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Michael Schumacher: campeão de 2000 a 2004
Depois de 3 temporadas na Ferrari, quando era o piloto mais brilhante mas não conseguia superar Williams/McLaren, Schumacher abre 1999 com pinta de favorito. Mas um acidente o tira da disputa, embora seja possível dizer que o alemão “não merecia” ganhar aquele campeonato se analisarmos todo o contexto da temporada.
2000 inicia com Schumacher vencendo as três primeiras corridas, com Hakkinen marcando a pole nas mesmas provas (lembra alguma coisa? Detalhe, a terceira era Imola…). A partir da quarta corrida, o jogo muda um pouco de figura: Hakkinen venceria 4 das 10 etapas seguintes, colecionando ainda 4 segundos lugares, enquanto Schumy venceu somente duas provas e fez dois segundos lugares, chegando a ter um abandono triplo, permitindo que Mika recobrasse a ponta.
Porém, Schumacher fez a pole e venceu as últimas 4 etapas consecutivamente, em uma demonstração gigantesca de superação e técnica.
Nos dois anos seguintes, Schumacher teve uma breve concorrência de Coulthard (em pontos, não em desempenho) e de Barrichello (em desempenho, não em pontos), mas estas duraram apenas 6 corridas, justamente na Áustria – e em ambas Barrichello abrindo passagem para o alemão. Resultado: Schumacher campeão em Agosto de 2001 (a 4 etapas do fim) e em Julho de 2002 (faltando 6 provas).
A ausência de perspectiva de competição nos anos anteriores fez a FIA inventar diversas regras ridículas para 2003, as piores delas sendo o sistema de treinos oficiais, com uma volta lançada por piloto, e o sistema de pontos que tornava o segundo lugar, na prática, a posição “1,5”: 10 – 8 – 6 – 5 – 4 – 3 – 2 – 1.
Com isso, imaginava-se que seria possível frear Schumacher e, em algum momento, isso pareceu verdade, porque a Fórmula 1 chegou ao fim da 13ª etapa, na Hungria, com os três primeiros separados por apenas 2 pontos – Schumacher 72, Montoya 71, Kimi 70.
Nesse momento, uma interferência da FIA acaba por se revelar benéfica para a Ferrari: a Michelin, fornecedora de pneus para Williams (Montoya) e McLaren (Raikkonen), teria de produzir novos compostos para não infringir o regulamento, pois estaria terminando as corridas com largura maior do que a permitida – a denúncia foi feita pela Scuderia.
Schumacher se recupera e vence as duas provas seguidas, na Itália e nos EUA, dando a impressão de que o título já estava ganho. Na última etapa, porém, o alemão comete um erro nos treinos, largado apenas em 14º. Dessa maneira, o título estava ameaçado porque, caso Kimi vencesse, Schumacher teria que chegar em oitavo.
Barrichello dominou os treinos, marcando uma pole à la Senna (0,7s de vantagem para o segundo) o que em tese também seria suficiente para garantir o campeonato ao alemão. Montoya supera Rubinho na largada e, para piorar, Schumacher se envolve em incidente com Takuma Sato, e cai para último. A tensão estava no ar. Mas, na prática, Kimi nunca ameaçou Barrichello e, pelo sim, pelo não, Schumacher terminou em oitavo.
Schumacher campeão com apenas dois pontos de vantagem (93 a 91). A menor diferença entre todos os títulos avaliados nesta coluna.
Não à toa, o alemão realizou a mais insana comemoração de seus 7 mundiais — ou de qualquer título de piloto na F1.
2004 manteve algumas das bizarrices do regulamento, mas foi desfile do alemão: vitória em 12 das primeiras 13 corridas, e título com ainda 4 etapas por disputar.
Sebastian Vettel: campeão de 2010 a 2013
2009 foi o ano do milagre da Brawn. Naquele ano, Vettel tinha ido para a Red Bull, após ter vencido pela primeira vez pela Toro Rosso.
Depois das primeiras 7 corridas e o domínio acachapante de Jenson Button, a FIA proibiu os difusores duplos e a Red Bull aos poucos se consolidou como melhor conjunto. Vettel e Webber vencem 5 corridas a partir de então, mas já era tarde demais para recuperar o terreno, e Vettel fica com o vice.
