“BOLEIROS?”

A Fórmula 1 anda muito chata.
19/11/2003
Pilotos e motoristas
24/11/2003

Luis Fernando Ramos

BOLEIROS?

Na terça-feira da semana passada, diversos de nossos pilotos se reuniram no Pacaembú para disputar uma pelada de fim do ano, organizada pelo incansável Vanderlei Pereira. O evento já acontece há alguns anos, mas foi a primeira vez que o assisti ao vivo. Uma experiência impagável.

O clima era dos melhores. Antes da partida, os pilotos-jogadores deram brinquedos e tiraram fotos com os meninos da A.A.C.D. (Associação de Assistência à Criança Deficiente), sempre um momento especial para quem tanto precisa deles. Os jogos rolaram num clima amistoso, com muitas brincadeiras – embora todos ali estivessem imbuídos do sentimento maior de um esportista: vencer.

No final, só quem tinha motivos para reclamar era a bola. Apesar de não faltar boa vontade e esforço, os jogadores causaram mais risos que admiração. Os únicos que trataram a pelota com fineza foram Guálter Salles (Cart/Stock Car), Tiago Camilo (Stock Car) e Allam Khodair (F-Renault brasileira).

Fiquei curioso com o desempenho de Rubinho. Me lembro que, em seu primeiro ano na Ferrari, o brasileiro disputou uma partida ao lado de Schumacher e insinuou que o alemão aparecia mais que ele no jogo porque todos “o deixam jogar”. Mas depois de uma atuação discretíssima na semana passada, Rubens admitiu: “futebol não é comigo”. Os anos na casa de Maranello estão definitivamente mudando sua cabeça.

+++

Aliás, Rubinho não falou nenhuma mentira no comentário sobre Schumacher. Qualquer jogo que o alemão participa passa ao vivo na Eurosport, uma espécie de ESPN européia. Ninguém o marca em cima e sempre arrumam um pênalti para ele bater, no qual invariavelmente o goleiro não faz o mínimo esforço para pegar a bola.

Mas a paixão do alemão pelo futebol e sua privilegiada posição de lenda viva do esporte lhe proporcionaram a realização de alguns momentos de sonho: jogou ao lado de Zico e Ronaldinho no Maracanã, de Robinho na Vila Belmiro e foi o único não-jogador a participar, neste ano, de uma partida beneficente organizada pelo português Luís Figo.

Assisti a este jogo na TV, que despiu qualquer preconceito contra as habilidades de Schumacher com a bola nos pés. Jogando ao lado de craques como Figo, Zidane, Davids e (de novo) Ronaldinho, o alemão correu os 90 minutos, arriscou chutes de fora da área, fez lançamentos precisos e provou que, com exceção de Cruzeiro e Santos, teria cacife para jogar em qualquer equipe da primeira divisão do futebol brasileiro.

+++

Mas Schumacher não é o melhor boleiro da Fórmula 1. A honra cabe a Giancarlo Fisichella. Os dois estavam no pódio do GP do Brasil de 2000, cujo troféu do vencedor foi entregue por Pelé. Na ocasião, a reverência dos pilotos com o rei do futebol não foi mera coincidência. O italiano é um perigoso atacante, com uma latente habilidade natural nos pés. Não é à toa que é o único piloto da F-1 que sempre figura nos times organizados por Schumacher.

+++

Mas o futebol não é unanimidade como o segundo esporte na vida dos pilotos. Rubinho, por exemplo, é um entusiasmado fã de golfe (e não faz feio, dizem). Uma boa parte deles gosta mesmo é de jogar tênis. Já tive a oportunidade de enfrentar Enrique Bernoldi numa quadra. Ele estava começando e sucumbiu fácil ante a um adversário que passou a adolescência de raquete na mão. Mas andou namorando uma e outra tenista profissional e deve ter evoluído. Acho que vai pedir uma revanche logo, logo.

+++

O troféu de esporte mais alternativo fica com Alexander Wurz. O grandalhão piloto de testes da McLaren foi campeão mundial de bicicross no passado e hoje é chefe de uma equipe profissional de Mountain Bike. Neste ano, esteve num evento no qual os participantes cruzaram os Alpes de bicicleta.

Tem louco prá tudo.

+++

Para terminar, uma retratação pública: na minha última coluna, interpretei o desmaio de Richard Burns antes do rali da Grã-Bretanha como “amarelite”. Achei mesmo que o piloto tinha um problema de fundo nervoso diante do momento decisivo.

Fui injusto. Burns tem um tumor no cérebro e vai travar sua corrida mais importante no ano que vem. Que ele vença a doença com a mesma facilidade que ultrapassa os estágios mais difíceis do WRC. Torcida não vai faltar.

Um abraço e até a próxima,

Luis Fernando Ramos

GPTotal
GPTotal
A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *