Panda
Sempre que me perguntam se Rubinho, um dia, será campeão mundial ou então quando o Brasil terá outro campeão mundial de Fórmula 1, lembro da Lei dos Grandes Números.
Eu não saberia definir direito esta Lei mas sei que, contra ela, não se briga. É aquela Lei segundo a qual nenhum time pode ser campeão mais do que um certo número de vezes, que não se ganha na loteria duas vezes seguidas, que você não terá sorte nem azar para sempre.
Na Fórmula 1, a Lei dos Grandes Números aponta para o fato de que nenhum país – com uma única exceção – ter, até hoje, mais do que três campeões. Vejamos:
– Itália: Nino Farina e Alberto Ascari
– Argentina: Juan Manoel Fangio
– Austrália: Jack Brabham e Alan Jones
– Estados Unidos: Phill Hill e Mario Andretti
– Nova Zelândia: Dennis Hulme
– Áustria: Jochen Rindt e Niki Lauda
– Brasil: Emerson, Piquet e Senna
– África do Sul: Jody Scheckter
– Finlândia: Keke Rosberg e Mika Hakkinen
– França: Alain Prost e olha lá
– Alemanha: Michael Schumacher
– Canadá: Jacques Villeneuve.
Nossa exceção é a Inglaterra: eles tiveram oito campeões mas não se esqueça que os dois maiores – Jim Clark e Jackie Stewart – não eram ingleses; eram escoceses. Eles ficam com esta história de Inglaterra, Gales e Escócia serem uma coisa só mas na hora de disputar a Copa do Mundo mandam o time inglês e o escocês. Por que no automobilismo tem de ser diferente?
Ok. Mesmo descontando Clark e Stewart, os ingleses ainda têm seis campeões: Mike Hawthorn, Graham Hill, John Surtees, James Hunt, Nigel Mansell e Damon Hill.
Mas veja se não é o caso de dizer que a exceção confirma a regra. Em primeiro lugar, não é exagero dizer que entre um terço e metade dos pilotos de Fórmula 1 de 1950 para cá foram ou são ingleses. Em segundo lugar, destes seis, só um pode, sem favor nenhum aspirar à grandeza: Graham Hill, bicampeão de Fórmula 1, vencedor de Le Mans e Indianápolis, certamente um dos dez melhores de todos os tempos.
Hawthorn, Surtees e Hunt ganharam campeonatos meia boca, um pouco por sorte, um pouco por falta de adversários. Confesso minhas amplas simpatias pelo Damon Hill, o garoto normal que jogava futebol com a gente ou estudava na mesma classe e foi lá, peitou o Schumacher e ganhou um título, sem contar que perdeu outro por pura sujeira do alemão.
Resta o enigma Nigel Mansell. Campeaozão? Campeaozinho? Apenas um inglês atrapalhado, cabeçudo, que perdeu títulos até cansar e então, quando tudo parecia acabado, montou num foguete e ganhou um dos títulos mais fáceis da história da Fórmula 1?
O que quero dizer é que, fora os escoceses, a Inglaterra tem, na melhor das hipóteses, dois campeões por mérito, Ghaham Hill e Mansell, e quatro pilotos que ganharam o título porque estavam lá e ninguém mais se habilitou.
Voltando ao ponto inicial: Rubinho, Massa e outros jovens brasileiros aspirantes às glórias da Fórmula 1 não têm de se preocupar apenas em encontrar lugar numa boa equipe, cuidar da preparação física e da própria motivação. Eles precisam lutar contra os Grandes Números – e isso não é brincadeira.
Grande abraço
Eduardo Correa