Dos primeiros dias de testes de pré-temporada que se transformaram, durante oito meses, em dois títulos incontestáveis para a rapaziada de Milton Keynes, chegamos à última corrida da temporada. A aventura deste ano começou em meio ao sol fraco da primavera européia, com os testes sendo realizados longe de olhares indiscretos, em circuitos esquecidos da Espanha. Para contrastar com esse cenário, a temporada vai acabar em uma das cidades mais extraordinárias do mundo, São Paulo. Um lugar de contrastes, onde para nós, fãs da velocidade, só interessa o lendário Autódromo José Carlos Pace.
A última corrida do ano no Brasil traz um emaranhando de emoções. Por um lado, teremos momentos tristes por suportar alguns finais de semana sem ver os carros em disputa nas pistas, as conversas sobre o tema se esvaziarão, sobrarão somente boatos, em um clima de tradicional final de feira. Por outro lado, o sorriso volta ao rosto de cada admirador do esporte de ver os seus carros prediletos em uma pista clássica.
O circo da F1 chega ao Brasil para visitar um Interlagos reduzido, mutilado, descaracterizado, mas ainda assim, único. Um dos locais mais populares do calendário, em grande parte devido aos padrões climáticos imprevisíveis e uma história extraordinária. Tivemos de tudo em Interlagos, títulos decididos, as vitórias históricas e suadas, momentos vibrantes, as grandes decepções de vitórias que ficaram pelo caminho. Quase todos os sites de F1 hoje têm uma coletânea desses momentos e, aqui no GPTotal, passamos essa tarefa para o nosso Facebook, que você acessa aqui (Http://j.mp/GPTotal). Nesses anos todos Interlagos marcou a história da F1 não só na visão dos brasileiros. Há como negar que o título disputado entre Massa e Hamilton até, literalmente, a última curva da última volta, não é um dos momentos mais marcantes da história da F1?
Logicamente, para nós existem fatores emocionais maiores, como a vitória épica de Senna com uma marcha só, a vitória de Massa e uma Ferrari e as tantas vezes que torcemos pelo sucesso de Barrichello, sempre traído no quintal de sua casa. Interlagos é o sonho do menino brasileiro quando falamos de velocidade, por causa de um Senna, um Barrichello, ou de um pai que conta as histórias de Emerson.
O circuito fez sua estreia na F1 em 1972 em uma corrida extra oficial. Era um teste para avaliar as condições da pista, do país e a aceitação do público. Foi um sucesso! Em 1973, Emerson e a trupe da F1 desembarcavam no país para a primeira prova brasileira válida pelo campeonato mundial .
httpv://www.youtube.com/watch?v=1ZfG4vCtgkc
A prova aconteceu no primeiro traçado de Interlagos (que permaneceu inalterado até 1979), o famoso circuito de 7,960 metros, de asfalto irregular, variações de altitude e alta velocidade. Emerson levou 2m35s000 para completar sua passagem mais rápida na pista e contou com mais 3 brasileiros no grid: José Carlos Pace e Luiz Pereira Bueno (falecido no começo desse ano), pilotando uma Surtees-Ford, e Wilson Fittipaldi Jr com uma Brabham-Ford nas mãos.
O grande embaixador do automobilismo brasileiro mundo a fora, carimbou a estreia da prova no Brasil: no dia 11 de Fevereiro de 1973, Emerson Fittipaldi, o campeão mundial defendendo seu título, venceu a primeira prova oficial da F1 em solo canarinho com seu belo Lotus 72 preto e dourado sobre o azul do mítico Tyrrell de Jackie Stewart. Um prova histórica para o Brasil que nos colocava definitivamente na rota da F1.
De 1973 até 1980 a Formula 1 ficou em São Paulo (exceção feita a 1978 com a prova feita em Jacarepaguá). Depois de passar alguns anos no Rio (1981 a 1989), a F1 volta a São Paulo, em um circuito de Interlagos reformulado. Careta. Comportado.
