Panda
Boa corrida.
Teve uns dez carros andando juntos e tocando rodas durante algumas voltas, a boa ultrapassagem do Montoya sobre o Raikonenn – coisa de piloto macho, que não se conforma em esperar os pit-stops para ganhar uma posição -, um monte de gente passeando pelas áreas de escape, como se Hockenheim fosse estreita demais para a Fórmula 1, o frisson final com os problemas nas paradas de Rubinho e Ralf e até a estréia de uma pista nova em folha.
Não é pouco para um GP atual mas não achei muita graça, não. É como se tudo já estivesse resolvido antes da corrida, com mais uma demonstração da esmagadora superioridade técnica da Ferrari contra uma oposição que nada pode fazer contra ela.
Schumacher correu, como na Inglaterra, como se não precisasse exigir tudo do carro para vencer. A distância que ele abriu sobre a Williams no começo e no final da prova fazem tudo parecer fácil, facílimo, uma brincadeira em grande parte devida à força do Ferrari F2002 e da fraqueza do resto do grid.
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Mas mesmo com toda a superioridade da Ferrari, Rubinho foi apenas 4o, uma decepção grande para quem, como eu, o considerava forte candidato à vitória.
Depois de defender aqui no GPTotal que Rubinho havia quebrado a barreira da vitória, é bem chato vê-lo patinar nos problemas que tanto emperraram a sua carreira. Inglaterra, França e Alemanha, de formas diferentes, foram corridas decepcionantes para o brasileiro, apesar dos nove pontos conquistado. Um piloto que quebra a barreira da vitória não está sujeito – simplesmente não está – aos azares e problemas enfrentados por ele ao longo de julho. Mas não renego ainda o meu prognóstico. Vamos esperar mais um pouco e ver se o descanso de três semanas até a Hungria reapruma nosso valente garoto.
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Por falar em prognóstico equivocado meu, o leitor está no seu pleno direito de me cobrar a previsão de que, nesta altura do campeonato, a Williams estaria batendo de frente e provavelmente vencendo a Ferrari, obrigando Schumacher a catar pontos em busca do título, que deveria chegar bem mais para o final do ano.
Inicialmente imaginei que o equilíbrio Ferrari-Williams pudesse acontecer a partir de San Marino ou Espanha; depois, refiz meu cronograma para final de junho, começo de julho. Agora, temo que a virada anglo-colombiana-alemã fique para o ano que vem, na melhor das hipóteses.
O campeonato encontra-se na sua reta final. Resta pouco tempo para desenvolver os carros atuais (a rigor, apenas até a primeira semana de setembro, véspera do GP da Itália). Se eu fosse o Patrick Head ou o Ron Dennis, me conformaria em disputar o vice campeonato de pilotos com os meios atuais, já que o vice campeonato de construtores parece solidamente instalado nas mãos da Williams. E, você sabe, Head e Dennis são o tipo de pessoa que pensa que um vice campeão é apenas o primeiro entre os perdedores…
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E por que me enganei e as coisas tornaram-se tão fáceis paraSchumacher? Creio que os grandes responsáveis foram não Williams e McLaren mas as suas fornecedoras de motor, BMW e Mercedes, e a Michelin.
A Mercedes, depois de ter nadado de braçada até 2000 não se recuperou da proibição do uso de alumínio-berílio nos motores. Problemas internos na Ilmor, fabricante do motor Mercedes, provocadas em parte pela morte de um dos sócios da empresa num acidente de avião, também são considerados decisivos para a perda da força dos motores alemães.
Enquanto isso, a BMW parece ter simplesmente escolhido o caminho errado para desenvolver um motor que parecia tão promissor no final do ano passado e começo deste ano.
Já a Michelin falhou em produzir uma combinação ganhadora além de ter sacrificado o acerto dos carros da McLaren, que não foram construídos para tirar proveito de todo o potencial dos pneus franceses.
É claro que há também a mão inspirada dos projetistas italianos, que construíram um super carro para um super Schumacher. Mas não tenho dúvidas que as coisas correram tão meigas para o alemão mais por responsabilidade – ou a falta dela – dos seus oponentes.
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Algumas observações rápidas para terminar, que a macarronada já está pronta:
– Felipe Massa, desculpe falar, não está com esta bola toda e não é por nada que não tenha sido confirmado ainda pela Sauber para o ano que vem.
– Galvão, depois de “conquistar” o penta no Japão, voltou insuportável. E quem fala isso é alguém que até que gostava dele.
– Falta muito para o Raikonenn aspirar ao posto de Gilles Villeneuve dos tempos modernos. Mas pelo menos ele chegou com o carro inteiro aos boxes depois de percorrer meia pista com o pneu furado. Na mítica corrida de Zandvoort – desculpe Panda e Tales, mas não lembro o ano de cabeça – Gilles fez o mesmo, mas os mecânicos tiveram de catar os restos do carro com uma pá.
– O que Eddie Irvine está esperando para se aposentar? Aliás, a Jaguar poderia aproveitar a deixa e sair de fininho.
– Depois do brilhareco na Inglaterra, a Bar voltou à mediocridade habitual.
– Quem vai sumindo aos poucos das primeiras colocações é a Renault. E a Toyota, depois de dois pontinhos no começo do campeonato, não fez mais nada. Equipe pequena e sem recursos é assim mesmo…
– Que fim levou a roupa refrigerada a ar dos mecânicos da McLaren e que deve ter custado – só as roupas – mais ou menos o orçamento da Minardi para 2002?
– A Ferrari estreou na Alemanha, com sucesso, um aspirador de pó para radiadores. A Fórmula 1 não cansa de nos surpreender.
Boa semana para todos
Eduardo Correa