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LIÇÕES DA EUROCOPA
09/07/2004

Mil Milhas, 1959

Ricardo “Mike” Mercede, Ourinhos-SP

Ei, Panda… Sou eu de novo. Legal saber que o pessoal gostou da minha experiência da corrida de Stock Car no Rio em 1982,acho que só eu não gostei muito rsrs Mas agora vou contar uma história mais antiga: Mil Milhas Brasileiras, 1959. Ela também teve um Ricardo Mercede na lista de inscritos, mas era meu pai.
Antes de mais nada, se liga no aspecto de Interlagos naqueles tempos. Veja os postes na beira da pista. E a cerca? Sem falar nas “arquibarrancadas”… Mas como era legal! Se saudade matasse, eu não estaria mais aqui.

A “barata” das fotos era um Ford 1940. Tinha motor Ford 8 BA, cabeçotes, admissão tripla com carburadores Holley e comando de válvulas que chamavam de kit “EDELBROOCK”. Para a época, já era ultrapassado: os caras que andavam com Ford já usavam os motores do Thunderbird, muito mais avançados, chamados de “rocket”. Êsses já tinham as válvulas no cabeçote – os 8 BA ainda tinham válvulas laterais. Mas o que era bala mesmo, motivo de inveja para muitos, era o câmbio Jaguar de 4 marchas com duas alavancas – a da ré era separada… Era tido como inquebrável. A preparação do motor era feita por um grande amigo do “véio”,chamava-se Victor Losacco pai do Vinícius , outro dia assistindo ao Auto Esporte na televisão,soube que o avô dêle já preparava carros de corrida e a oficina era na rua Augusta,a do seu Victor era na 13 de Maio,nessa oficina eu conhecí o Manuel de Teffé,ele me chamava de V8 “é mole”?, e êles moravam onde hoje é a oficina do Vinicius na Alves Guimarães em Pinheiros. Isso é que é tradição em carros de corrida em…

Essa Mil Milhas foi a penúltima corrida desse carro. Depois, ele só faria a 200 Milhas de Begé, no Rio Grande do Sul,que tambèm não terminou. Aí a “barata” voltou a ser de rua… Ficou linda e foi vendida para um playboy da época, cujo nome não me recordo agora,mas era dono do açucar União.Outra hora te conto a história dêsse carro é legal,sou plastimodelista e estou montando as três fases da “barata”,o primeiro quando era zero, já está pronto é verde garrafa com estofamento de couro caramelo,o segundo é o de corrida, prata e vermelho estou na metade,tá dando um trabalho danado e depois farei o ultimo que era azul metálico com estofamento de couro azul,com rodas e volante de Fairlaine 59 e motor 289 da F-100 da época que era novidade ,vou te mandar as fotos. Daí pra frente meu pai teve que se render: era Ford roxo mas viu que os Corvette estavam bem à frente. Havia acabado a “era Ford”. E o tempo confirmou que ele estava certo .

Em 1963, meu pai trouxe dos Estados Unidos um motor Corvette zero. Ele achavaque esse motor, montado em um Chevrolet 1934,por ser o mais leve de todos, junto com o “supercâmbio” citado acima, se tornaria um conjunto imbatível. Lembra da carretera do Caetano Damiani? Só não tinha o câmbio Jaguar, mas andava pra burro e foi a pedra no sapato do Camilão (Camilo Christofaro) por muito tempo. Mas minha mãe se encarregou de acabar com a brincadeira. Bom, essa é uma outra história, que outra hora te conto. Adianto apenas que a história acabou no desquite dêles. Minha mãe tinha horror as corridas. Quando eu corria, eu tinha mais medo dela morrer do que eu…rsrs. Mas realmente ela sofria. O meu acidente no Rio foi justamente no dia das mães,com televisionamento ao vivo,você não faz idéia do que escutei,não era fácil.

Viajei, né? É que quando falo de corrida esqueço da vida. Voltando à Mil Milhas de 1959. O co-piloto do meu pai foi o Italo Bertão, um gaúcho de Passo Fundo, muito boa gente. Segundo meu pai,ele andava muito bem,mas faltava lhe suavidade na tocada,era muito bruto pra guiar,foi aí que a barata não agüentou a “JUDIARIA”.No meu tempo conhecí alguns que tinham êsse estilo,saiam do carro,pareciam que tinham saindo de uma luta de boxe. Meu pai brincava com ele,dizendo que nem tanque de guerra o agüentava.