Esse é o circuito que encontraremos no final de semana. Logo após da largada, freada forte e ponto de ultrapassagem no S do Senna, que nos leva para a curva do Sol e Reta Oposta. Sem artificialidades móveis, pneus “esfarelantes” e afins, mais uma freada forte e outro natural ponto de ultrapassagem na Descida do Lago. Frio na barriga, hora de passar pela Ferradura (mutilada) e encarar a famosa curva do Laranja e seu ponto cego de tangência. Mais uma forte freada e encontramos o sinuoso “miolo”, passando por Pinheirinho e Bico de Pato até chegar ao Mergulho rumo a Junção, ultima chance para alinhar o carro e tracionar em uma forte subida para um dos maiores trechos de aceleração plena do calendário. No domingo serão 71 voltas pelos 4.309 km da pista, em busca do recorde de 1:11.473 estabelecido por Montoya no longínquo 2004. A zona de DRS será na Reta Oposta para a corrida de domingo, será que com a ajuda da asa móvel esse tempo será batido?
Tilke deve morrer de catapora toda vez que pensa que desenharam uma pista como Interlagos aproveitando as particularidades naturais do terreno e sem ter chamado seu mágico escritório. Nada artificial, naturalmente desafiador e adorado pelos pilotos.
Só mais uma questão para o debate do GPTotal iniciado por Eduardo Correa e Lucas Giavoni (Leia aqui e aqui)
O que esperar da última corrida de 2011 em um campeonato já decidido há tempos? Muita diversão, claro! Além de um clima de despedida.
Diversão porque todos querem ganhar a última corrida e voltar com um caneco pra casa. Fechar o ano em alta e participar de uma grande festa comemorativa sem se preocupar com viagem, deslocamentos, logística e a corrida seguinte, parece ser bastante estimulante para todos. Além disso, os engenheiros já partiram para testes de soluções dos carros de 2012, tirando bastante pressão por resultados. Se qualquer coisa der errado e seu desempenho não for bom, culpe os testes das novas peças. Vettel tenta mais um recorde aqui e aumentar uma ou outra estatística, Button, Alonso e Webber, vão disputar as migalhas do vice-campeonato, Massa tentará mostrar que ainda pode render alguma coisa, visando 2012 e Hamilton, bom, se chegar ao final sem bater em ninguém, vai tentar manter a alegria da última vitória para também vir forte em 2012.
A turma do meio pro fim do pelotão briga por pontos importantes para os patrocínios e contratos. Esforços máximos para uma boa apresentação que possa ser lembrada na renovação de um acordo com equipe.
Existe também nesse final de semana um clima de incertezas e nostalgia.
Rubens Barrichello. O homem mais experiente da história da Fórmula 1 vai no domingo iniciar o seu 326o GP, duas temporadas completas a mais do que seu concorrente mais próximo – Schumacher. Mas dos dois ex-companheiros de equipe Ferrari, Barrichello é quem está em perigo iminente de abandonar o esporte. Os rumores de que Williams está procurando colocar Kimi Raikkonen em um FW34 não se dissipam, e com poucas outras opções em aberto, a especulação que persiste é que Barrichello está a apenas 71 voltas da aposentadoria. Ele insiste que não é o caso – e uma vez que ele tem ritmo, gana e é um cara realmente legal. Você espera que não, também, lá no fundo. Mas há uma dúvida enorme. Talvez seja o destino que sua carreira deva terminar na cidade onde ele foi criado, correu de karts e ainda vive hoje – um lugar onde a multidão fanática canta repetidamente “Rubinho”, pole após a pole em sua época áurea da Ferrari, ou em seu ressurgimento na Brawn GP. Uma pena que a forma atual do Williams-Cosworth desenhe um cenário onde um final feliz parece improvável.
Particularmente não gostaria de ver Rubens fora da F1, mas por puro sentimentalismo. Apesar de não ter os títulos dos seus antecessores, Barrichello é o representante de uma geração inteira que só viu Senna, Piquet e Emerson em videotape. Já são quase vinte anos sem que “as vitórias de Senna nas manhãs de domingo” levassem os brasileiros pra frente da TV. Tem muita gente que nunca acordou para acompanhar Senna, mas sim o Rubinho. Não temos o “ok” para aposentadoria dele, durante o “off-season” vamos voltar o assunto e revisitar esses anos de F1 com Rubens ao volante.
