Edu,
Eu confesso que estou estarrecido.
Quando a FIA anunciou as mudanças desportivas na Fórmula 1 para este ano, eu tive certeza de que ficaria sozinho ou integrando uma desprezível minoria que não gostou das novas regras.
Aí, passado o GP da Austrália, analiso as manifestações dos leitores e descubro que muitos deles não viram nada de mais nas novas regras. E todos citam o óbvio: as muitas ultrapassagens vistas em Melbourne se deveram muito mais à instabilidade climática e às características da pista do que aos efeitos das novas regras. Foi uma surpresa para mim.
Dias depois, ouço de um parente: “Que coisa esquisita esses treinos com um carro na pista por vez”. Ele, evidentemente, também não havia gostado do novo formato.
Sábado, véspera do GP da Malásia, abro o “Estadão” (O Estado de S. Paulo) e deparo com uma entrevista dada por Bernie Ecclestone a meu amigo Livio Oricchio, que cobre todos os GPs para o centenário órgão de imprensa (o lugar-comum é proposital). Nela, Bernie afirma claramente que não gostou do novo formato de classificação, que os treinos ficaram chatos demais e que pode haver uma volta a um sistema semelhante ao que vigorava até o ano passado. Segue um trecho da entrevista de Ecclestone:
“Você gostou, se divertiu com o que acabou de ver? É horrível. Em primeiro lugar, os pilotos não estão indo ao limite nesse treino (OBS: ele se refere ao treino da sexta-feira, que define a ordem de entrada dos pilotos para a definição do grid no sábado). O que define mesmo o grid é amanhã, e depois agora eles completam a única volta rápida a que têm direito, retornam para o box e ficam lá parados, apenas assistindo. Não dispõem mais da chance de tentar bater um adversário que fez um tempo melhor que o seu e na seqüência um outro concorrente. Não existe mais disputa, acabou a emoção das classificações.”
Encerrada a leitura, fiquei com a certeza de que minhas restrições aos novos treinos classificatórios não eram coisa de um conservador ensandecido. E elas aumentaram ainda mais no domingo, ao ler seu comentário sobre o GP da Malásia: “Estou quase com saudades daquelas corridas chatas do ano passado”. E olha que você, ao contrário de mim, havia manifestado uma tolerância, uma espécie de benefício da dúvida em relação ao novo regulamento.
Sabe por que não gostamos do novo regulamento? Porque nós preferimos uma corrida chata de verdade a um GP emocionante de mentira. E é exatamente isso que a “nova Fórmula 1” está proporcionando: emoções de mentira. Aliás, desde quando pode ser considerada nova uma F 1 com duas vitórias seguidas da McLaren?
A única coisa que a “nova” F 1 conseguiu foi tornar os GPs semelhantes às corridas de Fórmula Indy (ou seja lá qual for o nome que tenham essas duas categorias). Para ver Fórmula Indy, prefiro as originais.
Eu já sabia que não estávamos sozinhos. Mas receber a adesão de Bernie Ecclestone à nossa “causa” (totalmente desimportante diante da barbaridade que está acontecendo no Iraque, com os auspícios de nações que se consideram civilizadas como os Estados Unidos e a Grã-Bretanha) me deu um pouquinho de alegria.
Só para não perder o costume: o novo regulamento é uma merda. (Como diria o Edgard Mello Filho, “agora sim, está assinada”.)
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Alguns leitores já estão dizendo que os erros cometidos por Michael Schumacher nas duas primeiras corridas da temporada mostram que o alemão não é tudo isso.
Menos, né, amigos? Existem maneiras mais inteligentes de defender o piloto preferido do que comparar as melhores atuações deste com as piores do desafeto. Acho que vocês são capazes de fazer melhor que isto. Usando o método de vocês, eu também posso “provar” qualquer coisa, até que Andrea de Cesaris era melhor do que Ayrton Senna.
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Reproduzo abaixo fotos publicadas na revista F 1 Racing. Quem assiste ao seriado “Frasier”, que passa no canal pago Sony, certamente vai se divertir com a semelhança entre Rubens Barrichello e o ator Kelsey Grammer. Os nomes nas legendas estão trocados de propósito.
Abraços,
LAP