes da Williams e acumulou uma quilometragem de todo respeitável durante todo o ano. De você, Da Matta, nem preciso falar. Arrebentou na Cart, bateu recordes à vontade etc. e tal.
Mas, me permitam um certo pessimismo: Fórmula 1 é outro papo. Para cada Emerson, Piquet e Senna tivemos dez ou vinte grandes promessas que simplesmente não conseguiram administrar os pneus mais largos, a incrível potência de um Fórmula 1 – que não tem comparação com nada que se mova sobre rodas -, e toda a pressão econômica, esportiva e mundana inextricável à “categoria máxima do automobilismo mundial”.
Que conselho poderia dar a vocês?
Não sei, simplesmente não sei, mesmo tendo acompanhado o começo de carreira de todos os pilotos brasileiros na Fórmula 1 desde Emerson Fittipaldi. Diria que os fatores decisivos são absolutamente intangíveis, fora do alcance de vocês: primeiro, sorte; segundo, o grau de maturidade de cada um.
Sorte porque, independentemente do talento, vocês dependerão da capacidade das suas equipes em produzir um carro bom e potente. Nesse sentido, é prudente recorrerem às fitas do Senhor do Bonfim porque, em 2002, Toyota e Jaguar, independentemente da montanha de dinheiro no qual estavam montadas, produziram duas boas cadeiras elétricas.
A Toyota ainda disfarçou um pouco mas, vem cá: você, Da Matta,não acha que para uma equipe tão rica, com toda uma experiência de competições, dois pontinhos são muito, muito pouco? Eu acho. Quanto a você, Pizzonia, recomendo mais de uma fitinha porque Niki Lauda & Cia ainda não pegaram a mão. Tomara que acertem no ano que vem.
E a maturidade? Digo que ela é intangível porque ninguém amadurece porque quer. A gente amadurece e pronto. Não tem nada a ver com idade. Emerson e Senna já eram homens maduros aos vinte e poucos anos de idade. Piquet, ao seu jeito moleque, também era. Não sei se poderia dizer o mesmo de numerosos outros pilotos brasileiros que chegaram meninos à Fórmula 1.
Maturidade faz muita diferença. Ajuda vocês a serem mais firmes nas suas decisões perante a equipe. Vendo vocês como homens e não como meninos, a equipe os respeitará mais, temerá mesmo uma reação de vocês se as coisas não estiverem ok. Mas, o principal, a maturidade os fará errar menos nas pistas e nos boxes. Errar, vamos deixar claro desde logo, é uma prerrogativa de vocês. Estão chegando agora, têm muito a explorar das próprias potencialidades mas precisam errar como homens, sabendo porque erraram, pagando o preço pelos erros e não se esquecendo em momento algum de que os erros têm limites estritos na Fórmula 1, mesmo porque estamos falando de dinheiro grosso.
Pensando bem, tenho um conselho a dar a vocês sim, curto e grosso: falem pouco. Isso mesmo. Não fiquem dando mole para jornalistas, patrocinadores, bajuladores em geral, que vão aparecer de todos os lados. Passem um víper na boca, só a abram depois de pensar três ou quatro vezes no que vão falar.
Falar pouco não é sinal de maturidade. Às vezes pode ser apenas falta do que dizer. Mas as pessoas maduras falam, expõem-se e comprometem-se menos.
Se fizerem isso, vão começar bem, principalmente você, Pizzonia, que é ainda bastante jovem. Depois, é pisar fundo e se entender com Deus pelas pistas do mundo.
Com os melhores votos do
Eduardo Correa