EXTORSÃO E PRETENSÃO

Prost, Mansell e eu em Le Mans
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Ganhando na estréia
12/12/2001

Edu,

Pagar US$ 90 (mais de R$ 200) por uma camisa pólo apenas porque ela tem um embleminha de uma equipe de F 1? Concordo com você: estou fora. Já fazemos muito dando audiência e leitura para esses caras. Outra coisa: US$ 60 por um guarda-chuva do Jenson Button? Francamente…

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Já que falamos no Jenson Button, dá para perceber que o rapaz é “ligeiramente” pretensioso. No ano passado, logo após assinar com a Williams, o ele tomou uma providência importantíssima: foi correndo comprar uma Ferrari… Ficou tão mal junto à BMW (fornecedora de motores da Williams) que Frank pediu-lhe que se livrasse da “macchina” recém-adquirida. Detalhe: o salário anual de Button na Williams era de US$ 300 mil – menos do que o preço de determinados modelos Ferrari à venda no mercado.

Este ano, fiquei sabendo que ele já comprou um iate e fez festa de inauguração. Comprar iate é coisa que, há menos de 20 anos, só um piloto vitorioso na F 1 poderia se dar ao luxo de fazer. Realmente, ser piloto de F 1 é muito mais rentável hoje do que há alguns anos…

Agora, fico sabendo que Button lançou sua biografia. Parece muito cedo para isso, considerando que o inglês tem somente quatro temporadas no automobilismo e que seus melhores resultados em dois anos de F 1 foram um quarto lugar, cinco quintos e um sexto.

O livro de Button só vai fazer sucesso em duas hipóteses: sendo uma análise profunda e inteligente sobre o automobilismo em geral ou contando histórias realmente boas de sua curta carreira. Fora isso, a chance de ser um amontado de baboseiras é muito grande.

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A respeito de livros, lembro-me que, desde uns 12 anos de idade, eu via nas revistas antigas que tinha em casa um anúncio do livro “É proibido morrer”, de Jean-Pierre Beltoise. Só que a obra já estava fora de catálogo e eu nunca o encontrei nas minhas muitas visitas em sebos e bibliotecas.

Beltoise foi um dos melhores de sua época e certamente tem muitas histórias para contar. Seu feito mais notável foi vencer o GP de Mônaco de 1972 sob forte chuva. Mas ele também ficou conhecido por causar um acidente famoso nos 1000 Km de Buenos Aires, em 1971. Beltoise ficou sem gasolina na parte final do circuito e resolveu empurrar seu Matra para chegar aos boxes. Para ganhar tempo, cruzou a pista duas vezes, empurrando o carro. O italiano Ignazio Giunti, da Ferrari, não teve tempo de desviar e acertou em cheio a Matra de Beltoise. A Ferrari pegou fogo e Giunti morreu. Beltoise sequer foi atingido: uma foto mostra o francês correndo, fugindo do acidente.

Por tudo isso, “É proibido morrer” virou quase um tabu, uma lenda para mim – ainda mais porque a capa mostrava Beltoise justamente na corrida em que Giunti morreu. Quase 20 anos depois, consegui finalmente ler o livro – e tive uma decepção: ele foi escrito em 1969 ou 1970, e portanto sequer menciona os fatos de Buenos Aires e Mônaco. O depoimento humano é comovente, mas o texto é repleto de frases como “a velocidade é como o doce cavalgar na relva macia…”. Poderia ter um terço do número de páginas, sem prejuízo para o conteúdo.

Bom final de semana,

Panda

GPTotal
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A nossa versão automobílistica do famoso "Carta ao Leitor"

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