Uma coisa é resultado. Outra é legado. O sucesso de um carro de Fórmula 1 costuma estar diretamente relacionado ao resultado na pista, em forma de poles, vitórias, voltas mais rápidas e, claro, títulos. Logo pipocam nomes arrebatadores como McLaren MP4/4, Ferrari F2002 e, mais recentemente, as Mercedes híbridas, cujo modelo W06 de 2015 foi o mais eficiente dentro da chatésima hegemonia prateada que vivemos de 2014 a 2020.
Vamos para além de uma mentalidade, digamos, empresarial, focada só em resultado. Há maneiras diferentes de se medir o sucesso. As quebras de recordes das últimas décadas, por parte de pilotos e carros, levaram a uma discussão deveras saudável – e que também acontece em outros esportes como tênis, basquete, futebol, futebol americano…
Afinal, o que é mais importante: ser o melhor ou ser o maior? Porque em muitos casos (arrisco a dizer que em uma maioria de casos), eles simplesmente não são a mesma pessoa ou, no caso da nossa discussão aqui, não são o mesmo carro.
Um dos veículos de comunicação mais dedicados a explicar detalhadamente dessas duas formas distintas de se medir o sucesso é o canal do nosso irmão colunista Marcel Pilatti, o História & Esporte.
Discutir qual foi o melhor piloto ou melhor carro costuma estar ligado, com dito, a resultados. Já as discussões sobre quem é maior transcendem números e percentuais rumo a uma análise contextual obrigatoriamente mais ampla, que considera muito mais fatores e variáveis em jogo. Trata-se de uma perspectiva que me parece muito mais interessante, dedicada a medir o peso histórico, o grau de quanto um atleta ou máquina é icônica. É dedicada a medir o… legado de coisas e pessoas.
É diante desta longa introdução que quero destacar o legado e o tamanho histórico da Lotus 72.
Trata-se de um nome maior que qualquer Mercedes de Hamilton ou qualquer Red Bull de Sebastian Vettel. Mesmo que na pista estes últimos tenham conseguido números e percentuais indiscutivelmente mais expressivos, o jogo vira quando aprofundamos nossas perspectivas.
Lotus 72 é um carro que nasceu vermelho e ascendeu à eternidade ao trajar preto e dourado, a figurar de maneira permanente na lista de modelos mais celebrados em todos os tempos. Se numa lista dos carros mais importantes da história da F1 estiver faltando Lotus 72, não leve essa lista a sério. Joga fora.
Estamos em tempo de comemorar os 50 anos da conquista do primeiro título de Emerson Fittipaldi. Em 10 de setembro de 1972, ele entra para o rol dos campeões mundiais ao vencer o GP da Itália, momento que teve emoção amplificada pela narração de ninguém menos que o próprio pai de Emerson, o imortal Barão Wilson Fittipaldi. De repente, uma circunstância auspiciosa proporciona para pai e filho fazerem e contarem a história em simultâneo.
Então percebemos que, para além de todo esse peso histórico que esse carro possui, ele ainda carrega uma força ainda maior nestas terras. O brasileiro aprendeu a amar a Fórmula 1 através da Lotus 72. Como medir o tamanho disso? É muito maior que qualquer papo sobre percentual de vitórias e títulos.
Ainda assim, estamos falando de um carro vencedor, um carro campeão. O cartel do carro se ergue em um conceito que a F1 de hoje não tem a capacidade de emular: a longevidade. Mesmo o mais perfeito modelo atual encontra sua aposentadoria compulsória ao fim da temporada.
E o legado da Lotus 72 transcende a sua longevidade nas pistas. Foi uma ruptura dramática de paradigma de uma F1 que ainda pensava em modelos de “charutos com asas”. O carro era inteiro uma massa aerodinâmica, disposto a gerar esse novo vetor da física a ser explorado pelos engenheiros, o downforce.
Se o formato cunha ditou moda apenas por alguns anos adiante, substituído por formatos mais amigáveis à penetração de ar, um legado do projeto é permanente: a profusão dos radiadores nas laterais. Isso, por si só, já justificaria a entrada do carro no hall da fama das melhores engenharias de todos os tempos.
A vida na F1 da Lotus 72, assinada por Maurice Philippe com supervisão de Colin Chapman, abrange seis temporadas e 75 corridas. Para um tempo tão longo foram construídos nove chassis. Não, péra… Foram dez. Não, não, teve chassi com mesmo número, não sei como conta isso… Ah, e teve o chassi que não existe mais porque acabou canibalizado. Ou teria sido reconstruído com outro número?
Vamos fazer o seguinte: eu explico todo esse rolo na parte 2, quando prometo um histórico completo sobre todos os chassis – quem pilotou, as vitórias e até mesmo onde e como estão.
Enquanto eu pensava nessa coluna, levantando todo esse histórico de chassi, tropecei no material que eu mais precisava: a bíblica MotorSport Magazine que acaba de chegar nas bancas inglesas fez todo esse dossiê pra mim, com direito a colocar a Lotus 72 na capa – e senhores, que capa!
Prometo resenhar tudo por aqui. Abração!
Lucas Giavoni
2 Comments
Lotus 72 carro revolucionário, vencedor e um dos mais belos F1 de todos os tempos.
Como esquece-lo, principalmente nas cores preta e dourada na qual Emerson conquistou seu 1º titulo? E hoje, dia 10/9 estamos celebrando justamente 50 anos dessa conquista.
Comecei a acompanhar o mundial de F1 exatamente em 1972, portanto dei muita sorte.
Lembro-me bem de um poster desse carro naquele ano, que veio numa revista de esportes, o qual colei na parede do meu quarto.
E no ano seguinte para aumentar a alegria ganhei um autorama super pista com curva inclinada, onde veio justamente o Lotus 72 D do Emerson e o Tyrrell do Stewart.
Assim espero ansiosamente pela continuação da serie sobre esse carro fantástico.
Lucas,
” Todas as vidas do Lotus 72 ” vai bombar.
Parte 1,2,3 . .. sei lá quantas tiver
50 anos do título do Emerson.
Tem que ser por demais comemorado.
Como o tempo passa rápido e a gente não percebe.
Que linda a capa da Motor Sports
Merece uma moldura
Fernando Marques
Niterói RJ