GP da Europa

“A FILOSOFIA DAS CORRIDAS”
27/06/2003
WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
30/06/2003

Panda

Hoje quem não gostou da corrida fui eu, em contraposição a você, Luis Fernando e Tite que devem ter gostado, principalmente pela
ultrapassagem de Montoya sobre Schumacher.

Foi uma ultrapassagem valente, sem dúvida, mas o Ferrari estava entregando os pontos. Não lembro quanta diferença o colombiano
descontou mas foi coisa que, em situação normal, como a do Canadá, não daria pé, por mais c. que tenha o colombiano.

Por isso, para mim, a ultrapassagem mereceu nota 7, ainda que passar Schumacher – e por fora – seja sempre um fato notável. E
não vi nenhuma irregularidade na manobra, pelo contrário. Creio que Schumacher rodou pela falta de espaço na saída da curva para
deixar o carro rolar – estou certo, Bob?

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Teriam sido os pneus, então, a decidir o GP?

Sim. Não tenho dúvidas de que a Michelin deu mais uma vitória à Williams, se bem que a evolução de carro e motor seja notável. Nas
últimas três corridas, Montoya marcou 24 pontos e Ralf 23, conseguindo duas vitórias e uma pole.

O mesmo pode ser dito deste incrível McLaren que vai aos poucos incorporando elementos do carro novo. Não fora o motor Mercedes abrir o bico e o igualmente incrível Kimi teria recuperado a liderança do campeonato, merecidamente, aliás.

Enquanto isso, o Ferrari F2003 GA parece ter perdido o gás, com a equipe tornando-se incapaz de equilibrar bom desempenho em
treino e corrida, o que se nota mais pelos resultados de Rubinho do que pelos de Schumacher.

Você deve saber que o projeto inicial do Ferrari teve de ser retocado depois de o carro ir para a pista. Aquelas saídas de ar do motor
não estavam no projeto e Ross Brown reconheceu que elas comprometem um pouco o desempenho aerodinâmico do carro.

Pode ser isso, podem ser problemas pontuais no Canadá (onde Schumacher atribuiu a vitória apertada a problemas nos freios),
pode ter sido a impossibilidade de ultrapassar em Mônaco mas o mais provável é que os pneus Bridgestone simplesmente não
conseguem acompanhar os Michelin.

Se esta situação permanecer assim, como tudo indica que continuará, teremos uma batalha titânica no final do campeonato entre a
eficiência de Kimi e a capacidade de Schumacher em contrabalançar no braço os problemas do Ferrari e da Bridgestone. E Ralf e
Montoya podem entrar nesta briga se andarem bem nas próximas corridas.

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E sabe o que vai ser uma m.? E que nestas condições de competitividade da Ferrari, Rubinho não terá nenhuma chance de repetir as atuações do ano passado, com consequência imprevisíveis com seu futuro na equipe.

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E me dêem licença de elogiar Ralf Schumacher, piloto pelo qual nutro sentimentos contraditórios, oscilando entre a simpatia e a indiferença.

Mesmo largando mais pesado, ele não só conseguiu ganhar a posição do irmão na largada como a sustentou bem, não deixando Michael sequer sonhar com uma ultrapassagem.

Hoje, ele foi o melhor da família e mereceu a vitória.

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Quem nunca viu Gilles Villeneuve correr, teve uma breve amostra hoje, com o desempenho durante algumas voltas de Jacques.

Ele lutou de forma estabanada para passar os dois Minardi (!) e depois rodou sozinho, provavelmente por dar gás antes da hora.
Ficou para trás, recuperou as posições sabe-se lá como e depois meteu o bico do carro nas impagáveis “orelhas de Schumacher”,
como as chamou o repórter da Globo. E aí voltou lá para trás e nem sei direito como terminou a corrida.

Legal de se ver, engraçado mesmo, mas terrivelmente ineficiente e ilógico.

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Os fiscais de pista já deveriam saber: nunca tente puxar um piloto pelo braço logo depois que este abandona a corrida. É repelão na
certa, como fez Kimi hoje em Nurburgring.

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Assustadores os acontecimentos envolvendo Alonso e Coulthard no final da corrida.

Não dá para acreditar que Alonso tenha tirado o pé de propósito tão antes do ponto de frenagem mas também fica difícil entender
como o Renault pode ter sofrido uma falha tão séria e repentina sem aviso prévio.

