Em meio ao Carnaval e também em ritmo de Oscar, com a vitória de Melhor Filme Estrangeiro de ‘”Ainda estou aqui” do diretor Walter Salles, um ex-piloto dentro do automobilismo brasileiro, a Formula Indy e a MotoGP abriram suas temporadas com vitórias espanholas e dando claros sinais do que vem por aí em 2025.
A Indy passa por uma fase estranha. Por mais que tenha ótimos pilotos e um grid cheio, não se pode dizer que a categoria vive um ótimo momento. Quando Roger Penske comprou o Indianapolis Motor Speedway e o campeonato, parecia que a Indy viveria uma nova Era de ouro, mas o que se viu foi uma enorme pasmaceira. O chassi da Indy vai para o seu inacreditável décimo terceiro ano. A terceira montadora nunca chega e até se falou de uma saída da Honda, felizmente, até o momento, não passando de boato. Mesmo com muitas pistas tradicionais, a sensação é que a divulgação das corridas é muito abaixo do esperado, com exceção óbvia das 500 Milhas de Indianápolis, fazendo até lembrar os tempos da USAC na década de 1970, nos anos pré-CART.
Trabalhando para melhorar a divulgação da categoria, a Penske Enterteinement conseguiu um contrato de TV com a Fox, substituindo a NBSC, criando ótimos vídeos de divulgação com os principais pilotos da Indy e Newgarden até aparecendo no Superbowl. Após vários circuitos de rua mequetrefes no calendário, Dallas aparecerá com um circuito ao estilo que a F1 corre, o que só valoriza a Indy além da possível chegada do México, o que agradaria o piloto mais popular da categoria, Pato O’Ward. E claro, o que novo carro poderá finalmente sair em 2027.
Se fora das pistas a Indy busca evoluir, o plantel de pilotos não deixa a desejar. Alex Palou tentará o tetracampeonato pela Ganassi, um feito grandioso, mesmo que todos sabemos que uma vitória nas 500 Milhas de Indianápolis valha tanto ou mais que título da Indy. Se o espanhol vencer a Indy500 Palou escreverá de vez seu nome entre os gigantes da Indy. Scott Dixon já está nesse panteão, mas prestes a completar 45 anos, o neozelandês parece se aproximar cada vez mais do inevitável e a velha raposa Chip Ganassi sabe que Palou é sucessor digno e de longo prazo de Dixon.
A Penske permanecerá com o mesmo trio, após um 2024 muito difícil, recheado de polêmicas e somente salvo pela vitória de Newgarden em Indianápolis. O americano tentará o tri do campeonato e em Indy, o que o tornaria o único tricampeão seguido nas 500 Milhas. Scott McLaughlin vai se consolidando como um piloto de ponta e novamente foi terceiro colocado no campeonato, sendo o líder da Penske em 2024. Will Power irá para o seu décimo sexto ano na Penske, mas nunca esteve tão ameaçado. Após uma luta árdua, a Andretti finalmente conseguiu seu lugar na F1 e não esconde que levará para a Europa Colton Herta. Se o talentoso americano conseguir um bom ano na Indy, seu passaporte estará visado para a F1. A McLaren se consolida cada vez mais como uma das grandes na Indy e agora tendo Tony Kanaan como chefe de equipe, tentará levar o título, capitaneado por Pato O’Ward, que até testou na F1 nos últimos meses.
Palco já tradicional de abertura do campeonato, St Petersburg viu Alex Palou confirmar que será um seríssimo candidato ao título. O espanhol nunca havia vencido na pista citadina da Flórida e havia feito corridas medianas por lá, mas se valendo de uma estratégia certeira, Palou triunfou em St Pete, seguido por Dixon e Newgarden, indicando uma nova briga Ganassi vs Penske em 2025.
