São Paulo, 14 de novembro de 2003
Edu,
Já escrevi diversas vezes que todas as atitudes de Alessandro Zanardi revelam uma pessoa muito especial, daquelas iluminadas, que espalham luz e alegria por onde passam.
Não foi diferente quando o italiano esteve no Brasil no começo de novembro, para assistir ao casamento de seu amigo Tony Kanaan (foi um dos padrinhos do noivo) e disputar a 500 Milhas de Kart na Granja Viana. Fazendo equipe com Jimmy Vasser, Oriol Servia e Michel Jourdain Junior, Zanardi terminou a corrida em 4º lugar e subiu ao pódio, que tinha lugar para os cinco primeiros colocados. Durante a corrida, Zanardi pilotou um kart especial, com comandos manuais. Seus companheiros dirigiram um kart normal, que era recolhido aos boxes nos turnos em que Zanardi ia para a pista. Foi uma brecha aberta no regulamento, especialmente para permitir a participação do italiano.
A maneira como Zanardi vem encarando a vida transformou-o na grande estrela de uma corrida que teve, além dos já citados, pilotos como Rubens Barrichello, Juan Pablo Montoya e Christian Fittipaldi – este último, vencedor da corrida, em parceria com Mário Haberfeld e Charles Fonseca. Nos dias que antecederam a corrida, porém, Zanardi era o mais procurado para dar entrevistas. E fazia questão de deixar todo mundo à vontade, inclusive fazendo piadas e brincadeiras nas quais usava as próprias pernas mecânicas. Como disse Kanaan, “não dá nem para sonhar em ficar de mau humor ao lado do Zanardi. O que ele passa de otimismo e de lição de vida não deixa ninguém se sentir mal”.
A certa altura, Zanardi lembrou-se dos dias em que estava aprendendo a usar as próteses nas pernas, perdidas em um acidente durante a corrida da CART em Lausitzring, na Alemanha, em 2001. “Eu via meninos com problemas semelhantes e nessa hora eu agradecia a Deus”, afirmou. Ante o espanto de todos, Zanardi explicava: “Eu tenho 37 anos, uma mulher e um filho maravilhosos. Fiz carreira no que mais gosto, ganhei muito dinheiro. Mas aqueles meninos eram pequenos e enfrentariam preconceitos. Eu ficava pensando: será que eles vão à discoteca com amigos, será que vão conseguir namorar?”.
Já escrevi e repito: pela maneira de encarar a vida, Zanardi é “hors concours” como maior piloto da história. O que todos os outros fizeram nas pistas torna-se absolutamente sem importância diante da lição de vida deste italiano.
+++
Apesar do atraso, faço questão de registrar o título do brasileiro Ricardo Maurício no Campeonato Espanhol de Fórmula 3. Maurício é um daqueles pilotos que vem lutando muito para fazer carreira profissional. Depois de quatro anos disputando a F 3000, foi levado – por falta de oportunidades em outras categorias – a fazer um recuo para a Fórmula 3, e ainda por cima em um campeonato como o espanhol, cuja tradição é bem menor que a dos torneios da Inglaterra, Alemanha, França e Itália.
O passo atrás de Ricardo pode ter servido para ele dar dois ou três à frente: o prêmio prometido ao campeão espanhol era um teste com o carro de Fórmula 1 da Toyota. Ricardo dificilmente terá possibilidades de assinar contrato de piloto de testes com a equipe para 2004: a vaga principal já é de Ricardo Zonta, enquanto a outra está praticamente certa para o australiano Ryan Briscoe. Mas não deixa de ser uma chance de ganhar experiência e acrescentar a Fórmula 1 ao seu currículo.
Há uns três meses, durante os 500 Km de Interlagos, conversei longamente com Ricardo. E ele dizia que sua prioridade para 2004 era definir sua situação o mais rápido possível. “O dono da minha equipe de F 3 garante que, se eu for campeão, tenho 99% de chance de disputar a Fórmula Super Nissan em 2004. Mas se eu estiver com situação indefinida na Europa e receber um convite para correr na Stock Car aqui no Brasil, assino o contrato na hora”, afirmava.
Abraços,
LAP