MUITO BARULHO POR NADA

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PENSANDO EM 2005
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Não há porque o leitor perder tempo com esta frívola discussão entre o pessoal da BAR e o da Williams. Jenson Button vai mesmo correr no carro azul e branco no ano que vem, como companheiro de equipe do australiano Mark Webber. Discutir cláusulas de contrato não adianta nada, porque na Fórmula 1, os próprios contratos não valem nada e existem para serem quebrados.

Mas o motivo para tanto rebuliço em uma ação corriqueira é outro. Quando uma equipe encerra um contrato com um piloto seu, como a Jaguar fez com Antonio Pizzonia no ano passado, todos reagem como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas, neste “Buttongate”, foi o piloto quem deu uma banana a seu empregador e foi buscar abrigo onde mais lhe interessava. O rompimento se deu de baixo para cima na cadeia alimentar da F-1, e isto é a encarnação do horror para os darwinistas dirigentes da categoria.

(É como no futebol. Termina um campeonato e os clubes promovem os famosos listões de dispensa, rompendo contratos e deixando jogadores desempregados. A opinião pública acha normal. Mas se o tal do Rogério dá uma banana pro Corinthians para ganhar mais jogando em Portugal, é um escândalo.)

Há cerca de um ano e meio, David Richards resolveu apostar em Button, que saiu escorraçado da Renault sendo tachado de tudo o que é nome feio por Flavio Briatore. Sentou com o moleque e encheu-lhe a bola, propondo um contrato de quatro anos e o colocando como ponto central no projeto de desenvolvimento da equipe.

Notem dois detalhes: o chefe da BAR apostou num garoto barato (detalhe 1) e sacrificou Villeneuve, que ganhava US$ 20 milhões para falar mal do carro (detalhe 2). Quando a equipe conseguiu um salto qualitativo neste ano, principalmente pela competência do engenheiro Geoff Willis (que, ironia do destino, foi cooptado na Williams), Richards apelou para um discurso sentimental, repetido a exaustão desde o início da temporada. “Jenson quer ser campeão aqui. Estamos trabalhando bem e ele vê seu futuro em nossa equipe”.

Nada foi falado que o piloto estava preso legalmente à equipe. O dirigente, ao invés de propor um novo contrato que aumentasse substancialmente os ganhos de Button, optou por dar a impressão aos chefes das equipes adversárias de que nem adiantava pensar no nome do piloto inglês, pois este estaria de lua-de-mel com a BAR.

Mas Frank Williams não nasceu ontem, e desde anteontem já vinha conversando com o piloto sobre a possibilidade de recontratá-lo para 2005. Bastou oferecer um salário quatro vezes maior do que a BAR pagava a Button para que o acordo fosse fechado. E começou a lavação de roupa suja através da imprensa.

No fundo, Richards está se lixando por perder o inglês. O mercado está cheio de nomes de nível similar para substituí-lo: tem David Coulthard louco por um emprego, ainda que ganhe bem menos do que Ron Dennis lhe paga atualmente; tem Rubens Barrichello, a quem pode se oferecer uma equipe toda centrada em si para o brasileiro botar em prática tudo o que aprendeu em seus anos de Ferrari; e tem a opção mais óbvia, barata e de igual eficiência: Anthony Davidson, o piloto de testes da equipe que cansou de marcar tempos similares aos de Button em testes coletivos e nos treinos de sexta-feira.

O cerne da polêmica é, claro, dinheiro. Button “quebrou” um contrato de quatro anos que poderia ser quebrado, mas o chefe da BAR exige ganhar algum em cima disso. E não acho que Richards está atrás de dólares para comprar algum piloto caro, como Coulthard ou Barrichello. O que ele quer é investir ainda mais na estrutura da equipe, o que já havia feito antes, com ótimos resultados neste ano. Por isso, registro aqui minha aposta: Davidson e Sato correm na BAR em 2005. Com um carro ainda melhor do que o deste ano.

Quanto a Button, tenho cá minhas dúvidas sobre qual o tipo de investimento que a Williams busca com sua contratação. Se ele fosse um campeão mundial em potencial, eu duvido que Frank e Patrick Head teriam se desvencilhado dele como fizeram ao final de 2002, abrindo mão da opção que tinham pelo piloto e o entregando a BAR. O que eles perceberam neste ano, com atraso, é que Button é uma poderosíssima arma para atrair o interesse de patrocinadores, especialmente pela descarada supervalorização que a mídia inglesa lhe dedica. Pagar US$ 16 milhões para tê-lo no cockpit e, com isso, atrair uns 50 milhões de uma marca qualquer é um ótimo negócio.

Porque, convenhamos, tanto bate-boca por um piloto com a qualidade técnica de Button é muito barulho por nada.

+++

O Grande Prêmio da Hungria, neste fim-de-semana, deve garantir o título de construtores a Ferrari. Restará ainda o de pilotos, cuja fatura será liquidada a favor de Michael Schumacher na Bélgica, em quinze dias, ou em Monza, em quatro semanas. Olhando as características de Hungaroring, muito parecidas com as de Mônaco, teremos uma boa chance de finalmente ver outro piloto que não o alemão no topo do pódio. (Talvez a chance não seja tão boa assim, mas é maior do que em Hockenheim, por exemplo.)

A aposta óbvia é Fernando Alonso, que ganhou no ano passado. Mas eu acho que chegou a hora de Kimi Raikkonen, da McLaren. De qualquer forma, fica a certeza de uma corrida chata porque, ao contrário de Mônaco, a pista húngara é cheia de áreas de escape que neutralizam possíveis intervenções do Safety-Car. A única esperança de uma corrida emocionante é se chover. Mas aí, sabemos todos, ganha Schumacher.

Um abraço e até a próxima semana,

Luis Fernando Ramos
GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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