Panda
Que se dane! Eu gosto de corridas em condições limite. Gosto de ver estes caras ralando debaixo de um aguaceiro, correndo com carros aos pedaços, em pistas difíceis e traiçoeiras.
Você é testemunha de que não sou sádico nem gosto de ver cenas violentas nas pistas mas aprecio ver pilotos e equipes de Fórmula 1 exigidas ao máximo, até o ponto de ruptura. Não são os melhores, os mais preparados, os mais tecnológicos, os mais corajosos? Pois provem, então.
Se há uma coisa em que acredito é que os duros começam a jogar quando o jogo fica duro. Correr numa mesa de bilhar com centenas de metros de área de escape, pneus certinhos, carro certinho, nem muito frio, nem muito calor, é coisa pra velhinhas; correr num Interlagos inundado, as condições de tempo mudando continuamente, os pneus mal escolhidos reagindo de forma vil, imprevistos acontecendo a cada volta, é coisa para um Piloto de Fórmula 1, um lídimo herdeiro de Nuvolari, Fangio, Clark e Senna.
Domingo, em Interlagos, havia um desafio a vencer: disputar uma corrida que o bom senso recomendava não disputar. E mesmo assim, aqueles vinte meninos foram para a pista e desafiaram os deuses e os elementos. Saíram todos inteiros e alguns deles bem maiores do que entraram. Rubens Barrichello foi um deles.
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E quer saber do que mais? Os verdadeiros Pilotos também gostam de corridas difíceis. Não é por acaso que GPs sob chuva forte ou em autódromos inadequados produzem tantas cenas memoráveis.
E, graças a tantos inconvenientes, o GP Brasil de 2003 esteve cheio de cenas inesquecíveis. Algumas delas:
– Kimi Raikonenn fez uma ultrapassagem especialmente valente sobre o pequenino Coulthard logo no começo da corrida. Entrar no vácuo de um carro com aquele spray de água e depois retardar a freada em uns 50 metros, com tanques cheios e pneus frios é coisa de gente valente. Mais tarde, Kimi iria – seu McLaren no limite extremo de aderência – ultrapassar Ralf por fora na Curva do Lago, bem diante dos meus olhos. Coisa de campeão.
– Juan Pablo Montoya saiu lá de trás no grid e, já nas primeiras voltas, ganhou posições até chegar ao 2º lugar, passando Coulthard por fora na Curva do Sol. O Williams do colombiano abriu o bico logo depois mas ele se defendeu bravamente, vendendo caro cada posição. Estavam, ele e Barrichello, numa interessantíssima batalha quando foram rudemente interrompidos por mais um safety car.
– Valente também foi a ultrapassagem por fora (!) de Schumacher sobre Montoya no Bico de Pato, o alemão jogando seu Ferrari num rio de água bem no ponto de frenagem.
– Grande Rubens, belíssima pole, buscando forças para se recuperar (ao que fica muito a dever ao safety car) do péssimo começo de prova, prejudicado por um pneu Bridgestone de todo inadequado para o piso ensopo de Interlagos, depois brigando com Montoya, defendo sua posição com uma bela ultrapassagem sobre Da Matta, lutando contra Ralf numa da relargadas e ultrapassando Coulthard pouco antes da vergonhosa pane seca. Barrichello fez tantas e tão boas no domingo que em sei se lembrei de tudo.
– Bonito de se ver Fisichella agarrando com todas as forças a oportunidade de lutar pela ponta, forçando Kimi ao erro. Não me alinho entre os admiradores deste italiano de qualidades muito faladas e pouco exibidas mas ele fez uma bela corrida.
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Em meio a estas abundantes demonstrações de coragem e talento, não posso deixar de registrar a falta de ousadia de Mark Webber, que hesitou interminavelmente atrás de Montoya, e a incapacidade de Ralf em estabelecer um padrão, qualquer padrão de corrida.
O alemãozinho vai tendo os seus miolos fritados pela falta de qualidade do Williams e pela competição feroz com Montoya.
Uma pena. Eu até que simpatizava com ele.
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Sabemos agora que Barrichello não tinha pouco combustível no tanque durante os treinos, pois parou apenas na volta 19 para reabastecer. Provavelmente ainda tinha mais combustível, tendo escolhido esta volta para um pitstop apenas pela entrada na pista do safety car.
Então alguém pode me explicar como Barrichello, com aqueles pneus, com aquela gasolina toda, foi tão mais rápido nos treinos do que Schumacher (que parou na mesma volta para reabastecer)?
Alguém me disse que Schumacher havia regulado o seu carro, já no sábado, prevendo chuva. Ok. Então está explicado. Schumacher foi mal nos treinos porque previa a chuva. De fato, o alemão começou muito bem no domingo.
