GP do Japão

SCHUMI OU KIMI? ROSSI OU GIBERNAU?
10/10/2003
QUEM RI POR ÚLTIMO RI MELHOR
15/10/2003

E assim, da maneira mais besta, foi decidido o Mundial de Pilotos 2003.

Toda e qualquer possibilidade de luta direta pelo título entre Schumacher e Kimi soçobrou diante deste regulamento de m., como você tanto insistiu, e que não deixou que os dois lutassem por melhores posições no grid e partissem para a corrida em posições minimamente decentes.

Graças à mediocridade a que foi condenado o treino de uma volta só, foi o que se viu: o campeonato praticamente liquidado no meio da tarde de sábado, quando a chuva veio interferir nas condições da pista.

///

Se o fator determinante para o campeonato do ano passado foi a incapacidade dos adversários em acompanhar o Ferrari F2002, qual teria sido o fator determinante para o campeonato recém encerrado?

Para mim, a diferença deve ser toda creditada na conta de Michael Schumacher.

Foi ele quem segurou a barra no momento em que seu F2003 GA o deixou na mão, seja por problemas de chassi, seja pela imprevisibilidade dos pneus Bridgestone. Foi ele quem, em pelo menos duas corridas, Canadá e Monza, conseguiu superar todas as limitações do carro/pneus e bater adversários muito mais bem equipados. Foi ele (e só ele pois até Jean Todt perdeu a cabeça) quem, no momento de crise mais aguda, foi buscar a bola dentro do gol, reorganizou o time e partiu para o ataque, sem perder a calma.

Este sexto título, este momento histórico que tivemos o privilégio de assistir (e que comparativamente pouca gente tem dado importância, como se se encontrasse seis título mundiais em qualquer esquina), foi talvez o maior momento da carreira do alemão, o momento em que ele combinou todo o seu extraordinário talento para ser rápido em treinos e corridas, a sua liderança nos boxes e a sua capacidade de se manter motivado, a despeito de tantas vitórias e tanto dinheiro ganhos.

///

Mas Schumacher recebeu alguma ajuda dos seus adversários.

Da Williams, veio uma certa demora em acertar o carro e depois as falhas de Montoya em momentos importantes. Para mim, o colombiano foi a decepção do campeonato apesar de alguns momentos brilhantes. Como disse semanas atrás, ele tem de comer mais farinha para chegar lá.

Já da McLaren, Schumacher ganhou o incrível embrulho técnico em que a equipe se meteu com o tal carro novo. Fosse ele o que prometia ter sido, mesmo estreando no meio da temporada, e Kimi poderia ter discutido o título com mais munição. É inaceitável que uma equipe técnica como a da McLaren se meta numa confusão deste tamanho. Talvez Adrian Newey, o projetista chefe da equipe, precise de um chefe, como tinha nos tempos da Williams.

///

E nosso garoto Rubinho? O que dizer dele?

Primeiro, que ele fez uma bela corrida hoje, consistente e sem erros tendo, inclusive, largado bem. E depois lembrar com uma ponta de tristeza que ele foi apenas 4º no campeonato, após de ter sido vice-campeão em 2002.

Considerando que Schumacher repetiu a colocação do ano passado, só posso concluir que Rubinho ou piorou seu desempenho ou não foi capaz de combater adversários melhor calçados.

Para quem, como eu, previu que Rubinho havia quebrado a barreira da vitória depois das suas belíssimas corridas na Aústria e Nurburgring em 2002, o campeonato deste ano foi uma decepção mesmo com as grandes corridas de Suzuka e Silverstone.

///

Sinceramente não sei xingo ou se elogio Ralf Schumacher pela corrida de hoje. Óbvio que ele errou feio nos treinos e na primeira rodada mas, que diabo! Ele pisou fundo e recuperou o tempo perdido só para se atrapalhar de novo e de novo.

É verdade que não conseguiu passar o irmão mais velho – aliás, esta história de Michael fechar Ralf uma hora acaba mal – mas foi valente, foi ousado, foi humano no comendo de 920 cavalos.

Continua sendo para mim um grande mistério a queda de rendimento de Ralf depois do GP da França. Mesmo assim, o considero no momento superior a Montoya.

///

Cristiano da Matta teve outro grande dia, largando em 3º e terminando em 7º, não dando oportunidade nem para Kimi (assim como aconteceu na Inglaterra) nem para Schumacher ultrapassá-lo. Da Matta se revela um osso duro de roer quando está na frente e começa a valer a pena sonhar com o que ele faria se tivesse nas mãos um carro mais rápido.

Mas Cristiano ficou devendo mais velocidade nos treinos. Nas 16 provas do ano, ele só bateu Panis em três. E a desculpa de que não conhecia as pistas serve apenas como consolo. De um campeão, se espera feitos extraordinários.

///

Será que só eu vi fumaça saindo do Williams de Montoya na volta de apresentação e nas voltas iniciais da corrida?

///

O campeonato recém-encerrado passa para a história como aquele que revelou em definitivo para a categoria dois pilotos que poderão vencer títulos nos próximos anos: Fernando Alonso e Mark Webber.

Alonso soube tirar proveito do bom pacote técnico que lhe foi oferecido pelo Renault, pulverizando seu companheiro de equipe, notório cheque sem fundo do automobilismo italiano. Já Webber fez milagres com o precaríssimo Jaguar. Para mim, foi a grande surpresa do campeonato.

Alonso e Webber ainda têm de ser colocados à prova em situações de disputa de campeonato, provando que podem ser rápidos em todas as corridas e não apenas naquelas onde se adaptam melhor.

Será bem interessante ver, desta nova geração de pilotos – me refiro a Kimi, Montoya, Ralf, Alonso e Webber – quem será dará melhor na era pós-Schumacher.

///

A partir de 4ª-feira, vamos abrir aqui no GPTotal espaço para os leitores votarem nos melhores e piores de 2003. Afiem a língua e mandem brasa.

Eduardo Correa

Eduardo Correa
Eduardo Correa
Jornalista, autor do livro "Fórmula 1, Pela Glória e Pela Pátria", acompanha a categoria desde 1968

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *