BERNIE E BARDI

Rubinho por baixo
11/07/2003
Ainda Bernie
16/07/2003

Edu,

Vai parecer que eu plagiei a mais recente coluna do Flávio Gomes no www.grandepremio.com.br, mas paciência. Nós dois (eu e o Flávio) encontramos em Bernie Ecclestone, há uns 30 anos o todo-poderoso da Fórmula 1, um ótimo tema.

Para muitas pessoas, Bernie é simplesmente um mercenário, alguém que só pensa em dinheiro 24 horas por dia e pisa no pescoço de quem se atreve a ser um obstáculo para seus objetivos. Não posso dizer que seja mentira: ninguém alcança a posição de Bernie organizando chás de caridade e jantares dançantes com entrada gratuita para os desvalidos e necessitados. Entre outros “crimes”, acabou com diversas categorias (como a maravilhosa Esporte-Protótipos) para salvaguardar os interesses da Fórmula 1. No final dos anos 80, seu temor de que o campeonato da CART pudesse ameaçar a popularidade da F 1 (uma perspectiva real na época; hoje, pode-se ver que era totalmente infundada) custou-nos o maravilhoso e inigualável traçado original de Interlagos (depois contaremos melhor esta história). Em resumo, é o tipo de dirigente ótimo para ter a favor e péssimo para ter contra.

Mas é inegável que Bernie influenciou profundamente a evolução da F 1 nos últimos 30 anos – para o bem e para o mal. Para os fãs, nem tudo o que ele fez foi benéfico. Mas hoje todos nós (quando digo “nós”, refiro-me a fãs de F 1 em todo o mundo) podemos seguir os GPs pela TV, sem esperar meses por uma revista para saber o que aconteceu numa corrida.

Neste ano, Bernie veio com uma novidade: a língua solta. Só na semana passada, deu declarações polêmicas sobre três temas diferentes: criticou Rubens Barrichello e David Coulthard e criticou Silverstone dizendo que era ainda pior que Interlagos. Pior ainda: divulgou que pretende comprar o autódromo de Vallelunga, próximo a Roma, e fazer ali o GP do Vaticano, caso obtenha autorização do Papa (quem quiser ver a íntegra das declarações pode procurá-las no www.grandepremio.com.br).

Parece que Bernie percebeu que a idade avançada lhe permite falar algumas coisas sem pensar nas conseqüências. Faz lembrar Pietro Maria Bardi, o falecido diretor do MASP (Museu de Arte de São Paulo). Em 1982, revoltado com as pichações que os candidatos às eleições que aconteceriam naquele ano faziam no prédio do MASP, na avenida Paulista, Bardi resolveu pichar por cima delas a palavra “merda” em grandes letras vermelhas. Foi preso por isso, mas não foi condenado porque tinha mais de 70 anos (na verdade, já contava mais de 80) e era considerado inimputável. Foi solto e provocou: “Que bom! Posso continuar escrevendo ‘merda’ à vontade!”

Bernie, aos 72 anos, parece ter chegado a alguma conclusão parecida com a de Bardi. No começo do ano, não teve pudor em dizer que havia detestado o novo formato dos treinos de classificação, dizendo que achava pouco emocionante – uma declaração impensável até pouco tempo atrás, quando todas as declarações públicas de Bernie tinham como objetivo valorizar a F 1.

Vou confessar algo que parece puro puxa-saquismo, mas o fato é quetenho alguma simpatia por Bernie. Não é irrestrita, mas passa longe da demonização que alguns fazem dele. Por uma razão muito simples: Bernie, como outros chefões da F 1 atual (Jean Todt, Frank Williams, Ove Anderson, Ron Dennis e David Richards, entre outros) começou no automobilismo porque gosta. Foi piloto (para quem não sabe, chegou até a se inscrever para dois GPs de F 1 em 1958, sem conseguir classificação para a largada), chefe de equipe, empresário de pilotos e finalmente construtor, ao comprar a Brabham em 1971. Dali foi aglutinando forças até se tornar o cartola mais poderoso da F 1. Um perfil bem diferente do de caras como Flavio Briatore e Craig Pollock, que chegaram ao automobilismo (e à F 1 em particular) de pára-quedas e são levados a sério demais para o meu gosto.

Abraços,

LAP

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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