CAMPEAO NA ÁGUA E NO ASFALTO
Manuel Blanco
Há alguns meses o Panda teve a amabilidade de publicar uma carta que eu havia enviado sobre a carreira de Ricardo Tormo, piloto espanhol campeão do mundo de motovelocidade na década de 70. Nessa mesma época, houve outro piloto, também muito destacado, cuja carreira teve muitas coisas em comum com a de Tormo e que gostaria que vocês conhecessem. Trata-se de Victor Palomo.
Seu nome completo era Victor Palomo Juez. Nasceu em Barcelona no dia 16 de maio de 1948 e desde pequeno mostrou grande aptidão para o esporte. Ainda garoto, começou a se dedicar ao esqui aquático e em 1965 já participou com a seleção espanhola no campeonato da Europa. Alguns anos depois, ganhou uma medalha de bronze e outra de prata e, finalmente, nos campeonatos mundiais celebrados em Kopenhagen em 1969, ganhou outra medalha de bronze na modalidade de saltos e uma de ouro na modalidade de slalon, proclamando-se campeão mundial. Segundo os especialistas da época, devido à sua juventude e excelente técnica, era de esperar que Palomo dominasse o esqui aquático durante muitos anos. Porém, pouco tempo depois, e para decepção dos aficionados ao esqui e surpresa de todos em geral, Palomo anunciou que estava abandonando o esqui para dedicar-se ao motociclismo.
Aqueles eram tempos difíceis para os pilotos espanhóis em geral, e Palomo teve que enfrentar os mesmos problemas que Tormo: falta de apoio institucional, falta de patrocinadores, falta de suporte oficial das fábricas etc. Como Tormo, Palomo começa a participar com motos privadas e, ainda em categoria junior, consegue um 2º lugar em Silverstone na 250 cm³, e vence na 350 cm³ e na 750 cm³.
Em 1974, vence o seu primeiro GP do Mundial: o da Espanha, na categoria 350 cm³. A prova foi disputada em Montjuich (Barcelona), um dos circuitos mais difíceis e perigosos do campeonato. Palomo também disputava corridas de resistência como as 24 horas de Montjuich e foi campeão espanhol da especialidade, assim como na categoria 750 cm³ de velocidade. Seguia tendo dificuldades para disputar o Mundial, mas não desistiu e passou a concentrar-se na categoria 750 cm³. O Mundial desta categoria foi disputado apenas entre 1975 e 1979 e tinha calendário à parte do “outro” Mundial, que permanece até hoje. Em 1976, com uma Yamaha privada (ou seja, de equipe particular), ganha o Campeonato Mundial (e também o Europeu, que era disputado conjuntamente) vencendo os GPs da Inglaterra, Holanda e Alemanha. Palomo derrotou os grandes favoritos – os americanos Gary Nixon, Pat Hennen e Steve Baker, que integravam equipes oficiais.
Pouco depois, esta categoria foi abolida pela FIM e Palomo passou a disputar a 500 cm³, novamente com motos privadas. Mas a falta de apoio é resulta um sério problema, e mesmo demonstrando ter qualidades de sobra, sofria a mesma discriminação que Tormo. Os campeonatos se sucediam e ele não conseguia patrocínio suficiente para contar com uma moto competitiva. Finalmente, em 1982, parecia ter uma moto boa, mas após algumas belas corridas Palomo sofre um grave acidente no GP da França que resulta em fratura de várias vértebras. Os primeiros diagnósticos não eram nada otimistas: segundo os médicos, o mais provável era que Victor ficaria paralítico do pescoço para baixo.
Palomo é submetido a uma delicada operação cirúrgica e, para favorecer a regeneração óssea, foi amarrado a um espécie de estrutura ortopédica para mantê-lo completamente imobilizado durante mais de seis meses. O pobre Victor sofria dores terríveis que tinham que ser combatidas com potentes analgésicos à base de morfina e, no seu caso, todo o processo resultava ainda mais penoso e lento, pois Victor era diabético. Mas o objetivo é cumprido e Palomo recupera a mobilidade depois de uma dura recuperação. Porém, o longo período durante o qual esteve submetido à morfina lhe provoca dependência da droga e Palomo tem que ser submetido a um tratamento para superá-la.
Outra conseqüência dos longos tratamentos aos quais Victor foi submetido é que os medicamentos que lhe foram administrados, mais a sua condiçao de diabético, causaram graves efeitos secundários, inclusive sérias insuficiências cardíacas e hepáticas. Estas insuficiências levaram Palomo à morte no dia 11 de fevereiro de 1985, aos 36 anos de idade.
Não tenho certeza, mas talvez Victor seja o único campeão mundial em duas especialidades tão diferentes. Porém, Victor costumava dizer que não eram tão diferentes: “Nas duas, tudo é “só” questão de equilíbrio”, afirmava.
Manuel Blanco |