Mais longe dos holofotes, toda uma série fatos sem tanta relevância como Rubens, se preparam para deixar o palco. O nome Team Lotus F1 vai partir de novo, assim como a marca Virgin do título de uma equipe, com o Sir Richard Branson reduzindo a imagem de sua empresa na roupa de uma russa e desconhecida Marrusia. Trulli também pode ser sacado da Lotus Verde. D´Ambrosio pode não aparecer mais na Virgin em 2012. E Liuzzi na HRT? Sem sinais de continuar e sem vagas em outros times. Na Lotus Renault, alguém vai sobrar. Bruno Senna ou Petrov devem dar lugar a um Groesjean super apoiado pela fábrica de motores franceses. Escolha de quem você vai se despedir no domingo.
Essa temporada chega ao fim com o primeiro ano de parceria completa com os ingleses do F1Lite. Durante todas as corridas e classificações acompanhamos as principais atividades nas pistas e reações dos pilotos. Essa parceria nos trouxe grandes aprendizados para 2012. Nosso agredecimento a todas as conversas e interações aqui, no twitter e facebook.
Abraços
Flaviz Guerra
7 Comments
RealmentePiquet fez um grande provocação. Das arquibancadas de onde vi a corrida o clima foi de descontração. Inclusive com corinthianos com boas gargalhadas. Fora isso, e ficando na F1, qual foi a emoção de vocês em ver esse carro no Interlagos novo?
Não podemos nos esquecer de que Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi, Bruno Senna e Rubens Barrichello são corinthianos. E estes últimos falaram do time nos treinos…
O Piquet sempre foi um gozador e como torcedor do Vasco deu uma pilhada nos cortnthianos presentes a Interlagos … uma brincadeira sadia e que tem nada a ver com os comentarios abaixo … brincadeiras que fazem falta neste mundo do poiliticamente correto da Formula 1 … eu sou flamenguista e aprovo o que Piquet fez …
Fernando Marques
Niterói RJ
Piquet,Chega! Vai ser mau educado assim na casa do cacete!VAZA !!!
Galera:Lamentável,os anos passam e tem gente que só piora, não dá mesmo.Se não bastasse seu mau humor e seu português sofrível,cheio de erros de concordância o Sr Nelson Piquet,teve a desfaçatez de ser extremamente indelicado com a torcida paulista,ao desfilar no seu Brabham exibindo a bandeira de seu time carioca,afrontando os que torcem pelo Corinthians e que o homenageavam.Apesar de eu ser Sãopaulino,lamento esse tipo de coisa.Piquet,faz um favor,fica na sua aí em Brasília,nem aparece mais em Sampa,chega.Vaza,Piquet!
Perfeito artigo. É isso aí. Exatamente.
Acho que o Rubens carregou a “sina” de ser o substituto do Senna, e isso pesou demais na sua carreira.
Se olharmos os desempenhos, o Barichello foi o único piloto brasileiro q
Gostaria de reproduzir um artigo que escrevi sobre a provável aposentadoria de Barrichello:
Rubens Barrichello disputará neste final de semana mais um GP Brasil de Fórmula 1. Que pode também ser o último. Rubinho porém não admite esta possibilidade. Com chances remotíssimas de permanecer na Williams, continua procurando um cockpit para 2012. Talvez consiga, nem que seja para fazer número no grid. Próximo de completar 40 anos, Rubinho poderia aproveitar a oportunidade e se despedir da F1 na frente de sua torcida. Seria uma grande festa e uma homenagem a um piloto eternamente contestado, mas que sempre teve seus admiradores. Analisando-se a longa carreira de Barrichello, talvez se encontrem explicações para essa divisão de opiniões. Multi-campeão no kart, campeão da F-Opel aos 18 anos e da F-3 inglesa aos 19, não foi surpresa que chegasse à Fórmula 1 com apenas 20 anos. Antes mesmo de sua estreia na categoria top do automobilismo já era saudado como a grande promessa do Brasil na F1. Após uma excelente apresentação no GP da Europa de 93 debaixo de muita chuva, quando chegou a estar em 2º lugar com a modesta Jordan, não faltou quem previsse que o garoto seria campeão mundial em breve (guardem esse nome, bradou Galvão Bueno na transmissão da corrida). As coisas, porém, não seguiram conforme o previsto. O acidente em