Panda
Anote aí mais títulos para o automobilismo brasileiro em 2004.
Ricardo Divila, engenheiro sênior da equipe Nissan, comemora os títulos de pilotos, equipe e construtor do campeonato japonês de carros GT nas categorias GT500 e GT300.
Pela equipe, cujo nome oficial é Nismo Motorsports International, Divila já conquistou os campeonatos entre 98 e 2001 e, como construtor, os de 98, 99, 2001e 2003 nas duas categorias além do de 2002 na categoria GT300.
Nada mau, nada mau, principalmente porque isso não é tudo que Divila faz por lá, como explicamos recentemente. Ele ainda cuida e acompanha os carros de competição da Nissan em raids e dá apoio a equipes em Le Mans e Indy.
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Meu primeiro Mundial foi o de 68, influenciado pela morte de Clark e pelo filme Grand Prix, não sei o que veio primeiro. Tempos difíceis. Ficava-se sabendo do resultado das corridas pela 4Rodas, meses depois. Torcia pela Lotus e por Graham Hill. Nunca fui fã de Jackie Stewart.
E então o senhor Emerson Fittipaldi fez o favor de ir para a Europa e arrebentar na Fórmula Ford, 3, 2 e 1. Meu pai era leitor do Jornal da Tarde, que deu cobertura intensa à aventura do brasileiro. Desconfio que Chico Rosa estava envolvido na história mas nunca perguntei a ele.
Daí em diante, o mundo revelou-se aos olhos do menino inocente – contava doze anos em 69 -, que começou a investir firme na compra de velhas edições de Autoesporte e a descobrir à duras penas quem era quem naquele mundo novo e maravilhoso e do qual nunca mais me apartei.
Mas houve um período, aí pelo final dos anos 70, começo dos 80, em que meu interesse pela Fórmula 1 decaiu bastante. Começou com a progressiva queda de competitividade de Emerson e, de meu lado, o início da vida profissional na editoria de política da Folha e depois no jornal O São Paulo, onde tive a honra duvidosa de trabalhar em regime de censura prévia. (Você e os leitores talvez não acreditem mas a gente, depois de escrever a reportagem, tinha de envia-la por portador para alguma dependência cavernosa da Polícia Federal onde alguém a lia e marcava com lápis escolar vermelho o que podia e não podia sair no jornal. Outros tempos, outros tempos.)
Neste período, militando muito de leve na esquerda, seria ferozmente reprovado pelos meus companheiros de caminhada se revelasse meus interesses automobilísticos mas eles não eram totalmente secretos, tanto assim que o jornal Movimento, também ele sob censura prévia, me pediu um artigo sobre a morte de Ronnie Peterson em Monza.
Naquele tempo, não tinha TV em casa. Para assisti-las, dependia da boa vontade de amigos. Perdi várias corridas por preguiça de levantar cedo, outras por pudor de incomodar alguém logo cedo. Não lembro, juro, se assisti Monza 78. Também não lembro se Movimento publicou minhas mal traçadas.
Mas creio que o auge do meu afastamento deu-se em 82, um annus horribilis para a Fórmula 1.
Estava recém-casado, alguém me emprestara uma TV de formato minúsculo, preto e branca. Eu e minha mulher viajávamos muito e nem sempre eu tinha paciência ou oportunidade para assistir às corridas, a despeito do título recente de Piquet. Mas em 82 ele estava metido até o pescoço no desenvolvimento do motor BMW e vi logo que a coisa seria difícil para ele. E aquela confusão/palhaçada entre as equipes oficiais e independentes também não me estimulava.
Conservo algumas lembranças dos GPs do Brasil (ao qual não fui. Nunca assisti a uma corrida em Jacarepaguá por preguiça de viajar ao Rio e, o mais importante, um medo que me pelo de avião), San Marino, Mônaco e Alemanha. De Long Beach, conservo apenas breves flashs: De Cesaris batendo num muro, Niki Lauda, voltando a Fórmula 1, assumindo a liderança na mão do gato.
O annus horribilis fica por conta, claro, de dois terríveis acidentes: o que custou a vida de Gilles Villeneuve na Bélgica, 8 de maio, e o que custou a carreira de Didier Pironi, na Alemanha, dia 7 de agosto, ambos em treinos, ambos ao volante do terrível e belíssimo Ferrari 126 C2. Um dos dois seria o campeão da temporada, ninguém duvida. Mais do que isso, seriam tambémfavoritos destacados ao título de 83, um campeonato de final apertadíssimo mas onde a Ferrari venceu o título de construtores com alguma folga.
Lembrei de tudo isso após abrir meu e-mail ontem à noite e receber as belíssimas fotos enviadas pelo leitor Paulo César Cicarello, de Birigui. Algumas delas ilustram esta coluna.
Entre as fotos enviadas, todas sobre a dupla da Ferrari, há algumas que nunca tinha visto: Piquet ajudando no atendimento a Pironi que, debaixo de um imenso aguaceiro, bateu na traseira do Renault de Alain Prost, que trafegava em baixa velocidade na reta (acho eu) que ligava a antiga terceira chicane de Hockenheim ao trecho do estádio.
Pironi sofreu fraturas múltiplas em ambas as pernas além de escoriações generalizadas, inclusive no rosto. Nunca mais voltou a competir. Deve ter sentido muita falta das corridas porque viveu rondando as pistas até que perdeu a vida num acidente de lancha offshore.
Piquet, ao que eu saiba, nunca comentou mais longamente sobre seu estado de espírito e impressões depois do acidente mas sejam elas quais forem, ele soube doma-las, tanto assim que liderou a corrida e marcou a volta mais rápida, antes de encontrar pela frente o retardatário Eliseo Salazar que, com uma manobra desastrada, o tirou da prova e tomou uns sopapos do brasileiro.
Talvez tenha sido assim que Piquet extravasou seus sentimentos naquele final de semana negro de um annus horribilis.
Boa semana a todos
Eduardo Correa