Panda
As novas regras do Dr. Max morreram!
Elas resistiram a três GPs, todos abaixo do Equador (o que deve significar alguma coisa), acidentados, sujeitos a chuvas e calor extremos, pneus defeituosos, barbeiragens esperadas e inesperadas de equipe e pilotos, surpresas maiores ou menores. Agora, de volta a Europa, as coisas voltaram ao normal.
A Ferrari e Schumacher dominaram quase que inteiramente a corrida, secundados por McLaren e Williams. Sonhos de verão como Webber, Renault, Alonso e Fisichella retornaram aos seus devidos lugares. Até Rubinho fez o que normalmente faz: uma corrida quase perfeita que acabou prejudicada por um detalhe ou dois.
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Isso quer dizer que Schumacher e a Ferrari devem dominar o
campeonato daqui em diante?
Não necessariamente. Esqueça Schumacher e olhe para a
corrida de Rubinho. Ainda que tenha sido muito rápido, ele não
teve carro e pneus para lutar contra Williams e McLaren.
É claro que Ferrari e McLaren ainda não apresentaram seus
novos carros mas o que dá para dizer neste momento é que os
pneus Michelin são bem melhores do que os Bridgestone e
isso será o fator determinante no campeonato, tanto mais
quando o verão europeu chegar. Quer outra prova? Veja o
desempenho da Sauber, também usuária de Bridgestone, e o
chocolate que a equipe está tomando de Renault e mesmo
Jaguar.
Aí da Ferrari se o F2003GA não for um foguete.
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Que grande disputa entre os irmãos Schumacher nas primeiras voltas!
Isso é Fórmula 1, meu amigo. Dois seres humanos, por assim dizer, andando no limite extremo, ou mesmo além dele, os carros separados por centímetros, um tendo de frear calculando exatamente o que o outro fará sob o risco de voar cacos para todos os lados, como disse Rubinho, espectador privilegiado da disputa.
E Ralf aguentou bem o tranco, pelo menos nas 16 ou 17 primeiras voltas, quando fez seu primeiro pitstop.
Ralf tem dessas coisas. Se larga bem (e sua largada foi perfeitíssima), o homem é páreo até mesmo para o irmão maior. Mas ele teve dois pequenos engasgos ao arrancar de seu primeiro pitstop e isso foi o bastante para fazer sua corrida começar a ruir, até tomar a ultrapassagem de Rubinho e ter de se conformar com o 4º lugar.
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Por falar nisso: foi uma grande ultrapassagem?
Sim, foi. Rubinho tinha o carro melhor, mais no chão, como se costuma dizer, mas passar alguém em Imola não é nada fácil – passar hoje em dia na Fórmula 1 não é nada fácil. Pergunte a Schumacher que teve de esperar pela boa vontade de Da Matta, incapaz de ultrapassar o simpático mineirinho antes da
Tamburello. Aquela coisa de curva de torque semelhante em todos os motores, mesmo os mais fracos, e perda de aderência na aproximação do carro da frente.
Por isso, o que Rubinho fez naquela volta, se aproveitando de um errinho de Ralf numa tomada de curva, depois colocando seu carro nas posições invertidas de ultrapassagem até chegar à saída da variante com o Ferrari perfeitamente posicionado, alinhado, balanceado e com o motor na rotação certa, deve ser
considerada uma ultrapassagem nota 9,9, um consolo para Rubinho que merecia o 2º lugar hoje em San Marino.
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Estas camarazinhas de TV colocadas em pontos cada vez mais malucos dos carros (o que mais eles inventarão?) mostrou uma cena pouco comum: um piloto – Rubinho, no caso – comemorando uma ultrapassagem.
O que é que é isso, Rubinho?
Um piloto de Fórmula 1 tem de ser cool, não pode se permitir este tipo de emoção, tanto mais quando ainda está correndo. Já pensou se o Ralf retoma a posição logo depois? Iam dizer que você se distraiu, se atrapalhou. O povo quer falar e mesmo um gesto humano e brasileiro como o seu, deve ser reprimido
neste universo gélido chamado Fórmula 1, um universo onde dois irmãos deixam o velório da mãe para irem ali, fazer uma corridinha, a ganharem, aliás, e depois voltar para a cerimônia de enterro.
Isso é que é ter água gelada nas veias e água gelada, Rubinho, parece ser o segredo dos grandes campeões.
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Observações e dúvidas sobre a corrida de hoje:
– Kimi Raikonenn fez outra corrida muito boa, científica e friamente planejada, ganhando o 2º lugar na mão do gato. Salvo uma tremenda barbeiragem dos engenheiros da McLaren, é com ele que Michael Schumacher terá de se entender de uma forma ou outra se quiser faturar seu 6º título em 2003. E palmas pra mim que apostei em Kimi como o melhor piloto extra-Ferrari da temporada!
– Vocês repararam na largada, quatro carros absolutamente lado a lado, pouco antes da freada da Tamburello? Não tenho a fita para rever a cena, mas deu para perceber que eram duas Sauber, uma delas com as quatro rodas fora da pista. Que belíssima cena. Que coragem, que garra dos pilotos!
– Os estrategistas das equipes vão dominando os segredos e minúcias impostas pelos regulamentos do Dr. Max.; as estratégias de corrida tendem a ser tornar mais convergentes e as surpresas menos frequentes. Ferrari e a McLaren optaram por duas paradas mas a Ferrari decidiu mudar de estratégia durante a prova, segundo noticia o nossos parceiros do www.grandepremio.com.br, para ajudar Schumacher a
ultrapassar o irmão. A estratégia da McLaren foi uma boa para Raikonenn mas não para Coulthard que, se continuar deste jeito, chega ao fim do campeonato medindo apenas alguns centímetros de altura. O cara deve odiar finlandês.
– Como é que Schumacher conseguiu ser tão mais rápido do que o resto do grid depois de seu primeiro pitstop?
– Aquela breve disputa entre Da Matta e Fisichella foi legal de se ver e, em pelo menos numa situação – aquela ultrapassagem totalmente alterada do italiano na entrada da variante baixa – lembrou lutas antológicas como a de Gilles Villeneuve e Rene Arnoux no GP da França de 78. Mas não sei se os carros de
hoje aguentam o tranco. Você notou aquele mar de fumaça preta saindo das rodas dianteiras do Jordan quando foi aos boxes trocar pneus? Aquilo, meu amigo, é freio excessivamente abusado e um Fórmula 1 atual não aguenta ser abusado durante muito tempo. Coincidência ou não, Fisichella abandonou logo depois.
– Ralph Firman é o pior piloto da Fórmula 1 atual, lutando para se manter na pista, visivelmente incapaz de controlar a potência e os freios de carbono do seu Jordan.
– Outro que de forma alguma pode ser alinhado entre os melhores do momento é Pizzonia. Todos sabemos que seu carro é uma cadeira elétrica mas Pizzonia vem colecionando resultados muito, mas muito piores do que seu colega de equipe. Isso é a pior coisa que pode acontecer a um piloto estreante tanto mais se as pessoas que o contrataram já não mais estão na equipe.
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Ok! A Malásia está acima do Equador – mas só um pouquinho.
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Caros leitores: eu, Panda, Maurício e Dani estamos tentando atualizar o site cada um de um lugar do mundo, a partir de laptops e modems movidos a lenha e fios de eletricidade e telefone puxados direto de postes.
Por isso, perdoem os atrasos, a economia nas fotografias aqui e no álbum do GP de San Marino e a falta de atualização nas cartas dos leitores. Na terça cedo estará tudo de volta aos seus lugares. Conto com a compreensão de todos.
Eduardo Correa