Ímola, a morte de Senna, a pressão da torcida e da imprensa, a insistência em permanecer na Jordan quando tinha ofertas melhores, os erros em pista, tudo contribuiu para que os bons resultados se tornassem cada vez mais raros. Aos poucos “a promessa brasileira”, o “sucessor de Senna” foi se transformando no “pé-de-chinelo”, no “burrinho Barrichello”. A redenção poderia ter vindo com sua ida para a Ferrari. Mas aqueles que achavam que Rubinho, a bordo de um carro competitivo em que poderia mostrar aquele talento do início da carreira, finalmente deixaria de ser uma eterna promessa para se tornar um campeão, ficaram decepcionados. Em outros tempos as justificativas eram os carros medíocres. Mas, e na Ferrari? Em 6 temporadas pilotando os carros de Maranello, Barrichello venceu 9 GP’s. Schumacher, 72. Em número de poles, 58×11 para Schummy. Mesmo considerando as eventuais (e justificadas) regalias que o alemão tinha na equipe, a diferença de performance foi muito grande. O que teria acontecido? Não faltaram teorias conspiratórias, como a que dizia que seu contrato o impedia de vencer! Na verdade, depois de 2 ou 3 títulos seguidos de Schumacher, a Ferrari ficaria muito satisfeita se Rubinho ganhasse um campeonato. Isso mostraria que a equipe faz seus campeões e não o contrário. Afinal, para os tiffosi, o time sempre foi mais importante que os pilotos. Talvez a explicação seja mais simples: ganhando um excepcional salário, pilotando para uma equipe legendária e ainda tendo chances de “beliscar” algumas vitórias, Rubinho se acomodou e não ousou questionar seu papel de segundo piloto. Sem problemas. Ele não devia satisfações a ninguém. Exceto para milhares de brasileiros, fãs de F1, que achavam que um dia ele viraria a mesa. Estranhamente, tempos depois de sair da Ferrari, ele resolveu falar. E falou mal. Criticou seu ex-companheiro de equipe e a própria Ferrari, principalmente o chamado “jogo de equipe” que ele fazia tão bem. Parece que todos tiveram sua parcela de culpa por ele não ter sido campeão. Menos ele. Mas o destino ainda daria outra chance a Barrichello. E que chance! Em 2009, foi chamado por Ross Brawn, que adquirira o espólio da Honda, agora rebatizada de Brawn GP. Já nos primeiros testes o carro se mostrou rápido e confiável. Em 3 meses, Rubinho passou de aposentado a favorito ao título. Dispondo de uma excelente máquina, sem Schumacher para atrapalhar, mais experiente e tendo como companheiro de equipe a eterna promessa Jenson Button, tudo indicava que finalmente ele iria chegar lá. Mas não chegou. Button não lhe deu chance. Das 7 primeiras provas, venceu 6. E Barrichello perdeu a última oportunidade de se tornar o quarto brasileiro a ser campeão mundial. Pelo menos dessa vez ninguém tentou achar um “culpado”. Button venceu porque foi mais consistente a maior parte do tempo e mereceu o título. Mesmo assim, com todos os percalços, críticas e chacotas, Barrichello está na história da Fórmula 1. É o atual recordista de participações em corridas. E ninguém disputa 325 GP’s e se mantém por 19 anos na F1 se não tiver um mínimo de competência. Mesmo alguns críticos mais ferrenhos reconhecem nele algumas qualidades. Como o talento para pilotar na chuva. Ou a habilidade no acerto dos carros. Coisas que jornalistas estrangeiros sempre realçaram. Mas para a maioria da torcida brasileira, talvez prevaleça a imagem do piloto chorão, perdedor, azarado, capaz de levar a novata Stewart ao 2º lugar em Mônaco debaixo de um dilúvio em 1997 e incapaz de conseguir mais do que um 3º lugar em 18 GP’s do Brasil. No máximo um acomodado segundo piloto. Como Coulthard, Berger, Patrese. Às vésperas de completar seu GP de número 326, ele parece não ter perdido a vontade de pilotar um carro a 300km/h. Mas isto não é suficiente. Até alguns colegas de pista acham que chegou a hora de parar. E certamente a corrida de domingo seria a ocasião ideal para uma despedida. Uma maneira honrosa de deixar a F1. Antes que a F1 não o queira mais.