Creio que o espanhol e a equipe nos devem explicações.
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Para quem não entendeu o começo deste comentário. Depois da minha coluna do dia 23, arrumei encrenca com três logo de uma vez
– Tite, Luis Fernando e Panda – que eu não sou pernambucano mas também não deixo por menos.

Escrevi que gostei do GP do Canadá ou mais precisamente que não o achei chato apesar da penúria de ultrapassagens. E eles caíram matando, como os leitores poderão conferir facilmente, rolando esta coluna para baixo e, no caso do Tite, dando uma olhadinha nas “Opiniões dos Leitores”.

Baseie meu prazer em assistir ao GP do Canadá simplesmente no fato de ver muitos pilotos andando no limite – limite! – durante boa
parte da prova. Pois meus nobres opositores não quiseram nem saber de mané limite. Luis Fernando chegou a dizer: “pro diabo com
o limite”.

O que é isso, companheiros? Vocês, conhecedores profundos das coisas do automobilismo, dão de barato o ato de pisar até deformar a tábua num GP, com os carros mais rápidos do automobilismo diante dos melhores pilotos do mundo? Vocês acham mesmo que o Ralf, Montoya e Alonso estavam só jogando pelo empate e que o Michael estava só matando o tempo até estourar o champagne?

Me pergunto até se assistimos à mesma corrida. Na que vi, estava todo mundo querendo beber o sangue de todo mundo. Você não
viram Michael arrancando grama na tomada daquele carrosel logo depois da largada? Acham que ele fez de brincadeira? Se ele
espirrasse dentro do Ferrari cairia tão rápido para 4º que nem iria perceber.

E não venham me falar que a culpa é dos carros e das pistas. No Canadá, a chicane antes da largada é um dos pontos de Ultrapassagem mais manjados da temporada, com um longa reta começando numa curva de baixíssima velocidade. Se Ralf, Montoya
e Alonso tiveram de morder o pó deixado por Michael é porque não dava mesmo.

Espero que vocês não tenham entendido que dispenso ultrapassagens. Como poderia, se elas são o momento máximo do
automobilismo, como observou o leitor Lucas Ochoa Carioli, que veio em minha defesa? Mas entendo (lembram-se daquela minha coluna no ano passado, comentando sobre as corridas da IRL?), ser da essência da Fórmula 1 que elas sejam raras – raras pelos carros, mesmo das equipes menores, serem cada vez mais afiados, pelos pilotos serem cada vez mais preparados e pelas pistas serem cada vez mais intrincadas.

Não estou interessado numa categoria onde se facilite artificialmente a ultrapassagem. Quero ultrapassagens sim, companheiros, mas quero que elas sejam feitas no limite extremo da capacidade dos carros e da coragem, arrojo e competência dos pilotos porque Fórmula 1 é o Everest do esporte a motor.

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E mais uma coisinha: por que uma tentativa de ultrapassagem deva ser necessariamente bem sucedida para que seja bela? E a
defesa da posição, não conta?

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Desde 4ª-feira à noite venho ruminando a derrota do meu Santos para o Boca.

Já estava conformado em perder por um gol quando o Santos – um time que em seus melhores momentos lembra a Seleção Brasileira da última Copa, seja pela capacidade de fechar a defesa seja pela criação de belas jogadas de ataque – toma um gol bobo, bobo, bobo, um gol que nem nós aqui do GPTotal jogando contra a turma do grandepremio teríamos tomado.

Ao chorar a derrota do Santos junto aos amigos dizia: na Fórmula 1 não tem destas injustiças, estas bobeiras, estas influências do azar e do inesperado.

Será mesmo? Ralf mereceu ganhar? Kimi mereceu perder? Schumacher mereceu o 5º lugar e Rubinho o 3º?

Talvez o centro da discussão entre eu, você, Luis Fernando e Tite seja a seguinte: sou por demais afeiçoado à lógica para apreciar
as influências dos azares no resultado de um jogo ou de uma corrida.

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Termino desejando boa semana a todos e mandando votos de felicidade e muita saúde ao Gabriel, filho do Panda e da Alê, que
acaba de completar três anos.

Só espero que ele não torça para o mesmo time da mãe, corintiana doente.

Eduardo Correa 

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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