Vamos fazer de conta que é isso mesmo e que a regulagem para seco ou molhado influencie tanto assim no desempenho do carro em uma volta lançada.
Mas então Barrichello correu o GP com o carro regulado para pista seca. Faz sentido, também, porque seu desempenho melhorou conforme a pista foi secando. Mas nem a pista secou tanto nem o brasileiro foi tão mal assim enquanto a pista estava encharcada.
Ou seja, verdadeira ou não a explicação acima, Barrichello fez um trabalho fantástico tanto no treino quanto na corrida, perfeito mesmo, não fosse a absoluta incapacidade de arrancar bem nas relargadas.
Deu aula para o alemão em pista seca, em pista molhada e em pista mais ou menos. Empolgou, foi valente, raçudo, corajoso. E a explosão de alegria da torcida ao vê-lo marcar a pole foi um dos mais belos momentos que vive no automobilismo.
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Peraí. Os pneus Bridgestone não deveriam render melhor do que os Michelin em pistas não muito quentes, como era o caso no sábado? Então por que os pneus franceses deram um banho nos treinos, só superados por um endiabrado Barrichello?
As perspectivas para as próximas corridas para a Ferrari podem ser muito piores do que parecem.
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E Michael Schumacher? Foi bem ou foi mal?
Não sei dizer, sinceramente, mas ele pode estar ingressando num ponto perigoso da sua carreira, um momento em que todas as conquistas ficam para trás e só lhe resta a queda. A veremos assim, tão precoce e inesperadamente?
Respostas nas próximas corridas.
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Droga de regulamento! Vencer um GP nunca valeu tão pouco.
Pela nova fórmula de pontuação, mesmo que Schumacher – ou Barrichello – vençam todos os GP a partir de San Marino com Kimi sempre em segundo, o finlandês só perderá a ponta do campeonato na Hungria, daqui a nove corridas, faltando três para o final.
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Vai sobrar para Interlagos?
Talvez. Uma análise racional indicaria que nenhum sistema de drenagem seria capaz de escoar tanta água como a que caiu domingo. Mas será que as autoridades esportivas estão preocupadas com a racionalidade?
O contrato entre a Prefeitura de São Paulo e Bernie Ecclestone está chegando ao fim. Não creio que o bom inglês tenha muitas opções onde possa realizar um GP bacana, tobbaco free, graças aos bons ofícios do governo petista. De forma que a chuva lhe dá uma excelente oportunidade de chupar mais um pouco do nosso sangue.
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Abraços a todos e muito obrigado pela grande volume de visitas e correspondência enviada ao site.
Eduardo Correa
![]() Desde que um piloto italiano de motovelocidade atropelou uma serpente naja no GP da Malásia, em 2000, eu nunca vi nada mais bizarro numa pista do que dois fiscais CHUTANDO as peças do carro de Ralf Firman pra fora da pista. Um GP que não teve largada, não teve bandeirada, o vencedor não venceu, o terceiro colocado não foi ao pódio e o líder ficou parado sem gasolina é para nunca mais esquecer. Tite |
Oi Pessoal, Sendo um apaixonado pelo esporte automobilismo, fica difícil comentar sobre um Grande Prêmio que, pelas circunstâncias que ocorreram, não teve nenhum mérito esportivo. Mas é impossível se manter alheio ao que aconteceu no domingo em Interlagos. A maioria dos meus amigos não é tão ligada à Fórmula 1 e me considera, pelo meu trabalho, uma espécie de “porta-voz” sobre o assunto. Imagino que a reação deles seja mais ou menos a mesma da grande maioria da opinião pública nacional. E o comentário que eu mais ouvi foi algo do tipo “o Rubinho não tem jeito mesmo. Quando finalmente ele anda bem para ganhar no Brasil, a equipe vai lá e deixa ele na mão”. O curioso é ver que, na crença popular, o culpado no final é o próprio Rubinho por ser um “azarado”ou “sujeito sem estrela”. O erro da Ferrari, ridículo se considerarmos que a equipe é a atual tetracampeã entre os construtores, fica em segundo plano diante do segundo esporte mais popular do Brasil, atrás do futebol: malhar Rubens Barrichello. +++ Mas o que ninguém se deu conta – nem mesmo o próprio piloto – é que, mesmo sem pane seca, Rubinho não teria ganho esta corrida. Ele saiu da prova na volta 46 e teria feito sua segunda parada, segundo a Ferrari, duas ou três voltas. Com isto, ele estaria obrigatoriamente em terceiro lugar no momento da paralisação da prova, na volta 53. Imagine então o que seria do