Meu novo herói (parte 2)

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Edu,

Não sei se você lembra, mas em 2 de novembro de 2001 escrevi uma emocionada coluna homenageando Alessandro Zanardi. Para poupar aos leitores o trabalho de procurá-la, transcrevo-a aqui:

“Meu novo herói se chama Alessandro Zanardi. Maior que Fangio, maior que Piquet, maior que Senna, maior que Nuvolari.

“Zanardi saiu do hospital nesta semana, cerca de 40 dias depois daquele acidente horripilante em Lausitzring. Ele teve as duas pernas amputadas, perdeu 70% do sangue e ficou alguns dias em coma. Em resumo, não morreu porque Deus não deixou. Ao acordar, soube por sua mulher do que havia ocorrido e reagiu da seguinte maneira: “Tenho você e nosso filho. Então, está tudo bem”.
“Declarações do piloto italiano ao deixar o hospital: “A vida é maravilhosa. Vou fazer de tudo para aproveitá-la da melhor maneira possível. Quero ser capaz de carregar meu filho nos ombros. Me sinto cheio de energia”. E arrematou: “O automobilismo é importante para mim. Talvez eu volte a correr um dia”.
“Que incrível lição de vida. Faz pensar quantas vezes reclamamos das coisas sem ter a menor razão para isso. Tomara que Zanardi alcance toda a felicidade do mundo. Ele merece.”

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Passados 18 meses daquele acidente, Zanardi usa próteses mecânicas. Está perfeitamente adaptado a elas e continua sendo um exemplo de força, de vontade de viver, de alegria e de paixão pela vida.

No domingo passado, Zanardi voltou a Lausitzring como convidado de honra. A bordo de um Reynard especialmente adaptado (controles manuais de câmbio e embreagem, e uma canaleta para que o pé não escorregasse), ele voltou às pistas. Deu 13 voltas (exatamente o número que faltava para o final quando aconteceu o acidente) e recebeu uma bandeirada simbólica, como se tivesse vencido aquela corrida. Detalhe: o carro tinha exatamentea mesma pintura e o mesmo número (66) do usado por Zanardi em 2001. Outra homenagem era vista no site da CART: o desenho desse carro foi incluído no “spotters guide” (guia para os observadores que as equipes colocam em diferentes pontos do circuito, inclusive nas arquibancadas), como se Zanardi fosse um dos participantes da corrida.
O mais impressionante é que Zanardi, nas 13 voltas que deu, conseguiu um tempo suficiente para colocá-lo em 5º lugar no grid. Mais: foi extremamente constante. Nessas 13 voltas, foi relativamente lento nas quatro primeiras. Nas duas seguintes, fez tempos que o deixariam em 6º no grid. E todas as sete últimas o teriam colocado em 5º lugar.

A idéia de completar a corrida partiu, acredite, do próprio Zanardi. Ele levou o filho para correr de kart e, a certa altura, resolveu dar umas voltas. Não demorou para fazer bons tempos e frear perfeitamente. O Reynard de Zanardi foi adaptado pela equipe Conquest, pertencente ao ex-piloto belga Eric Bachelart, e pela qual corre o brasileiro Mário Haberfeld. “Não quero provar nada a ninguém, só dar dar as 13 voltas e encerrar aquela corrida. Amo pilotar. Claro que o acidente mudou minha vida, mas não penso nisso. Se alguém ligar a TV porque ficou com preguiça de ir ao supermercado e vir um cara que perdeu as pernas correndo numa pista, talvez perceba que jamais devemos nos acomodar.” Em seguida, Zanardi desmentiu os boatos de que pode ser dono de equipe: “Não sei fazer isso. Se tiver que escolher entre um piloto talentoso e outro gente boa, ficarei com o gente boa! E isso não é muito produtivo…”

Peço agora licença a Almir Leite, que cobriu a corrida de Lausitzring para o jornal “O Estado de S. Paulo”, e reproduzo seu texto: “Naquele 15 de setembro [de 2001], Zanardi liderava a prova, fez um splash and go, perdeu o controle do carro ao voltar à pista e foi atingido pelo carro do canadense Alex Tagliani. Provavelmente, venceria aquele GP. Ontem, ele venceu. Estava sozinho na pista, mas a cada passagem pelo trecho principal da arquibancada de Lausitzring, era aplaudido de pé pelo público.” Voltemos às palavras de Zanardi: “Foi um dia fantástico em minha vida, com o contato com a velocidade, o carinho do público e de meus colegas pilotos.”
Perto de tudo isso, o ato de vencer corridas chega a parecer ridiculamente fútil. Zanardi, para mim, é um vencedor como poucos. Ou, usado o título do livro de Alex Dias Ribeiro, é “Mais que vencedor”.

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Mudando de assunto. Você já pensou em ter nome e sobrenome de equipe de Fórmula 1? Pois aconteceu com um garoto de 14 anos. Seu nome é Jordan Ford e ele visitou os boxes da equipe homônima durante os treinos realizados em Silverstone, antes do GP da Espanha. Coincidência ou não, Jordan Ford (o garoto) faz parte de um fã-clube da Jordan-Ford (a equipe).

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Historinha recebida por meio do clipping informal do amigo Ricardo Divila. Os administradores do circuito de Charlotte, nos Estados Unidos, resolveram fazer uma série de pequenas reformas e checagens nas instalações para receber uma etapa da Nascar. Uma dessas verificações foi feita no sistema de encanamento, com o acionamento simultâneo das descargas dos 3.000 toaletes existentes no autódromo para simular um possível pico de uso (decorrente, talvez, do consumo excessivo de cerveja quente e cachorro-quente frio). As últimas notícias dão conta de que quem estiver em Charlotte no final de semana da Nascar pode ir ao banheiro sem medo…

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Domingo haverá GP na Áustria, onde no ano passado aconteceu aquilo que muita gente insiste em classificar como “marmelada”. Eu, particularmente, não achei marmelada e continuo não achando. Sei que faço parte de uma minoria, mas a verdade é uma só: pilotos profissionais são contratados para defender os interesses de suas equipes. O contrário é coisa de pilotos e categorias amadores.

Não sei quanto a você, mas minha opinião sobre os fatos se mantém a mesma de um ano atrás. Quem quiser conhecê-las pode acessar o menu à direita desta página e procurar as cartas pela data (a partir de 12 de maio de 2002).

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Para aqueles que, como eu, gostam de MotoGP: um documentário sobre o Mundial, realizado durante as temporadas de 2001 e 2002, será lançado hoje durante o Festival de Cannes. Até onde eu sei, é a primeira vez que Hollywood dedica um filme ao Mundial de MotoGP. Tomara que chegue logo a nossos cinemas.

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Dedico esta coluna à memória do amigo Pier Luigi Cabra, um dos melhores revisores de texto que conheci. Pier, italiano de nascimento e já há muitos anos morando no Brasil, contou-me certa vez que presenciou o acidente fatal de Jochen Rindt em Monza, nos treinos para o GP da Itália de 1970. Na época, Pier tinha uns 15 anos de idade. Chegou a Monza com seu scooter, estacionou-o e dirigiu-se à curva Parabólica para assistir ao treino. Minutos depois, aconteceu o acidente de Rindt.

Pier era leitor do GPtotal e nossos encontros (raros e quase sempre em ambiente profissional, mas sempre muito agradáveis) tinham corridas como assunto principal. Infelizmente, Pier não teve tempo de atender a meu pedido para escrever com detalhes sobre o dia em que foi testemunha ocular da história da Fórmula 1. Descanse em paz, amigo.

Panda

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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