Entre 2010 e 2013, a Red Bull é seguramente o melhor carro. Vettel trabalha sem sustos em 2011 (recorde de poles em uma temporada) e 2013 (recorde de vitórias seguidas, só superado por Max em 2023), mas em 2010 e 2012 sofre imensamente para superar Alonso e a Ferrari, neste último conquistando o título após uma sofrida sexta colocação na prova, por muito pouco não abandonando a corrida logo no início após uma rodada na primeira volta.
Em 2014, ocorre a mudança drástica de regulamento, e a Mercedes surge completamente dominante. Vettel, entre dificuldade de adaptação ao novo regulamento e algum fator motivacional, é mero coadjuvante: passa a temporada zerado em vitórias enquanto seu companheiro de equipe, Daniel Ricciardo, vence três etapas.
Lewis Hamilton: campeão de 2017 a 2020
Olhando em retrospectiva, Hamilton poderia ter superado o recorde de Schumacher: o inglês venceu 6 mundiais em 7 disputados entre 2014 e 2020. Porém, em 2016 – e ainda hei de escrever sobre aquele mundial -, Lewis foi incontestavelmente superado por Nico Rosberg.
2017 inicia com a notícia de aposentadoria de Rosberg, e Hamilton teria, pela primeira vez desde Kovalainen, um companheiro de equipe não apenas finlandês mas consideravelmente inferior. Desse modo, o tetracampeonato era uma certeza, ainda que nas primeiras duas temporadas Vettel tenha conseguido estender a briga até metade do ano.
2019 foi um passeio. 2020 foi um desfile. Chegando em 2021, tudo indicava que Hamilton superaria os títulos totais do alemão e, de quebra, igualaria seu grande recorde.
Havia um Verstappen no meio do caminho, porém.
Apesar da bizarra decisão em Abu Dhabi, é preciso reconhecer que Max foi sem dúvida o piloto do ano, marcando 10 poles e 10 vitórias (contra 5 e 8 de Hamilton, respectivamente), além de ter liderado quase o dobro de Km do inglês – 2.988 a 1.582.
Max Verstappen: campeão de 2021 a 2024
Depois de um 2020 em que foi um coadjuvante de luxo – venceu duas provas e foi 11 vezes ao pódio, número igual de Bottas -, Verstappen domina 2021 até sua reta final, quando Hamilton e Mercedes emendam uma trinca de vitórias e a decisão é levada para a última etapa, onde a controversa decisão do diretor de provas suscita discussões até hoje.
Se o primeiro mundial de Max foi polêmico, os três seguintes foram incontestáveis: 150 pontos de vantagem em 2022, quase 300 em 2023, naquela que foi a temporada mais dominante de todos os tempos, até mais do que Schumacher em 2004. Em 2024, a diferença foi menor (63 pontos ao fim), mas o domínio inicial – 7 vitórias nas primeiras 10 corridas – garantiu a famosa “gordura pra queimar”, mesmo a McLaren sendo visivelmente um carro superior a partir de metade do certame (campeã de construtores).
Como vimos, tanto Fangio (54, 55 e 57), quanto Schumacher (01, 02 e 04), Vettel (11 e 13), Hamilton (19 e 20) e Verstappen (22 e 23) tiveram temporadas com carros absolutamente dominantes e fizeram o melhor uso possível, maximizando pontos ao longo de todos os respectivos anos.
Todos os 5, também, enfrentaram campeonatos nos quais tiveram benefícios diretos ou indiretos para as conquistas (Fangio 56, Schumacher 03, Vettel 12 e Verstappen 21), além de anos onde a diferença de equipamento e de estrutura de suas equipes foi determinante para suplantar adversários fortes, mas precisaram remar muito e performar de forma constante sob pressão (Schumacher 00, Vettel 10, Hamilton 17 e 18, Verstappen 24).
Fangio (58) e Vettel (14) não tiveram condições de lutar pelo quinto mundial seguido. Hamilton (21) chegou muito próximo dele, mas perdeu. Schumacher (04) venceu – sendo o único dos 5 a disputar o campeonato após o tetra com equipamento superior à concorrência.
Assim, Verstappen (25) tem uma oportunidade rara de igualar o grande recorde de Schumacher na F1, provavelmente o mais incrível feito realizado na categoria.
Sinceramente, não creio que ele consiga. Mas duvidar de Max é algo que não recomendo a ninguém.
Abraços,
Marcel Pilatti