Para não perder o costume, vou discordar do Edu mais uma vez: o GP da Malásia serviu sim para alguma coisa. Mostrou como a Fórmula 1 engatou definitivamente uma marcha ré com as mudanças no regulamento esportivo nos últimos dois anos e privou os espectadores de viverem momentos de tirar o fôlego. Não me refiro aqui à incapacidade da cartilha de Max Mosley em frear o domínio que a Ferrari vem impondo na categoria. Quem deve conseguir isto é a concorrência, não as regras. O que me tira do sério é que estão jogando no lixo a possibilidade de extrair ao máximo o maior salto de desenvolvimento que os carros de Fórmula 1 deram de uma temporada para a outra, graças ao excelente trabalho das duas fornecedoras de pneus.
Alonso marcou no último ano o tempo de 1min37s044, com uma média de 205,626 km/h. Michael Schumacher pulverizou este tempo com uma volta em 1min33s074 (214,397 km/h de média). Imagine só se tivéssemos o formato de 2002, tanques em nível mínimo de combustível, motor de classificação e pneus moles para todo mundo. Pense que êxtase seria assistir ao qualifying assim, com os pilotos lutando para domar nas curvas estas máquinas diabolicamente rápidas graças à borracha que elas vestem. Seria um sonho, mas nos resta o pesadelo deste formato novo de classificação, uma sonolenta mistura de warm-up com corrida, todos com medo de acelerar fundo para não rodar ou não quebrar o motor. Está sendo difícil de engolir este sapo. +++ O impressionante desempenho dos F-1 atuais é expressado no receio de Jarno Trulli. Veja o que italiano falou na Malásia: “Normalmente nada é muito rápido para nós, mas por causa do desenvolvimento dos pneus, estamos entrando em uma zona perigosa. Os carros de Fórmula 1 estão velozes demais!” +++ Não vou ser pretensioso em dizer se Trulli está certo ou é apenas um covarde. É a pele dele que está no cockpit, não a minha. Mas desta história surge na minha mente um utópico pensamento: a Fórmula 1 se salvaria se repetisse o que fez há mais de vinte anos. Vamos voltar no tempo. A temporada de 1982 foi talvez a mais caótica de todos os tempos. Era o auge da queda-de-braço política entre Bernie Ecclestone (que representava a FOCA, dos construtores) e Jean-Marie Balestre (da FISA, hoje FIA). Mas havia uma terceira força, que hoje existe só retoricamente: a dos pilotos. A união do efeito-solo com os motores turbo transformou os carros de Fórmula 1 da época em verdadeiras máquinas mortíferas. A alta velocidade (fruto da guerra entre as fabricantes de pneus, não por coincidência) aliada à parca segurança fez com que os acidentes tivessem quase sempre graves conseqüências. Ao longo do ano, dois pilotos morreram (Gilles Villeneuve e Riccardo Paletti) e vários outros tiveram acidentes, uns mais graves (Didier Pironi em Hockenheim, René Arnoux em Zandvoort, Jochen Mass e Mauro Baldi em Le Castellet) e outros menos (Marc Surer em Kyalami e Niki Lauda em Hockenheim). O nome mais ativo contra a insegurança era exatamente o de Lauda, alguém que jamais poderia ser acusado de temer a morte. Seu maior medo: “Um carro-asa se desprender em uma curva e voar nos espectadores. Se a gente se mata na pista é problema nosso. Mas se por causa das velocidades absurdas tivermos fatalidades entre o público, uma repetição de Le Mans 1955, a Fórmula 1 vai acabar.” O austríaco liderou com mão de ferro um movimento entre os pilotos clamando pelo fim dos carros-asa. Foram meses de discussão e bate-bocas com os cartolas do esporte. No dia 13 de outubro de 1982, o comitê-executivo da FISA ratifica o desejo dos volantes: as chamadas minissaias estavam proibidas para o ano seguinte, além de outras mudanças. Claro que chefes-de-equipes e projetistas espernearam (inclusive John Barnard, que A lição disto é clara. O melhor passo para trazer de volta a emoção nas corridas são alterações no regulamento técnico, não na parte esportiva. Basta fazer isto com inteligência e pondo sempre a segurança em primeiro lugar. Max Mosley ignorou isto em 1994 e todos sabemos o resultado. Já se passaram dez anos e este marionete de anão de jardim continua exalando ignorância. E nós, ó…. Abraços, | |