WEC São Paulo 2025: Carros, Motores, amigos e sonhos realizados

Sonolência belga (Coluna + Youtube)
29/07/2025

Dando continuidade à nossa série de artigos dedicados à passagem do Campeonato Mundial de Endurance (WEC) pelo Brasil, hoje é a vez do GPTotal dar as boas-vindas a Roberto Taborda, coração e alma do efervescente e técnico Graining & Marbles.

Betão, como geralmente o chamamos, é gaúcho de Uruguaiana, RS, e costuma dizer que acompanha a F1 desde 1987 e o automobilismo em geral desde 1994. Apreciador da história e de estórias que envolvam esporte a motor, é sempre um excelente papo e o tipo de pessoa que melhora qualquer ambiente quando se tem por perto.

Para todos nós, é uma grande honra que ele tenha aceitado nosso convite para dividir um pouco de suas sensações ao viajar pelo segundo ano consecutivo a Interlagos, para estar perto de alguns dos melhores carros, pilotos e amigos do mundo.

[Márcio Madeira]

Passaram-se 70 dias entre o momento em que senti o orgulho e a emoção de estar pisando no solo sagrado de Interlagos, pedir a bênção de José Carlos Pace, o sentimento que tomou minha vida após confirmar a compra dos ingressos para a etapa 2025 foi: Vou ver todos novamente!

O termo “todos” naquele momento é muito abrangente: Amigos, Carros, pista. Tudo que me tornou um ser extremamente feliz em 2024 estava bem encaminhado para retornar aos meus olhos, ouvidos e sentimentos em 2025.

E, em 2025, o momento era ainda mais especial: Como a grande maioria dos fãs de automobilismo, a paixão não se inicia em grupos presenciais. Os contatos virtuais são cada vez maiores e mais impactantes. Passados pelo menos 120 dias da compra dos ingressos, o evento começa a soltar spoilers sobre o que seria a etapa deste ano.

E confesso que tive uma dúvida cruel: A aura de corrida dos torcedores Racer’s que emanava em 2024, seria mantida para 2025?

Em paralelo a isso, a ida ao José Carlos Pace seria acompanhada pela presença de André Luiz Bonomini, O Boina, um grande amigo que o esporte me trouxe, que me propiciou estar participando de momentos maravilhosos e épicos durante as lives do nosso querido Graining & Marbles, estaria conosco.

E, pasmem, durante esses mais de quatro anos de lives, não havíamos tido convivência pessoalmente por mais que 15 minutos. E as histórias sobre esse tipo de encontros em Interlagos foram tão ricas e tão impressionantes, que a etapa foi certamente regada brilhantemente como a etapa das emoções e congregações.

A etapa de 2025 trouxe inúmeras novidades, e diria que todas positivas em relação à estrutura do evento. Ter uma prova apoio completou de forma competente os vácuos que haviam no tempo de pista em 2024 (e ajudaram a emborrachar o traçado mais rapidamente); os shows na Fanzone, com bandas reconhecidas encerrando os dias, e artistas emergentes nos espaços entre os treinos foi um grande acerto da organização.

E o que dizer da exposição onde, na primeira vista, enfrentamos a imponente Brabham BMW BT52B, o bólido que deu a Nelson Piquet o segundo título mundial? À direita, um mockup da famosa foto do Estoril, com Ayrton, Alain, Nigel e Nelson sentados no muro. Uso os primeiros nomes aqui, porque milhares de César, Marilia, Ângelo, Cristiano, João, Maria, todos que podiam registrar aquele momento aproveitavam para mergulhar na história rica que o Brasil construiu nas pistas.

Na esquerda deles, tinha o Patinho feio, da gloriosa Camber, o recordista, que fez de Fabio Sotto Maior o ser mais rápido em um veículo no Brasil, num longínquo 1989. Nesse mesmo local mágico, estava lá o veículo que, pessoalmente, me deu mais orgulho de ver: o F5A restaurado, o modelo que deu o segundo lugar a Emerson em 1978 em Jacarepaguá.