A estratégia se baseou nos pneus macios, com nítidos problemas de durabilidade. Logo na primeira volta Will Power tocou na traseira de Nolan Siegel, com ambos batendo forte e ainda envolvendo Louis Foster. Péssimo início para Power. Com uma bandeira amarela logo de cara, quem largou com pneus macios correu para os pits colocar pneus duros e fazer toda a corrida com esse composto. O líder desses pilotos fora Colton Herta, mas o americano da Andretti sofreu com vários antigos problemas que sua equipe tem em pit-stops, saindo da contenda pela vitória. A equipe Andretti precisa aprender que, se a Indy não aceita desaforos estratégicos, na F1 o buraco é ainda mais embaixo.
A dupla da Ganassi, liderada por Dixon, e Newgarden se tornaram os líderes dessa tática. O pole position Scott McLaughlin começou a corrida num ritmo forte, liderando boa parte da corrida usando os pneus duros, seguido pela dupla surpreendente dupla da Meyer&Shank. Não houve mais bandeiras amarelas e como os líderes largaram com pneus duros, teriam que usar pneus macios em algum momento e por isso, teriam que fazer uma parada a mais. McLaughlin fez de tudo para se manter na ponta, mas parando uma vez mais, o neozelandês da Penske teve que se conformar com uma quarta colocação. Dixon era o líder da turma que parou cedo, mas o neozelandês admitiu um problema com o rádio, o privando de contato com a equipe. Scott baseava suas paradas olhando o marcador de combustível, como nós, meros motoristas, fazemos antes de reabastecer o carro. No entanto, numa corrida competitiva, isso foi decisivo para Palou efetuar um undercut e emergir na frente de Dixon, não diminuindo o feito do piloto da Ganassi. Dixon perdeu também a segunda posição para Newgarden, mas na última volta tomou de volta o posto, com Newgarden sofrendo com um problema de reabastecimento que o deixou sem combustível.
A MotoGP viu uma ciranda de pilotos para 2025, principalmente com a polêmica escolha da Ducati em Marc Márquez. Isso significou a saída de Jorge Martin do guarda-chuva da marca italiana, levando o número um de campeão para a Aprilia. Infelizmente, uma série de azares fez com que Martin sobresse dois acidentes, um na pré-temporada e outro num teste enquanto se recuperava, deixando o campeão de 2024 de fora da abertura do campeonato e sem previsão de retorno.
Um duro golpe para o espanhol, que era um dos pontos de atenção de 2025. Após levar dois ‘nãos’ da Ducati oficial, Martin se mandou para a Aprilia e era esperado se Jorge faria com que a moto italiana fosse mais confiável e capaz de deter a superioridade da Ducati. Porém, o que mais chama atenção dentro da Ducati será a dupla da equipe de fábrica. O ‘não’ para Martin tem nome e sobrenome: Marc Márquez. A aposta do multi-campeão em sair da equipe de fábrica da Honda para a Gresini, menor time da Ducati, funcionou muito bem e Márquez não apenas voltou às vitórias em 2024, como se garantiu na equipe oficial da marca italiana em 2025. Bagnaia se manterá na equipe e o bicampeonato de Pecco não será esquecido pela cúpula da Ducati, mas ter um piloto Márquez ao seu lado será o maior desafio da carreira do italiano. Bagnaia terá que lutar para manter seu feudo, enquanto sua associação com Valentino Rossi, amargo rival de Márquez, dá uma pitada a mais nessa disputa que poderá ser a melhor história de 2025.
A pré-temporada da Yamaha foi positiva para a Yamaha e Fabio Quartararo poderá ser o rival dos pilotos da Ducati com todo o seu talento. A Honda também evoluiu bem, mas poderá sentir a falta de um piloto extraclasse. Com o acidente de Martin, todo o desenvolvimento da Aprilia caiu nas mãos de Marco Bezzecchi, que fez um trabalho decente e poderá ajudar a Aprilia, que viu Martin andar pouquíssimos quilômetros antes de iniciar a temporada. Outro fator nessas férias da MotoGP foi a situação da KTM. Tradicional nas provas off-road e em crescimento na MotoGP, a marca austríaca se viu em sérios apuros por causa de sua situação financeira, que se mostrou caótica após o fim da temporada 2024. Dívidas bilionárias e o risco real de falência acendeu o sinal vermelho em todo o Mundial de Motovelocidade, já que a KTM mantém equipes também na Moto2 e Moto3. A KTM se manteve na ativa, mas todos estão de olho nos austríacos e como eles irão desenvolver suas motos, ainda mais com ótimos pilotos na MotoGP, incluindo Pedro Acosta, o novo fenômeno espanhol.
