Edu,
Diga sinceramente: você se surpreendeu com a decisão da Sauber de não renovar a opção por Felipe Massa? Eu não, em virtude das muitas pistas que nos foram dadas nas últimas semanas. O contrário é que seria surpreendente, tamanhas as evidências de que o ambiente entre o piloto brasileiro e seu patrão Peter Sauber está bastante deteriorado.
Como muitos colegas, acho que Massa está fazendo um bom trabalho em seu primeiro ano na F 1. O problema é que Peter Sauber provavelmente esperava mais. Aliás, acho que muitos esperavam mais. Massa teve um bom desempenho mas cometeu erros em muitos testes, treinos e corridas. Sofreu acidentes por pura afobação (pelo menos é o que se comentou no começo do ano) e desobedeceu às ordens da equipe em pelo menos uma oportunidade (o GP da Europa).
Pode-se argumentar que, se o relacionamento interno fosse melhor, poderia haver um pouco mais de paciência e compreensão por parte de Peter Sauber. Mas não há paciência que resista a acidentes, desobediência e relacionamento deteriorado. Nenhum dono de equipe gosta de ver sua autoridade ser contestada por um piloto – especialmente quando este piloto tem 21 anos e faz sua primeira temporada na F 1. O jogo é duro, mas já escrevi várias vezes que é assim. O fato de não concordarmos não muda rigorosamente nada lá dentro.
Há outro fator que deve ser considerado. Inevitavelmente, o trabalho de Massa seria comparado com o de Kimi Raikkonen, que estreou na F 1 pela Sauber no ano passado. Como você lembrou, Massa superou seu companheiro Nick Heidfeld em apenas três dos 13 treinos classificatórios realizados até o GP da Hungria. Em 2001, a disputa interna da Sauber estava bem mais equilibrada a esta altura do campeonato: Nick ganhava de Kimi por 7 a 6 (e finalizaria o ano na frente por 10 a 7). É discutível a validade deste dado para julgar o talento de Massa. Mas seria muita parcialidade ignorá-lo.
Confesso que não tive um bom pressentimento quando soube que a Auto Sprint havia feito no ano passado uma capa com a foto de Massa e a pergunta: “Será ele o novo Senna?”. Esse tipo de comparação me dá calafrios, pois já vi muitas expectativas semelhantes darem com os burros n’água. Durante muito tempo, imaginei que Massa não se abalou com a expectativa gerada por causa dessa capa. Hoje, tenho minhas dúvidas se não teria sido melhor a seus empresários comprar toda a tiragem daquela edição da Auto Sprint e mandá-la (junto com os fotolitos e provas de impressão) direto da gráfica para os fornos da Cosipa ou da CSN.
Não sei até que ponto Massa foi negativamente influenciado pela repercussão daquela inoportuna capa da Auto Sprint. Mas o fato é que criou-se (neste caso, sem que o piloto tivesse culpa) uma expectativa exagerada sobre seu desempenho. Torço sinceramente para que Massa contorne os ímpetos e anseios típicos de quem tem apenas 21 anos e consiga dar a volta por cima. Mas já fica uma dica aos leitores: se ele aceitar a oferta da Sauber para ser piloto de testes em 2003, poderemos dar adeus à expectativa de ver Massa brilhando na F 1. Seria um rebaixamento feito sob medida para “queimá-lo” na categoria.
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Massa passa a ser mais um brasileiro lutando por um lugar na Toyota. Além dele, já foram cotados para um lugar na equipe Cristiano da Matta, Antônio Pizzonia e Hélio Castro Neves. Se um deles conseguir essa vaga, já teremos bons motivos para comemorar. Pode ter certeza: a Toyota vai ter um ano muito melhor em 2003.
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No final de semana passado cobri os 500 Quilômetros de Interlagos para a revista da Porsche. Esta prova, poucos se lembram, já foi uma das mais relevantes do calendário brasileiro: nos anos 50 e 60, ela só ficava atrás da Mil Milhas em termos de importância e badalação. Era disputada tradicionalmente no dia 7 de setembro, integrando as festividades paulistanas do Dia da Pátria. Outra razão para sua importância: era a corrida mais veloz do Brasil, já que era disputada no anel externo do autódromo. O grid de largada era limitado a 33 carros e freqüentemente os treinos classificatórios eliminavam pelo menos uns 10 concorrentes.
Em meados dos anos 70, a corrida deixou de ser realizada por causa das cotas de combustível limitadas pelo governo para competições (um dia conto esta história a nossos leitores). De alguns anos para cá, um grupo de apaixonados vem tentando reerguer esta corrida, apesar da impossibilidade de usar o anel externo.
Pelo que vi domingo, muitas coisas ainda precisam melhorar. Mas dentro da pista havia bons carros e bons pilotos. A maior atração foi a disputa entre os quatro Porsche 911 inscritos (de duas equipes diferentes, uma das quais tinha Wilsinho Fittipaldi ao volante de um dos carros) e o Lister Storm que já havia corrido na Mil Milhas, em janeiro. O Lister, muito mais potente, deu um show de velocidade, mas no final acabou valendo o melhor conjunto do Porsche. A vitória ficou com um 911 GT3 pilotado por Paulo Bonifácio/Max Wilson. O Lister Storm terminou em 2º lugar, com Alcides Diniz e Beto Giorgi se revezando ao volante. O carro de Wilsinho chegou a andar em 4º, mas parou logo na segunda volta com um vazamento de água causado por uma pedra. O radiador foi trocado, mas depois o motor apresentou problemas e levou Wilsinho, Totó Porto e o inglês Piers Masarati ao abandono definitivo.
Abraços,
LAP