Em frente a ele, capacetes de muitos pilotos brasileiros vencedores, campeões, macacões judiados pelo tempo, e tudo isso era resumido várias imagens que são cristalinas: Pais e mães agachados, apontando esses materiais, falando para o filho sobre os feitos de Gil de Ferran, André Ribeiro, Christian Fittipaldi, Chico Serra. Ensinando aos filhos que o Brasil não era só Emerson, Nelson, Ayrton, Rubens e Felipe…

No asfalto, algumas surpresas chamavam a atenção do público sempre efusivo na arquibancada A: a Cadillac provava que não era apenas um sonho de verão em Le Mans, a Ferrari nunca esteve entre os primeiros, e a Toyota lhe fazia uma companhia muito estranha para a normalidade do WEC.

A Porsche sempre na espreita esperando algum (até então) provável erro da Cadillac, a BMW não indo à frente, mas descolada da turma do fundo… e o Valkyrie. AH O VALKYRIE! Lindo, sonoro, e com desempenho que surpreendia todos pela luta entre os 10 primeiros. Rendeu o mais curioso comentário do sábado, de um senhor que com um sorriso no rosto logo após uma sequência de Valkyrie, Cadillac e Ferrari passarem a nossa frente, disse “É como voltar no tempo: Lembrar de ver quando passavam Honda V12, Renault V10 e os Ford V8 em 1991 ou 1992”

Para o meu orgulho, a Peugeot fez bonito nos treinos, e venceu o troféu Baguete contra a Alpine. Mas além de tudo isso, o orgulho brasileiro estava alocado no LMGT3: Dudu Barrichello em um sábado comum à família, cravou uma pole espetacular, erguendo a arquibancada A ao passar na frente após o fim do treino, exatamente como quantas vezes vi o pai fazer. Até mesmo o perfil da WEC fez o famoso meme do Homer Simpson bebê e adulto, que casou perfeitamente com tudo que estava ali acontecendo à frente dos nossos olhos.

Quero destacar sobre o domingo algo que me deixou muito feliz e orgulhoso: ao chegarmos à estação Autódromo, nos deparamos com um casal aguardando o ônibus para nos deixar mais próximo do portão (OBS: Quem for ao autódromo de trem, considere sempre um deslocamento entre a estação e o autódromo. A caminhada lomba acima é bem desgastante).

Agora notem o que só o automobilismo nos propicia: O Casal era de RORAIMA! Junto a um catarinense, um paraense, e um gaúcho, que vos escreve. E a cereja do bolo foi: Ao chegar o ônibus embarcaram pelo menos 10 INGLESES! E naquele trajeto de 10 minutos, todos rindo, conversando, se entendendo da forma que o automobilismo nos propicia. E, ainda fizemos o papel de guia aos ingleses até o portão A; no autódromo, já tínhamos contato com paulistas locais, paulistas que deslocaram do interior até lá, Cariocas, Cearenses, e, pasmem, um representante da Ilha do Marajó, no Amapá.

Isso tudo coroado no domingo com uma prova muito movimentada, novamente com qualidade altíssima, e o autódromo fervilhando em todos os seus locais. E, como uma contemplação do fim de semana, tivemos o orgulho de ver nos últimos 30 minutos, uma comunhão de torcida por Dudu Barrichello, que transformou em cada um que estava nas arquibancadas em mais um cavalo de potência no Aston Martin número 10, que acabou numa ultrapassagem no mais puro talento sobre a competentíssima e aguerrida Michelle Gatting, por fora, na saída do Lago, de forma improvável e que fez Interlagos urrar tanto quanto seu motor.

Porém, uma volta antes desse momento, quem estava como eu, na arquibancada da curva do Café, os nossos corações foram agraciados por um momento que as câmeras não captaram, mas a retina gravou: Pudemos ver um “four wide” entre um BMW, um Alpine e dois LMGT3 que não conseguimos identificar. Perfeitamente alinhados, na temida curva do café, lado a lado.

O silencio de um segundo de todos ao contemplar aquele momento e logo após voltar a berrar por Dudu Barrichello me deu uma certeza: A etapa 2025 do WEC continua sendo dos Racers. Vida Longa ao WEC!

P.S.: Sergio Milani, Rodrigo Mattar, Milton Rubinho, Felipe Meira, Aldo Luiz e Sergio Lago, a turma que levou todos esses detalhes à Bandeirantes. Muito obrigado!

Esse fim de semana foi inesquecível e que venha 2026! Nós, os racers, estaremos lá!

Roberto Taborda

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