Os temores de Bagnaia se confirmaram em Chang, palco da corrida inaugural. Na Sprint, Marc Márquez já tinha dado o seu recado, com uma vitória dominadora vindo da pole. Estreando na equipe oficial, Márquez teve a corrida sob controle e ainda viu seu irmão completar a dobradinha. Vinte e quatro horas depois, provavelmente para mostrar ao resto do pelotão que está com a moto na mão, Marc Márquez resolveu brincar um pouco e deixou seu irmão Alex liderar a corrida praticamente inteira, com a escusa de um problema na pressão do pneu dianteiro podendo causar uma punição à Marc, antes realizar a ultrapassagem decisiva e retomar a ponta para vencer em sua estreia oficial na equipe de fábrica da Ducati.
A corrida em Chang não foi das mais emocionantes, mesmo com Marc praticamente estendendo o tapete vermelho para Alex o ultrapassar. Era nítido que Marc Márquez tinha tudo sob controle. Marc Márquez entrou na equipe oficial da melhor moto disparada da MotoGP e mesmo tendo ao lado dos boxes um bicampeão mundial, o espanhol simplesmente dá a sensação de já ter colocado Bagnaia no bolso. O que o italiano não contava era a força de Alex Márquez. Totalmente eclipsado pelo irmão mais velho, Alex também deu seu recado na Sprint ao não apenas ficar em segundo na minicorrida, como ter ajudado como pôde Marc.
Pecco Bagnaia, que chegou a ultrapassar Alex na largada, mas errou ligeiramente antes de ser reultrapassado, se via às voltas com Franco Morbidelli, na quarta Ducati, que ultrapassara a sensação do final de semana, o novato Ai Ogura, que fez um ótimo final de semana e sendo o melhor piloto da Aprilia.
Quando faltavam três voltas, Marc acabou a brincadeira e ultrapassou o irmão sem maiores problemas e abriu, mostrando a todos quem era o dono do final de semana tailandês. Bagnaia esboçou um ataque, mas se conformou com o terceiro lugar, além de ter percebido que sua situação dentro da Lenovo Ducati será bastante delicada com Marc já se sentindo em casa e ainda tendo seu irmão como escudeiro, caso precise. A Ducati mostrou sua força ao ficar com quatro primeiras posições, deixando para as demais montadoras a sensação de deja-vù. Honda e Yamaha evoluíram, mas estiveram longe de brigar pelo pódio. Joan Mir fazia uma corrida interessante e, sem maiores surpresas, caiu. Era esperado que Fabio Quartararo fosse a ponta de lança da Yamaha, mas uma má largada do francês o relegou às últimas posições e foi Jack Miller a melhor Yamaha do dia. Pedro Acosta era a melhor KTM quando caiu, mostrando que falte ao talentoso espanhol uma melhor moto.
O final de semana carnavalesco se mostrou bastante revelador para a Indy e MotoGP. Em situações diferentes, as duas categorias veem dois espanhóis se mostrando talvez fortes demais para a concorrência.
A primeira vitória de Alex Palou em St Pete indica que o espanhol partiu forte rumo ao tetracampeonato. E Marc Márquez mostrou que aquele piloto dominador pré-Jerez/2020 pode estar de volta.
Abraços!
João Carlos Viana
1 Comments
J. C. Viana,
O Pietro Fittipaldi está na Indy em 2025?
Fernando Marques
Niterói RJ