Esta corrida não serviu para nada

PRESEPADAS
19/03/2004
CHANCE DESPERDIÇADA
24/03/2004

São 6 horas da matina, meu estômago dói, estou com frio e sono. Com o humor sombrio, me pergunto, enquanto vejo os carros flanarem em ondas de calor naquela pista imensa: para o que serviu esta corrida? Para nada, é a única conclusão possível.

Para o que serviu a McLaren testar seu carro durante quase um ano? Para o que serviu o bico “revolucionário” dos Williams? Para o que serviu toda a expectativa em torno dos pneus Michelin no clima malaio-amazônico.

Para nada. No fim, Michael Schumacher ganhou com sempre. E ganhou da maneira mais banal possível, dando a nítida impressão que não estava nem aí para o segundo colocada, apenas poupando seu Ferrari, que parece ser ainda melhor do que o carro de 2002, aquele que ganhou tudo e mais alguma coisa. Deste jeito, Schumacher já é favorito para o campeonato de 2005.

E mais: para o que serviu este regulamento idiota, que jogou Alonso para a última posição (oh! Que grande “emoção” vê-lo recuperar onze ou doze posições em três voltas)? Para o que serviu a Ferrari ter “liberado” Rubinho pra ganhar? E para o que serviu o 2º lugar no grid de Webber se ele, tolamente, deixou a chance escapar pelos dedos?

De novo: para nada. Passar feito um foguete pelos Minardi, Jordan, Toyota, Jaguar e Sauber, até eu. Rubinho? Não sei não. Enquanto escrevo, não sei o que ele vai dizer sobre o desempenho do seu carro mas acho que ele apenas errou na saída de uma curva, perdeu velocidade e duas posições e depois não conseguiu descontar o preju.

E quanto a Webber, estava prontinho da silva para cobri-lo de elogios, depois do milagre dos grandes que promoveu nos treinos, marcando o segundo tempo. Mas aí vem a corrida e ele bobeia na largada (foi o único, ao que percebi), depois aplica aquela fechada assassina em Alonso em plena reta dos boxes – e não é punido! -, toca rodas com Panis e se dá mal e, para concluir a obra, dá uma bela rodada, se bem que típica de quem ficou sem freios.

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Sobre Da Matta: pelo tamanho da encrenca que tem sob o traseiro, teve um desempenho no treino só comparável ao de Webber. Na corrida, porém, deu pena ver o mineirinho se arrastar pela pista.

O que mais temo é que a derrocada da Toyota acabe arrastando a própria carreira do brasileiro. É aquela coisa típica de dirigente esportivo: está tão ruim que é melhor mudar tudo: carro, engenheiro – e os pilotos também.

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Dá tristeza, por outros motivos, ver na pista pilotos como Pantano, Sato e Baumgartner.

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Em compensação, Janson Button parece ter dado o salto que separa coadjuvantes de protagonistas. Com um bom carro nas mãos, ele cresce a olhos vistos e vai se posicionando bem, pelo menos até agora, para conquistar a cobiçada vaga na Williams.

Aliás, mantendo-se a situação da Bar e da Williams, é de se perguntar se vale a pena trocar uma pela outra.

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Ainda que tenha marcado seu primeiro ponto no ano e feito bolinho do colega de equipe, não se pode dizer o mesmo de Felipe Massa.

Repare na volta do brasileiro nos treinos de classificação, que foi mostrada quase inteira pela TV de dentro do carro dele, compare com a volta de Webber e veja o que significa dirigir com raiva. Um vai na ponta dos dedos, dirigindo com tal suavidade que parecia que ia fazer um tempo lá em cima. Já Massa não dá sossego ao volante, chassi, acelerador e pneus, promovendo aquilo que alguns chamando de tourada.

Como me explicou Alex Dias Ribeiro tempos atrás, pilotar com raiva pode até atrair a atenção do público pelas derrapadas e freadas no limite mas, na realidade nua e crua do cronômetro, significa geralmente ser mais lento e, em corrida, visitar o acostamento com mais assiduidade. E Massa esteve lá, de novo, uma ou duas vezes, a mais esplendorosa delas quando corria sozinho. Ele já é, fácil fácil, o piloto que mais passeou na grama este ano.

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E para arrematar o meu mau humor: o recorde de poles de Senna subiu no telhado.

Boa noite a todos (EC)

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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