Indy on my mind

FALTA APENAS ERGUER A TAÇA
28/09/2003
“SOBRE PILOTOS INTELIGENTES E CORRIDAS DE MARICAS”
04/10/2003

Caro Panda

Você – ou algum dos leitores -, por acaso, quer comprar o meu vídeo cassete? Ele funciona legal mas, sei lá porque, não grava. Discuto troca por coleção de revista velha.

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Então você já sabe porque não gravei o GP de Indy, perdendo a chance de rever um dos começos de prova mais interessantes nos últimos anos e descobrir detalhes incrivelmente ricos. Mesmo assim, gostaria de acrescentar alguns breves comentários aos seus:

1) ironia das ironias: Schumacher ganhou a corrida em boa parte graças à excelência dos pneus Bridgestone para chuva. Será que Ross Brawn vai se desculpar junto à fabrica japonesa por ter dito, menos de um mês atrás, que a culpa pelo péssimo desempenho da Ferrari era deles?

2) Imaginar como alguns fizeram que Rubinho seria capaz de planejar a sua largada, retardando-a o bastante para prejudicar Montoya, é superestimar em muito a capacidade do nosso garoto ao mesmo em que se joga pela janela as habilidades de Montoya. Não. Definitivamente Rubinho não está com esta bola toda e basta ver as más largadas que ele, por “méritos” próprios ou do carro, tem feito ao longo do ano.

3) Ainda Rubinho: ele foi claramente empurrado por Montoya naquela rodada mas sinceramente não consigo alcançar a punição ao colombiano.

Será que os comissários acharam que a manobra foi proposital? Será que imaginaram o piloto da Williams estúpido o bastante para arriscar daquela forma as suas chances no campeonato, dando um totó em Rubinho?

Amantes das teorias da conspiração têm todos os motivos do mundo para acrescentar mais um item à já famosa lista de favorecimentos à Ferrari.

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Os leitores mais atentos notaram que esbocei tempos atrás aqui mesmo neste espaço uma tentativa de largar a canoa do alemão e embarcar na de Kimi Raikonnen. É que como gosto de dar a cara a bater, queria ter declarado o meu favorito ao título duas ou três corridas atrás.

Mas não hora H segurei meu palpite. Acredito piamente que os duros começam a jogar quando o jogo fica duro e Schumacher, meu caro, é o mais duro de todos, um dos mais duros de todos os tempos, sem qualquer dúvida.

E me dei bem, aparentemente, pois o valente Kimi não fez feio, muito pelo contrário, enquanto Schumacher confirmava seu favoritismo e Montoya fazia uma saída estratégica pela esquerda, sem que muita gente sequer percebesse.

O colombiano ainda tem de comer alguma farinha para sonhar com um título mas Kimi, acho eu, já está quase no ponto.

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Sobre as chances de Schumacher chegar ao inédito hexa (êta palavrinha feia…) sou cauteloso como você: é preciso esperar pela bandeirada em Suzuka.

Títulos aparentemente fáceis como este já foram perdidos antes: pergunte a Clark 64 e Mansell 86, sem forçar muito a memória. E não é de forma alguma impossível que Kimi vença no Japão. E aí basta Schumacher quebrar…

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Não me surpreendem as cavalices de Rubinho em direção a Fábio Seixas.

Diferentemente de você e do Fábio, convivi pouco com pilotos, sempre assistindo às corridas de longe. Mas cedo percebi que o fato de serem bons – às vezes excepcionais – pilotos não fazia deles necessariamente boas pessoas.

Quando comecei a escrever meu livro, me debati sobre a questão: até que ponto vou falar da vida pessoal dos pilotos? O dilema não durou muito; optei por passar ao máximo a largo de vida extra-pista pois a) daria muito trabalho descolar material inédito e b) tinha medo-quase-certeza de descobrir que as pessoas que admirava como corredores destemidos eram, em verdade, grossalhões de poucas luzes, incapazes de articular qualquer pensamento minimamente complexo.

Um velho amigo resumiu a coisa toda: não dá para ser inteligente (ou culto ou elegante ou educado) neste trabalho, senão o cara simplesmente não vai arriscar o pescoço num troço frágil e rápido como aquele. Automobilismo, resumo eu, é coisa de macho no mau sentido do termo, coisa de quem cospe e chama os outros assobiando. À propóstio: li uma vez que Schumacher, de bobeira em Interlagos, final de treino, vê a esposa passar metros adiante e não tem dúvidas: assobia para chamar-lhe a atenção!

É claro que há exceções e creio que Emerson Fittipaldi, sempre cavalheiro e bom esportista, é a maior delas mas não há muitas outras, infeliz e compreensivelmente.

Um abraço a todos

Eduardo Correa 

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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