Ganhando na estréia

EXTORSÃO E PRETENSÃO
12/12/2001
Números
12/12/2001

Panda

Quer saber um feito que nem Fangio, Clark, Senna ou Schumacher foram capazes?

Vencer um Grande Prêmio logo na estréia.

Isto, meu amigo, só foi conseguido uma única vez em 52 anos e quase 700 GP – se você relevar que a primeira corrida da categoria, o GP da Inglaterra de 50, teve um vencedor compulsório, no caso, Nino Farina).

E quem foi o artista capaz de tal feito? Pergunte para dez conhecedores de Fórmula 1 e nove não saberão responder. Trata-se do italiano Giancarlo Baghetti. Depois de participar – e vencer – duas corridas não oficiais de Fórmula 1, ele foi inscrito por uma equipe semi-oficial da Ferrari no GP da França de 61 e jantou todo mundo, inclusive os três Ferrari oficiais.

Baghetti classificou-se em 7º nos treinos, largou bem e esperou que os carros à sua frente fossem quebrando. Nas voltas finais, passou Dan Gurney, que pilotava um Porsche (sim, já existiram Porsche de Fórmula 1) e acabou batendo o piloto americano por um décimo de segundo.

Depois disso, Baghetti fez muito pouco na Fórmula 1 – daí o desconhecimento em torno do seu nome. Correu mais vinte corridas, conseguindo apenas um 4º e um 5º lugares e uma volta mais rápida (no GP da Itália de 61, também de Ferrari). Baghetti morreu em 95, aos 61 anos de idade.

A glória de Baghetti resistiu até agora e é muito louco imaginar que a Fórmula 1 atual permita a um piloto vencer sua corrida de estréia. Mas quase aconteceu. No GP da Austrália de 96, Jacques Villeneuve estreou na Fórmula 1 e deixou o mundo de boca aberta, disparando na frente com seu Williams, que teve problemas mecânicos três ou quatro voltas antes do final. Mesmo assim, Jacques terminou a corrida em segundo lugar. No que a minha memória permite, creio que foi a maior ameaça até hoje ao feito de Baghetti.

Raríssima também é a conquista da pole position na corrida de estréia. Aqui temos (sempre descontado o GP da Inglaterra de 50) as façanhas de Mario Andretti, pilotando um Lotus no GP dos Estados Unidos de 68, e Carlos Reutemann, pilotando um Brabham no GP da Argentina de 72, corrida que, por sinal, assisti. Como não vou com a cara do argentino, prefiro endossar o coro daqueles que acham que o carro de Lole estava meio doidão nos treinos.

Já pontuar na estréia não é grande coisa. Mais de 50 pilotos conseguiram tal feito, entre eles campeões como Alberto Ascari (campeão em 52 e 53), Mike Hawthorn (58), Jim Clark (63 e 65), Jackie Stewart (69, 71 e 73) e Alain Prost (85, 86, 89 e 93). Os piloto brasileiros nunca conseguiram isso. Quem sabe, Felipe Massa…

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Ao Ralf Schumacher, gostaria de lembrar a frase que imortalizou Ofélia – a do Fernandinho, não a do Hamlet: só abrir a boca quando tiver certeza, certeza de não falar besteira.

O alemãozinho anda dizendo que está com problemas de visão e que isso pode ter afetado seu rendimento em algumas corridas no ano passado. Ele estaria pensando em correr de óculos mas não sabe se se adaptará.

Pode ser até verdade mas é o tipo de declaração que só depõem contra o depoente. Ou será que Ralf pensa que alguém vai atribuir à falta de óculos o banho que ele tomou do Montoya na segunda metade do campeonato de 2001?

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Enquanto isso, Patrick Head, diretor técnico da Williams, uma das raposas mais espertas da Fórmula 1 e um homem que visivelmente gosta de espicaçar os seus pilotos, joga mais lenha na fogueira, deixando escapar para a imprensa que Ralf não se aplica o suficiente nos testes do carro e que tem pouca paciência em dialogar com os engenheiros da equipe.

Agora imagina se o Frank Williams leva a sério a sugestão de Ralf de indicar um primeiro piloto em 2002. Quem será que Frank e Patrick prefeririam?

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Pilotos e equipes da Fórmula 1 deviam ter um pouco mais de vergonha e não sair licenciando seus nomes e marcas do jeito que fazem atualmente.

Certamente lembrando da frase “um tolo e seu dinheiro não ficam juntos muito tempo”, o merchandising oficial da Fórmula 1 bota pra quebrar, oferecendo itens como capas para telefone celular ao preço de uns US$ 45, almofadas a US$ 15, par de copos a US$ 10 e camisas pólo a extorsivos US$ 90.

As ofertas podem ser conferidas no site www.grandprixlegends.com mas não digam que não avisei antes: tremendo de frio em Interlagos no GP de uns dois anos atrás, comprei uma pólo de manga comprida estampada com o glorioso cavalinho da Ferrari.

Este, porém, revelou-se totalmente avesso à aguá e a camisa se desfez em tiras depois de três ou quatro lavagens.

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

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