O cheque tinha fundos, afinal, ou pelos menos teve fundos neste fim de semana de vitória total e completa de Jarno Trulli nas ruas de Mônaco.
Ele venceu por méritos próprios, acabando com a invencibilidade de Schumacher neste ano, a da Bridgestone desde Monza/03 e, de quebra, mantendo em pé um dos últimos recordes absolutos de Senna – o de vitórias em Mônaco.
Beneficiado pela incrivelmente eficiente largada do seu Renault, Trulli escapou na frente e não deu chance real nem a Alonso nem a Button, apesar do rush no final.
O único risco verdadeiro para a vitória de Trulli se desmanchou no ar quando Schumacher optou por não fazer seu segundo pitstop imediatamente depois da bandeira amarela provocada pelo acidente de Fernando Alonso.
Mesmo que o alemão não cometesse aquele incrível erro voltas mais tarde, não teria mais condições de recuperar a vantagem que o italiano certamente abriria.
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E, neste ponto, podemos voltar ao velho debate sobre este regulamento de m..
As chances de Schumacher se esvaneceram a partir do momento em que não conseguiu um lugar na primeira fila, quando poderia repetir a estratégia vitoriosa de Imola e Espanha.
Mas Schumacher comete dois pequenos erros na sua volta rápida e tem de assistir a largada da 4ª posição do grid, tendo dois Renaults à frente e ainda vendo Sato, com uma arrancada kamikaze absolutamente maravilhosa, tomar-lhe mais uma posição.
Onde quero chegar? É que foi o regulamento de m. que, no fundo, no fundo, deu à corrida os contornos que teve. Fosse permitido a Schumacher tentar mais algumas voltas rápidas e ele certamente teria conseguido um lugar na primeira fila e a história de Mônaco 04 provavelmente teria sido outro, certamente mais previsível.
Para não restar dúvidas: os parágrafos acima não são uma defesa do regulamento, que continuo achando uma m. mas sim uma comprovação das voltas que a vida dá.
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Por que a Ferrari não parou Schumacher imediatamente após a bandeira amarela?
Uma explicação surgirá mais dia menos dia. Talvez o cálculo de combustível para as voltas finais não batesse (se Schumacher parasse naquele momento poderia ficar sem gasolina nas voltas finais), talvez a equipe tenha apenas cometido um erro elementar, assim como Schumacher cometeria voltas depois.
Erros acontecem a todo o momento na Fórmula 1. Jack Brabham, com 15 anos de experiência na categoria, bateu seu carro na última curva da última volta de Mônaco 70, quando já se preparava para vencer a corrida; Emerson e Jackie Stewart bateram seus carros na volta de desaceleração do GP de 73; Prost rodou na volta de apresentação de Imola 91; a Williams soldou a coluna de direção do carro de Senna com a habilidade do funileiro da esquina; a Toyota calibrou hoje equivocadamente os pneus de Da Matta.
Alguns erros são mais justificáveis, outros menos mas não passam de erros.
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Mas foi uma forma especialmente patética de encerrar a série vitoriosa de Schumacher neste ano, principalmente depois daquela série de volta fantasticamente rápidas que ele fez antes do primeiro pitstop.
No pouco que resta de espetáculo esportivo na Fórmula 1 de hoje, acompanhar estas “voltas de classificação” de Schumacher e largadas como a de Sato é o que nos resta.
Melhor do que tentar fazer as contas sobre os pitstops.
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A colheita foi generosa hoje para os brasileiros, principalmente para Rubinho que acabou no pódio mesmo depois de fazer uma corrida para lá de modesta e sofrer uma ultrapassagem vergonhosa de Montoya na primeira relargada. Será que ele não viu o colombiano chegando?
Já Massa e Da Matta souberam capitalizar os problemas dos ponteiros, mantiveram-se longe dos problemas e colheram pontos preciosos para as suas equipes. Espero que estes resultados pesem a favor deles na hora da renovação dos respectivos contratos, coisa especialmente problemática para Da Matta, já que a Toyota promete contratar Ralf e Coulthard para o ano que vem.
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Cada vez mais fica difícil jogar com uma estratégia diferente de corrida. Praticamente todo o grid apostou nas duas paradas, já que a possibilidade pegar tráfego em Mônaco é muito grande e penosa.
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Dois acidentes assustadores hoje em Mônaco. A Fórmula 1 brinca com fogo, separada da tragédia por uma fina película de fibra de carbono.
Tomara que no ano que vem já tenhamos uma mudança de regulamento técnico, reduzindo um pouco o desempenho dos carros.
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Alonso queria que Ralf lhe desse a parte de dentro da pista. Não me parece um desejo razoável mas não serei eu a contrargumentar com alguém que acabou de bater a quase 300 km/h dentro de um túnel.
Mas aqui, na segurança do meu escritório, posso escrever: Alonso está se mostrando uma das maiores decepções do ano, disputando o lugar palmo a palmo com Montoya, Ralf e o carro da McLaren.
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Voltando ao acidente de Schumacher.
Livio Orichio, uma das penas mais afinada do jornalismo automobilístico brasileiro, disse na CBN que o safety car deveria ter entrado nos boxes uma volta antes da batida de Schumacher.
Será possível que o alemão não sabia que ele continuava na pista? Creio que uma confusão deste tipo é quase impossível. Mesmo que Schumacher não conseguisse enxergar o carro à sua frente, restaria a sinalização dos bandeirinhas e a comunicação por rádio com os boxes.
Outra alternativa louca: Schumacher estava esquentando pneus e freios para a relargada eminente, distraiu-se com o repartidor de freada (de dentro do carro, os pilotos podem regular a carga de freio sobre cada eixo do carro), acabou travando inadvertidamente as rodas dianteiras e foi colhido por um Montoya também distraído.
Ou será que os pilotos tiveram a visão obscurecida pelo claro-escuro do túnel?
Dizia-se, no passado, que os pilotos da Fórmula 1 fechavam um olho segundos antes de entrar no túnel, para depois abri-lo enquanto fechavam o outro. Mas hoje, não posso acreditar que a iluminação do túnel não compense a diferença.
Para acidentes loucos, idéias loucas. Arrisque a sua, você também.
Boa semana a todos
Eduardo Correa |