“ESTE É O HOMEM”

WITH A LITTLE HELP FROM OUR FRIENDS
06/10/2003
SCHUMI OU KIMI? ROSSI OU GIBERNAU?
10/10/2003

Luis Fernando Ramos

Acompanhar uma corrida de Fórmula 1 na televisão brasileira é um exercício de paciência. Primeiro, pelo formato: a transmissão começa cinco minutos antes da largada e acaba logo após a cerimônia do pódio. Com tão pouco tempo no ar, o foco jornalístico fica voltado aos pilotos brasileiros, que há muito não ocupam o centro da disputa. Uma entrevista com Michael Schumacher ou Kimi Raikkonen? Esqueça, ou tente no canal da tevê italiana se você tem transmissão a cabo.

Para piorar, há a evidente falta de química entre a dupla Galvão Bueno e Reginaldo Leme. Por diversas vezes fica a impressão que os dois não trabalham mais em conjunto, apenas se suportam. A arrogância do locutor chega a ser constrangedora. E o resultado, quem engole são os espectadores: informações incorretas, discussões fúteis, suposições improváveis e uma enorme falta de objetividade.

Há três temporadas com residência na Europa, tive a oportunidade de conhecer o trabalho feito por lá. E que diferença! Transmissões extensivas desde os treinos de sexta, debates e programas especiais durante a semana. Informação à vontade para quem quiser consumir (e acho que todos nós aqui queremos).

Entre os locutores e comentaristas, há os picaretas, claro. O austríaco Heinz Prüller, há mais de 30 anos cobrindo a categoria ao vivo, confunde até hoje pilotos e equipes, confundindo o espectador menos informado com sua própria confusão. Mas tem como lado o positivo de ser a fonte mais quente das novidades propostas por Bernie Ecclestone, já que é amigo intímo do inglês desde o tempo em que ambos trabalhavam no gerenciamento da carreira de Jochen Rindt.

Niki Lauda é outro que irrita. Observações pra lá de óbvias e um eterno ar superior marcam os seus comentários. Mas consegue de vez em quando arrancar boas novidades em entrevistas graças ao seu bom relacionamento com os personagens do jogo.

Mas se existisse um prêmio ao melhor profissional de mídia na Fórmula 1, há um nome que é uma barbada: o do suíço Marc Surer. Sim, aquele piloto que cumpriu algumas temporadas sem brilho no início dos anos 80. Trabalhando para a Premiere, o canal de tevê digital que oferece seis opções de câmera durante as corridas, Surer é sinônimo de competência.

Numa época em que toda a palavra vinda dos pilotos e das equipes está empacotada no interesse de seus parceiros comerciais, é um alívio ver a análise inteligente e isenta de alguém absolutamente atualizado sobre tudo o que ocorre dentro do Paddock. Este é o homem que fornece a visão mais realista da Fórmula 1 moderna. Pena que não é brasileiro…

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E Bernie Ecclestone escolheu seu sucessor! É o italiano Marco Piccinini, que foi chefe de equipe da Ferrari no passado. E como uma pessoa que sempre conseguiu tudo o que queria, o inglês não iria errar nessa. Como o inglês, Piccinini é um feroz e bem-sucedido homem de negócios, sendo parceiro da família real monegasca em diversos assuntos e com uma fortuna pessoal que nada fica a dever à de Ecclestone. Este é homem que vai reger o futuro da Fórmula 1.

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Somos mesmo uma fonte inesgotável de talento sobre quatro rodas? Mesmo após o fracasso recente de diversos brasileiros em se estabelecer na Fórmula 1 (Ricardo Zonta, Tarso Marques, Luciano Burti, Enrique Bernoldi e Antonio Pizzonia), temos bons nomes lutando para vencer o apertado funil de entrada na categoria.

Neste ano, tivemos João Paulo Oliveira como campeão da F-3 Alemã, Nelsinho Piquet como vice da F-3 Inglesa e Fábio Carbone, que ainda luta pelo vice da F-3 Européia. Ótimos resultados contra rivais de qualidade. Seria algum deles o homem?

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A coluna do Tite sobre o comportamento dos pilotos brasileiros (e também dos europeus) é um dos escritos mais perfeitos sobre este delicado assunto. Pouco adianta investir na parte técnica e competitiva da formação de um piloto se o lado humano fica esquecido. Antes de respirar corridas, é preciso respirar o mundo. Pena que poucos pais e empresários atentem à este detalhe tão importante para o futuro sucesso de seus protegidos.

Um grande abraço e até a festa do alemão no Japão

Luis Fernando Ramos

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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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