pobre coitado do Rubinho quando olhasse a bandeira vermelha e, com sua bela e garbosa Ferrari lotada de combustível, perdesse a corrida para dois sujeitos que teriam de ir aos boxes logo, logo? Sua fama de azarado iria chegar aos rincões mais distantes do Brasil! Discorde se quiser, mas acho que Rubinho teve é sorte de perder a corrida por um erro da Ferrari e não por um azar seu numa corrida que, muito dificilmente, premiaria o piloto de melhor desempenho esportivo, que foi ele sem dúvida nenhuma. +++ Por falar em sorte, ou na falta dela, contribuiu muito para o tom operístico das mazelas do Rubinho esta idéia propagada por uma mídia não muito objetiva de que em todo ano de final 3 o GP Brasil é vencido por um piloto local. Apesar de concordar que o povo brasileiro adora mandingas e que isto ajuda aos grupos jornalísticos a venderem seu peixe, qualquer retardado sabe que as variáveis existentes numa corrida de automóveis são tantas que isto fica tudo sem o menor sentido. Pior para quem acreditou nisto, ou acreditou no Galvão Bueno falando desde sexta-feira que estava “sentindo” que este era o ano do Rubinho em Interlagos. Como se o que ele “sentisse” tivesse algum valor objetivo. Gente, não tem nada de tabu ou mandinga na história: Rubens Barrichello, brasileiro, piloto da Ferrari, perdeu uma etapa de uma competição automobilística por um erro da equipe. Ponto final. É algo que já aconteceu antes (Monza 2001) e que vai acontecer de novo, porque faz parte do esporte. Para nós, o mais importante foi a serenidade com que o piloto encarou tudo, muito diferente do que vimos em ocasiões anteriores. É nas derrotas que se forja um campeão, e Rubinho deu alguns sinais de que finalmente aprendeu isto. O tempo dirá se tenho razão. +++ Para terminar, temos de falar dos acidentes. Mark Webber disse não saber o motivo da sua rodada, mas se ele rever o vídeo com cuidado, ele vai ver que passou em cima de uma linha branca que margeia a pista. Provavelmente ali ele perdeu o controle do carro. A batida de Fernando Alonso mostra o absurdo despreparo dos chefes de equipes e da direção de prova. A pista estava repleta de destroços e passar ali acima de 60 km/h já poderia danificar o carro. Mas a direção indicou apenas a entrada do Safety Car na pista, e os chefes de equipes informaram aos pilotos apenas isto: “Slow, Safety Car on track”. Qualquer piloto imaginaria que alguém rodou em algum canto, mas não que a reta estaria bloqueada com rodas, pneus e pedaços de carro. Sobre os que saíram na Curva do Sol, não há nem o que comentar: mais um elemento que transformou a corrida numa loteria. Mas o acidente mais absurdo, e menos lembrado, do fim de semana foi o de Ralph Firman. Como pode uma suspensão “explodir” daquela maneira em plena reta? Em seu 200o Grande Prêmio, a Jordan deveria ter ido para casa com um atestado de incompetência absoluta (diria até tentativa de homicídio culposo, por mais contraditório que isto seja). Mas no final, todos vão lembrar que foi esta a corrida que eles quase ganharam, com o sempre bravo Giancarlo Fisichella. Como Rubinho, Eddie Jordan teve é sorte aqui. Grande abraço e até semana que vem! Luis Fernando Ramos |
Amigos, bom-dia! Que corrida, hein? Antes de começar o festival de rodadas na ex-Curva do Sol eu pensava como era possível os carros passarem por aquele rio e nada acontecer. E notava como o Rubinho sempre passava fora dele, com traçado diferente dos demais. Aí, começou o festival. O Rubinho ficar sem gasolina é surreal. Com qualquer carro seria inadmissível, mas com o líder…Essa eu não engulo como erro, pois à luz da experiência de uma equipe como a Ferrari, só pode ter sido intencional. Consumo x quantidade de combustível é aritimética pura. Uma pena. O grande acidente. Ali, dois erros. Primeiro, o Alonso vir como alucinado e não enxergar as bandeiras amarela agitadas, que significam “prepare-se para parar”. Segundo, já na batida do Webber deveria ter sido dada bandeira vermelha. Cabia ao Montagner dá-la antes e ver o que aconteceu depois. Vê-se claramente nas repetições de imagem que o Alonso “encheu” aquela roda com as bandeiras amarelas agitadas ao fundo. E aquela enorme grua removendo os carros do Pizônia e do Montoya, na área de escape? Poderia ter ocorrido o mesmo que aconteceu com o Laércio Justino em Brasília. O Schumacher poderia ter morrido. Finalmente, só mesmo no país do futebol poderíamos ter visto um fiscal de pista chutando pedaços de um carro para a margem da pista… Abraço Bob Sharp |