Quatro nesta temporada mais três nas últimas corridas de 2003, sete vitória seguidas da Ferrari, 100% de aproveitamento depois que a equipe denunciou à Fia irregularidades nas medidas dos pneus Michelin.
Apenas uma coincidência?
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O diretor da transmissão de TV de Imola deveria ter sido sumariamente demitido já na primeira volta. Graças à incompetência crassa dele não pudemos ver em detalhes a disputa de posição entre Schumacher e Montoya a partir da aproximação da Villeneuve até a saída da Tosa e a sequência dos acontecimentos, envolvendo Ralf.
Foi uma das disputas mais violentas de posição que jamais vi. Montoya tentou passar Schumacher por fora na Tosa e foi jogado para fora, sem maiores considerações (por uma manobra que a mim pareceu quase igual, Ralf foi punido no Bahrein).
Montoya conseguiu voltar mas o fez de maneira intempestiva, forçando Ralf a colocar as quatro rodas dos seu Williams na grama em plena aceleração e, mesmo assim, conseguiu retornar perdendo apenas uma posição.
Também não foi possível ver em detalhes o que aconteceu no toque entre Ralf e Alonso na fase final da corrida. Ficou a impressão de que o alemão tentou fechar a porta e tomou uma invertida esperta do espanhol.
Imola, aliás, foi pródiga nestas manobras assustadoras, que desafiam os frágeis limites da ética esportiva.
Pode-se dizer que a vitória de Schumacher se tornou possível porque ele fechou de forma tão taxativa Montoya na primeira volta. O resultado desta e de outras corridas mostra como é importante hoje em dia largar na frente e resolver as coisas logo na primeira volta.
Arriscar tanto assim, em manobras no limite ou além do limite da esportividade e do bom senso, só se tornou possível porque os pilotos têm muita confiança nas condições de segurança dos seus carros, como observou recentemente sir Jack Brabham. Até os anos 80, lembrou o australiano, estas condições não existiam. Arriscar deste jeito era colocar o próprio pescoço e o dos companheiros em risco. Resumindo: a tecnologia torna a ética e a esportividade mais elásticas, mais discutíveis.
É um bom resumo do mundo em que vivemos.
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também é um bom resumo do ponto a que chegamos a ausência de uma menção simples que fosse a Roland Ratzenbeger naquela bandeira pateticamente amarrada ao Lotus pilotado por Gehard Berger, como se ele não fosse capaz de pilotar o carro com uma mão só.
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Voltem a fita, liguem o slow motion e notem os movimentos da mão direita de Schumacher durante a largada.
Ele acionou a embreagem atrás do volante com suavidade, apenas com a ponta dos dedos e, enquanto olhava para a esquerda, vigiando os movimentos da oposição, levou a mão sem pressa para a posição certa do volante, enquanto acertava a trajetória do carro.
Acho que estava pensando: “deixa o inglesinho sentir um pouco o gosto da liderança; depois eu passo ele nos boxes”. E também: “lá vai o idiota do Montoya jogar mais uma corrida fora por uma largada desgraçada e ainda segurando o Ralf e o Rubinho para mim. Obrigado, otário.”
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Escrevo estas linhas sem saber qual a explicação de Rubinho para a sua corrida latrinária.
Espero, sinceramente, que ele possa alegar que o seu carro estava correndo apenas com metade das marchas ou com outro problema tão grave quanto. O melancólico sprint final que tentou sobre Trulli, porém, me faz temer pelo pior: que ele tenha sido apenas incapaz de fazer este Ferrari de outro planeta render minimamente igual ao de Schumacher.
E isso no momento em que, teoricamente, Rubinho está liberado para disputar a vitória com o alemão
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E palmas para a Bar e Jenson Button que eles merecem.
O inglês é, nesta altura, o que Alonso foi no ano passado. Com 23 pontos, ele só não é vice-líder do campeonato por Rubinho ter herdado por pura sorte o 6º lugar com a rodada de Ralf. No ano passado, para quem não se lembra, Button marcou 17 pontos.
E a Bar é a prova de que as pessoas são capazes de aprender. No ano passado inteiro, a equipe somou 26 pontos, marca já superada em 2004. Mais quatro corridas neste ritmo e a equipe se tornará a franca favorita ao vice-campeonato de 2004.
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E a McLaren poderá se dar por feliz em terminar o ano como 5ª colocada no Mundial de Construtores e nós de ver em Interlagos a decisão do 3º lugar no Mundial de Pilotos.
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Cristiano Da Matta, graças à incompetência da Toyota, está queimando as suas chances de sonhar com algo melhor na Fórmula 1 do que fazer mais uma ou duas temporadas por equipes médias. Que ninguém se iluda: ele será cobrado pela falta de resultados da sua equipe, mesmo que não seja responsável por isso.
E travar o limitador de velocidade, para mim, é novidade. O que mais a equipe será capaz de inventar?
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Massa, do pouco que foi visto na corrida, não tem nado do que se orgulhar.
Seu carro é muito fraco, a despeito de ser empurrado por um motor Ferrari teoricamente igual (me engana que eu gosto) ao do vencedor mas ter chegado atrás de Fisichella, que largou em último lugar, não é um resultado aceitável para quem sonha em ocupar um lugar na Ferrari.
No momento devido, ele também será cobrado pela falta de resultados com a diferença que é dez anos mais jovem do que Da Matta.
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Gostei – e estou falando sério – da forma como Max Mosley definiu os objetivos da reforma da Fórmula 1 proposta para 2008. Resumidamente: melhorar o espetáculo sem regras artificiais, dar ênfase ao talento dos pilotos eliminando ajudas eletrônicas, reduzir custos e formar um grid com 24 carros.
O pré plano de Max encaminha soluções que me parecem inadiáveis, como a redução do desempenho geral dos carros e a consequente melhora das condições de segurança. Impressionante o feito de Schumacher em melhorar em mais de um segundo o recorde da volta em Imola logo no começo da prova – e usando um motor que deve aguentar o dobro de quilometragem dos motores do ano passado.
A segurança vem em primeiro lugar, não podemos nos esquecer disso em momento algum, tanto mais às vésperas dos dez anos dos acidentes que vitimaram Ratzenberger e Senna.
Comento mais sobre isso em minha próxima coluna.
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Termino pedindo desculpas aos leitores pelas falhas na atualização do site na quinta e sexta-feiras e desejando uma boa semana a todos.
Eduardo Correa |