Largaram no meio do grid. A largada era “Le Mans” e eles andaram por alí no começo da prova,logo depois da largada começou uma chuvinha bem fina,”São Paulo da garou” não é de seu tempo,mas sem dúvida,você já ouviu falar,e um pouco mais tarde veio a neblina forte, que durou o resto da noite,por causa dela a prova demorou 17 horas,com uma média de 98 k/h,foi a Mil Milhas mais longa da história.As vêzes ficava imaginando como devia ser ruim pilotar naquélas condições,a pista completamente sem sinalização,os faróis da época eram horríveis, eram os tais de “SEALED BEAM”, cheguei a guiar Volkswagen com esse tipo de farol, era muito ruim, iluminava muito mal e ofuscava um monte,não sei se você conheceu, mas não tinha lâmpada, o bloco era a própria lâmpada. E com uma boa estratégia de corrida, foram galgando posições e amanheceram em quarto. Por volta das três horas da tarde, na volta 176, quebrou o diferencial com o Bertão. Nessa época, segundo o regulamento o carro que não recebesse a bandeirada, estava automaticamente desclassificado. Então eles pararam o carro do lado direito da pista, junto às “arquibarrancadas”, a uns 100 metros da linha de chegada, e esperaram acabar a prova para cruzarem a linha e receberem a bandeirada. Graças a essa “cutruca”, se classificaram em décimo lugar. Seria um corridão se não fosse o diferencial. Mas valeu! Outra coisa que foi o maior buxixo na prova,foi o terceiro lugar de um Volkswagen com motor Porsche 1600 do Caio Marcondes Ferreira e do Lauro Bezerra,acho que esse cara era irmão do Washington e o quarto de um DKW dos gaúchos Karl e Herrrique Iwers Eu tinha sete anos de idade e fiquei da primeira à ultima volta ligado. Me lembro de TUDO. A entrega de prêmios foi no teatro Record, na rua da Consolação. Ali eram realizados também os maravilhosos festivais de Música Popular Brasileira da TV Record. Infelizmente esse teatro pegou fogo em 1969 ou 1970. Vale lembrar,que no dia do incêndio,eu era adolecente ainda com uns 15/16 anos e nos reuníamos em uma lanchonete bem em frente ao teatro,chamava-se HOT ROD, era o ponto da molecada acelerada,foi meu primeiro patrocínio de Kart,eu recebia em cheese salada e milk shake,rsrsrsr,verdade. E fomos nós que vímos o princípio do incêndio e chamamos os bombeiros,era +- umas duas horas da manhã e aquilo ardeu em chamas até o dia clarear,não sobrou absolutamente nada. Hoje, o lugar é ocupado por uma enorme loja de lustres chamada Yamamura.

Tô te mandando duas fotos da entrega de prêmios . Na segunda fileira , você vai ver meu pai , minha mãe e minha irmã. Do lado da minha irmã está o Lalo , um piloto gaúcho amigo do meu pai , que veio só assistir a prova. Como o Bertão não pôde ficar, foi ele quem recebeu os prêmios no lugar dele. Bem atrás do meu pai está o Ciro Cayres; do lado do Ciro é um cara que eu não sei quem é , mas estava em tôdas. Ao lado desse cara é o Ari Cayres, irmão do Ciro. Esse era um p… amigão do véio, amigo mesmo, foi um dos caras mais engraçados que conheci. Ao lado do Ari está o Christian Heins, e ao lado o Enzo Brizi. Esse cara era um p… mecânico, que depois foi o chefe dos mecânicos da Willys. Foram esse cara e o Tony Bianco que fizeram o Bino, lembra? E do lado dêle está o Dr. Marcelo, era um dentista que era um p… amigo do seu Victor Losacco, vivia na oficina dêle, ele tinha um Volkswagen com motor Porsche preparado pelo seu Victor.

Por hoje chega, falei demais né? Depois tem mais. Um grande abraço.

Ricardo “Mike” Mercede (Ourinhos-SP)
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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