E lá vem Rubinho de novo: a um jornal alemão, ele diz que é tão rápido quanto Michael Schumacher.
Não é não. Basta comparar os dados de telemetria de uma volta dele e Schumacher. Onde consegui isso? Na edição de setembro de 2003 da revista F1 Racing.
Lá é possível ver uma comparação direta entre ambos no uso do acelerador, freio e câmbio e a velocidade em que percorrem trechos idênticos de Silverstone, Montreal e Suzuka.
O alemão dá um banho, mesmo com o controle de tração ajudando Rubinho. De uma forma geral, Schumacher freia mais tarde – na tomada da Curva 1, em Suzuka, ele o faz 15 metros depois de Rubinho -, reduz as marchas depois e as passa para cima antes, mantendo o equilíbrio do carro por meio da pressão simultânea de acelerador e freio, coisa que lhe é possível pelo uso do pé esquerdo, o que Rubinho não faz ou não fazia até este ano.
O resultado é uma expressiva vantagem para Schumacher na entrada das curvas já que, na saída, o controle de tração nivela a capacidade dos pilotos em dosar a aceleração. Em Suzuka, por exemplo, o alemão entra na Curva 1 25 km/h acima da velocidade de Rubinho, ganhando só neste trecho 0,3 segundo no tempo de volta.
Cultores de teorias conspiratórias podem argumentar que a Ferrari (só ela pode ter cedido os dados à revista) escolheu voltas e circunstâncias para destacar as qualidades de Schumacher e ferrar com Rubinho. Confesso mesmo que cheguei a pensar nesta hipótese aos ver os dados na revista.
Bobagem: pensem nas mais de oitenta corridas que os dois fizeram juntos e vejam quantas vezes Schumacher foi mais rápido do que o Rubinho.
Acho que é o bastante. Nem toda conspiração da história explicaria tamanha supremacia.
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Estive presente a todas as vitórias brasileiras em Interlagos: Emerson 73 e 74, Moco 75, Senna 91 e 93. Difícil dizer de qual gostei mais. 73 foi fácil, 74 também, mas nem tanto, 91 foi sofrida ao extremo, 93 um espetáculo duplo – a vitória de Senna e o naufrágio de Prost. 75 misturou um pouco de tudo.
O campeonato daquele ano começou na Argentina com a vitória de Emerson mas a grande surpresa foi o temporal nos treinos da equipe Shadow. Fundada em 73, não havia feito grandes coisas até então. E de repente, com um carro de desenho bem provocador, ela domina os treinos na Argentina, com Jean Pierre Jarier marcando a pole. Mas ele não consegue largar. A transmissão quebra na volta de apresentação.
No Brasil, Jarier assinala a pole de novo, 0,8 segundo à frente de Emerson. Dia quente em Interlagos, arquibancadas lotadas, vemos Carlos Reutemann arrancar na frente e liderar a corrida por quatro voltas, quando cede a liderança a Jarier que começa abrir vantagem sobre os demais. Desde a volta 14, o segundo colocado era José Carlos Pace, o Moco, pilotando um Brabham quase inteiramente branco. Emerson, apesar de ter marcado 2o tempo nos treinos, largara mal caindo para a 7a posição. Ele vai ganhando posições penosamente até chegar ao 3o lugar na volta n. 29, de um total de 40.
Nesta altura, Jarier liderava Moco por meio minuto. Vitória do Brasil, portanto, só com uma quebra do Shadow. Éramos muito a contar com esta hipótese e, talvez, a força do nosso pensamento ajudou a precipitá-la.
Eu acompanhava a corrida com um binóculo desde a arquibancada na reta de largada. “Peguei” Jarier na volta 32 contornando a Curva da Ferradura, o acompanhei na Subida do Lago e Reta Oposta até perde-lo na entrada da Curva do Sol, um dos poucos pontos cego de onde eu estava. Cravei o foco na saída do Sargento esperando por ele. Os segundos passam e nada. A arquibancada em completo silêncio e, de repente, a explosão: Moco surge na curva e nada de Jarier. Um problema na bomba de gasolina emudeceu o seu motor Ford Cosworth.
Restando sete voltas para o final, tínhamos Moco em 1o e Emerson em 2o, uns dez segundos atrás. Nas voltas seguintes, Emerson reduz um pouco esta diferença mas não chega a ameaçar a liderança de Moco.
Ao chegar aos boxes, depois da bandeirada, ele é recebido por uma massa de torcedores que praticamente o arrancam do carro e o levam até o acanhado pódio, na verdade uma construção tosca de tijolos sobre o muro dos boxes.
Acompanhado pela mulher e por Emerson, Moco não esconde a emoção mas não consegue verbaliza-la. Perguntando sobre se vencer seu primeiro (e único) GP no Brasil, diante da sua torcida e batendo Emerson Fittipaldi fazia daquele um dia especial para ele, Moco só foi capaz de responder: “sim, você está certo”.
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Estarei em Interlagos no sábado e domingo e depois volto para a base para comentar a corrida aqui no GPTotal.
Até lá
Eduardo Correa |