PROCURANDO CHIFRES EM CABEÇA DE CAVALO

WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
29/08/2003
“A PRIMEIRA VEZ”
04/09/2003

Edu,

Começo a achar que “arranjar sarna para se coçar” é o segundo esporte mais popular entre os que acompanham automobilismo. Você viu quantas pessoas entraram na onda levantada pela mídia e se diziam indignados com o “a Ferrari culpou Barrichello pela quebra da suspensão na Hungria”?

Será que o pessoal se deu ao trabalho de ler o comunicado da Ferrari ou sua transcrição, e não apenas a interpretação que a mídia (ou parte dela) deu a ele? Eu tenho quase certeza que não. Se tivessem feito, perceberiam que a Ferrari não culpou Barrichello por nada. Vejam o texto, reproduzido pelos nossos amigos do www.grandepremio.com.br: “Depois de uma análise criteriosa dos dados disponíveis e após estudar as imagens do GP da Hungria, a Ferrari averiguou a causa mais provável do acidente de Rubens Barrichello no evento. Ao perceber que o carro atrás (no caso, a Williams de Montoya) estava muito próximo, Barrichello acabou batendo duas vezes na zebra entre as curvas 6 e 7. Os impactos causaram um estresse excessivo no braço do triângulo superior da suspensão traseira esquerda. Tal parte se rompeu devido à forte freada no final da reta principal, durante o começo da volta 20”.

Quem ler o texto com um pouquinho de isenção – abandonando, por exemplo, a idéia fixa de que os dirigentes, mecânicos, motoristas, cozinheiros e faxineiros da Ferrari não fazem outra coisa na vida a não ser pensar em maneiras mirabolantes de atazanar a vida de Barrichello – percebe que o texto não é acusatório. É explícito, mas não acusastório, ao mencionar que eventuais impactos podem ter causado o rompimento da suspensão. Pegar zebras de mau jeito faz parte dos riscos inerentes às corridas de automóvel.

Há quem diga que a divulgação desse comunicado foi no mínimo estranha, já que as equipes raras vezes dão maiores satisfações sobre as quebras de seus carros. Eu também estranhei num primeiro momento. Mas, considerando a maneira como a suspensão quebrou e a repercussão do acidente, creio que a Ferrari optou por dar uma explicação oficial. Nunca poderia imaginar a capacidade de algumas pessoas em procurar chifres em cabeça de cavalo e interpretar tal comunicado como acusação direta a Barrichello.

Curiosa foi a reação de algumas pessoas que criticaram a Ferrari por “colocar material de segunda no carro de Barrichello” ou coisa parecida. Primeiro, parece que tais leitores têm informações absolutamente confiáveis sobre tudo, mas tudo mesmo, o que acontece na Ferrari. Também não faltaram os tradicionais lamentos do tipo “mas isso só acontece com o carro de Barrichello…”. Sinceramente, essa ladainha de “Barrichello é um pobre coitado”, além de não ter ressonância com a realidade, já encheu a paciência.

Lamento informar, mas carro de corrida quebra. Sempre foi assim – não passou a sê-lo apenas depois da ida de Barrichello para a Ferrari. Aliás, vale lembrar: o acidente mais grave sofrido por um carro da Ferrari nos últimos anos aconteceu por falha mecânica (freios) e a vítima não foi Barrichello, mas Schumacher (no GP da Inglaterra de 1999). Nenhum brasileiro ficou indignado. Pelo contrário, li e ouvi até alguns “Bem feito, esse alemão tem que se f…der” – comentário bastante ilustrativo da índole dessas pessoas.

Por último. Barrichello reclamou depois da corrida que “ninguém veio saber como eu estava” ou que demorou mais de uma hora para que isso acontecesse. Bom, a TV mostrou claramente que ele jogou o volante para fora, saiu do carro sozinho e caminhou de volta aos boxes sem qualquer problema. Portanto, era óbvio que ele estava bem e dispensava cuidados médicos de emergência. Por que ele esperava algum tipo de comoção? Isso ele não explicou.

Boa semana a todos.

LAP

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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