Domingo último, aboletei-me na poltrona para acompanhar na tevê a etapa de abertura do ETCC, o Campeonato Europeu de Turismo. Queria conferir com atenção as habilidades de Augusto Farfus Júnior e se o imberbe paranaense corresponderia às maravilhas que eu ouvi falar dele. Lembro-me bem dos elogios que Bernd Schneider havia feito quando o garoto testou um DTM no ano passado. Vindo do alemão, o maior campeão da categoria, o caso merecia mesmo uma conferida.
Augusto corre na melhor equipe do ETCC, a Autodelta. Mas isto está longe de significar moleza. Os outros dois pilotos no time entendem perfeitamente do babado: Gabriele Tarquini, campeão de 2003, e Fabrizio Giovanardi, que ganhou quatro títulos no passado. Isto, para o brasileiro, é uma faca de dois gumes. Por um lado, ninguém espera que ele vença os experientes companheiros italianos. Por outro, sair derrotado vai manchar o quadro de fenômeno que vinham pintando dele.
Mas vamos às corridas. Na categoria, a cada etapa, são duas provas de tiro curto. Em Monza, foram nove voltas cada uma. Na primeira, Augusto largou em segundo lugar e depois da chicane assumiu a ponta. A partir daí, mostrou sangue-frio ao se defender dos incessantes ataques de Tarquini e Giovanardi para vencer a primeira corrida em carros de turismo que disputou em sua vida. Da minha poltrona, palmas de admiração e júbilo.
Mas o melhor ainda estava por vir. O grid de largada da segunda corrida é determinado pelo resultado da primeira, ou quase isto: os oito primeiros (os que pontuaram) saem em posições invertidas. No intervalo, entrevistaram o brasileiro sobre qual seria sua tática para esta prova. “Largando de trás, quero tentar marcar o maior número de pontos possíveis.” Como? “Acelerando fundo.” Dito e feito.
Augusto fez uma má largada e caiu pro meio do bolo. Veio se recuperando enquanto que, mais na frente, Tarquini fez o favor de eliminar a si mesmo e a Giovanardi da disputa. Os dois italianos vivem na Autodelta uma rivalidade comparável à de Senna e Prost na McLaren, e o brasileiro já começou a se aproveitar disto.
Depois, veio o show. Augusto veio ultrapassando todo mundo de forma endiabrada, com manobras de tirar o fôlego e mostrando que não teria respeito por ninguém. Terminou em terceiro, depois de ter passado bem acima da décima posição na primeira curva. O melhor tudo é que agora ele lidera o campeonato e seus verdadeiros rivais, Tarquini e Giovanardi, vão ter de suar para recuperar o terreno perdido.
O menino é bom, isto ficou claro, mas ainda é cedo para dizer até onde ele pode chegar. Seu sonho claro é a Fórmula 1 e o caminho que escolheu, embora inédito, é inteligente. Um título no ETCC pela Autodelta iria encher os olhos da imprensa italiana e da Ferrari. É isto o que ele pretende. Mas a temporada é longa e ele vai ter de matar um leão por dia para cumprir seus objetivos. E, se possível, melhorar o seu inglês. Sei que toda sua carreira foi construída na Itália, mas na F-1 de hoje, se você não cai nas graças dos azedos britânicos, as portas se abrem com mais dificuldade. Que o diga Giancarlo Fisichella.
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Não vi a etapa de abertura da Stock Car, mas pelos comentários que recebi, parece que foi uma corrida bem chata. E o pior, terminou com a desclassificação de dois pilotos que haviam subido no pódio. Uma pena, já que situações como esta só servem para diminuir o crédito da categoria junto ao público. Me lembro do comentário de um piloto que ouvi no ano passado, e que por motivos óbvios manterei anônimo. “Se fizerem uma vistoria pente-fino, não sobra um carro dentro do regulamento. Nem o meu.”
Não posso deixar de aplaudir o progresso que a categoria vem fazendo, especialmente em termos de marketing e com a cobertura extensiva da Rede Globo. Mas ainda não é hora de dormir sobre os louros da vitória. As provas que assisti em 2003 foram, sim, chatas e é preciso trabalhar muito para melhorar o espetáculo.
Minha sugestão é que os organizadores busquem entrar em contato com o pessoal daDTM e do ETCC, categorias que trazem milhares de pessoas aos autódromos e à frente da televisão. Uma arma óbvia que elas têm é a presença de diversas equipes oficiais de fábrica e uma programação de corridas extensa em todo o fim de semana. Juntar a Stock com a F-3 Sul-Americana e, se possível, também com a Fórmula Renault e a Copa Clio seria uma solução inteligente. Fica aqui a dica.
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Alguns leitores escreveram nos últimos dias para o GP Total pedindo mais informações sobre rali. Espero trazer, na medida do possível, algumas colunas falando apenas desta fascinante modalidade. Mas quem quiser saciar mesmo a vontade, minha sugestão é a compra da Universo Rally, revista especializada da qual tenho orgulho de colaborar escrevendo textos sobre as provas internacionais. Orgulho porque, antes da minha presença, a Universo já havia se firmado como uma das melhores revistas sobre o assunto em todo mundo, graças a um fantástico projeto gráfico e uma linha editorial inteligente. Vale a pena conhecer!
Abraços e até a próxima semana!
Luis Fernando Ramos